Brasileiros conhecem vítimas do trânsito, mas não sabem como melhorar segurança

Estudo faz parte de projeto que vai lutar por diminuição de limites de velocidades (Por Victor Bianchin, AB)
Brasileiros conhecem vítimas do trânsito, mas não sabem como melhorar segurança

Uma nova pesquisa realizada pelo Instituto Multiplicidade Mobilidade Urbana e revelada neste mês aponta que, embora os brasileiros concordem que o problema de mortes no trânsito seja grave, a maioria não acredita que a diminuição de velocidades e o redesenho de vias sejam medidas eficientes para enfrentar essa questão.

Quase 90% dos respondentes disseram que concordam ou concordam totalmente que o nível de mortalidade no trânsito é grande no Brasil e também que as mortes no trânsito são um problema urgente. No entanto, quando questionadas sobre as afirmações de que “Os veículos deveriam andar mais devagar para evitar mortes no trânsito” e “Velocidades limites mais baixas diminuiriam mortes no trânsito”, os índices de concordância ficam em torno de 50%.

“Aqui a gente percebe que as pessoas entendem que o problema é grave, mas elas ainda não conseguem entender que mexer na velocidade possa ter algum impacto nisso”, afirmou Glaucia Pereira, pesquisadora e especialista em mobilidade urbana, responsável pelo estudo.

Quando questionados diretamente sobre quais medidas poderiam reduzir as mortes no trânsito, os pesquisados responderam da seguinte forma: 

    – Mais atenção de todas as pessoas no trânsito (65%)
    – Mais punição aos crimes de trânsito (56%)
    – Mais respeito à velocidade máxima (48%)
    – Campanhas de educação (42%)
    – Mais fiscalização/radares (34%)
    – Maior rigor para ter a habilitação (23%)
    – Redução de velocidades (19%)
    – Redesenho das vias (11%)
    – Outros (1%)

Chama a atenção o fato de que a redução das velocidades e o redesenho das vias, que são as opções mais eficientes na experiência de algumas cidades do mundo, ficaram por último. Em outubro do ano passado, reportagem do Mobility Now mostrou como países como Espanha, Coreia do Sul, Austrália, Bélgica, Noruega, Holanda e outros baixaram seus limites de velocidade com o objetivo de diminuir a quantidade de mortes.

Ainda segundo o estudo do Instituto Multiplicidade Mobilidade Urbana, 82% dos respondentes conheciam alguém que morreu no trânsito, enquanto 19% perderam familiares no trânsito e 36% perderam amizades próximas por causa de sinistros. Entre 2019 e o período da pesquisa, 31% afirmaram terem se envolvido em alguma ocorrência no trânsito, sendo as mais frequentes a colisão traseira (14%) e a colisão lateral (11%).

Entre os respondentes, apenas 62% responderam corretamente sobre qual a função das placas de velocidade nas estradas, ou seja, que elas informam a velocidade máxima permitida. 28% entendem que se trata de um limite, mas associam sua desobediência apenas à aplicação de multas. Já 11% não sabem que as placas indicam a velocidade máxima permitida e acham que se trata apenas de uma sugestão ou de uma indicação de velocidade segura.

Projeto Vias Seguras

A divulgação dos resultados da pesquisa é parte de um projeto maior, chamado de Vias Seguras e lançado este mês pela UCB (União de Ciclistas do Brasil). O objetivo da iniciativa é aumentar a informação sobre os benefícios da redução de velocidades e alterar o Artigo 61 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que estabelece velocidades de até 80 km/h em vias urbanas.

O Brasil possui um dos índices mais altos de sinistros no mundo e mata mais de 30 mil pessoas por ano no trânsito. Ana Luiza Carboni, coordenadora do projeto Vias Seguras e diretora financeira da UCB, afirma que, se o atropelamento acontece a 30 km/h, há 10% de chance de o pedestre morrer. Se acontece a 50 km/h, há mais de 80% de chance de morte. “Pedestres e ciclistas são as principais vítimas dessa realidade. É urgente que o poder público tome iniciativas para proteger essas vidas. Trata-se de uma pauta de saúde pública”, afirma.

Além de divulgar a pesquisa, a UCB também está trabalhando em um parecer jurídico que tem o intuito de mobilizar atores-chave para a alteração da legislação atual sobre o tema. Esse parecer tem como foco a contradição existente entre o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU). Estas leis divergem entre si, já que o CTB aponta proteção aos vulneráveis, assim como na PNMU, porém regulamenta velocidades altas que ocasionam sinistros de trânsito fatais ou que deixam milhares de pessoas sequeladas, estabelecendo pontos de inconsistência jurídica. “A alteração na lei que pretendemos visa justamente preencher essa lacuna, deixando expresso na legislação federal velocidades máximas mais baixas nas vias urbanas”, aponta a coordenadora do projeto Vias Seguras.

É possível encontrar a pesquisa completa e também o parecer jurídico no site do projeto Vias Seguras.

Fonte: Automotive Business

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