Motocicletas ganham mais espaço na mobilidade urbana

Motocicletas ganham mais espaço na mobilidade urbana

Opções de financiamento, distanciamento social e aplicativos de delivery impulsionam busca o transporte sobre duas rodas (NATÁLIA SCARABOTTO, AB)

As motos estão cada vez mais presentes nas ruas e avenidas das grandes cidades brasileiras. A ascensão dos aplicativos de entrega, a economia combalida e a necessidade de distanciamento social durante a pandemia fizeram as duas rodas ganharam força como opção para quem quer fugir do transporte público ou decidiu trabalhar em serviços de delivery para garantir renda e acompanhar o aumento da demanda.

De acordo com dados da Abraciclo (associação que representa os fabricantes do segmento), o número de motociclistas no Brasil cresceu 54,2% de 2009 a 2019. No mesmo período, a frota aumentou de 15 milhões para 28 milhões de motocicletas nas ruas. Só em 2020, saltou 40% na cidade de São Paulo o número de pessoas que trabalham em motofrete, segundo o Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Moto-Taxistas do Estado de São Paulo (SindimotoSP).

Segundo o conselheiro da Abraciclo, Paulo Takeuchi, alguns fatores explicam a alta procura pelo veículo nos últimos anos: o aumento da concessão de crédito para financiamento, o custo de compra e manutenção, a busca por alternativa para fugir do transporte público e, mais recentemente, com a pandemia, a ascensão das motos nos aplicativos de entregas.

“Até 2018 vimos um decréscimo muito grande no setor por causa da redução da oferta de crédito, principalmente para a população de classe D e E. Nos últimos anos, aos poucos os bancos foram retomando a confiança e aumentando a disposição para financiar, permitindo que as pessoas pudessem comprar os veículos”, analisa o executivo.

Atualmente, são cerca de 80 mil financiamentos de motos em todo o país, com taxa de aprovação dos pedidos de crédito de 48%, segundo a Fenabrave.

IMPULSO PANDÊMICO
Com os apetite dos bancos para emprestar dinheiro em crescimento e a demanda por entregas em ascensão na pandemia, no primeiro semestre deste ano, a vendas de motocicletas evoluíram 47,7% em relação ao mesmo período de 2020. Foram vendidas mais de 517 mil unidades em todo o país – o melhor número para um semestre nos últimos seis anos, de acordo a Abraciclo.

Entre os modelos novos, as motos de 50 cilindradas são as mais procuradas no Mercado Livre. Uma pesquisa feita pela plataforma de e-commerce mostra que a intenção de compra desse modelo cresceu 317% no comparativo entre maio deste ano e o mesmo mês de 2020.

As versões de 150 cilindradas registraram um aumento de 107%, enquanto as motos mais potentes, de 190 e 200 cc, receberam 117% mais contatos interessados na aquisição. Já a busca por motos de 250 cc aumentou 94%.

Durante a pandemia, o delivery se tornou essencial para todos os tipos de compra, o que levou a mais motociclistas os aplicativos de entregas. O Rappi chegou a ter alta de 300% no número de solicitações de cadastros de entregadores no aplicativo. Em março deste ano, o Ifood atingiu 170 mil profissionais parceiros, número que cresce em torno de 30% ao mês.

“As pessoas com uma renda mais baixa viram na moto uma oportunidade de gerar renda por meio de entregas por aplicativos. Enquanto quem tem alto poder aquisitivo passou a adquirir motos de alta cilindrada ou scooters como um investimento em lazer e no transporte individual”, afirma Takeuchi.

ALTA PROCURA, BAIXA OFERTA
Se por um lado a pandemia fez crescer a procura por duas rodas, por outro impactou negativamente a produção. Em 2020 e nos primeiros meses de 2021, o Polo Industrial de Manaus, que concentra praticamente todas as fabricantes do país, paralisou toda a produção por meses por conta da crise sanitária no estado do Amazonas.

A Yamaha chegou a fechar a fábrica por 30 dias, enquanto a Honda, maior fabricante do país, estendeu o período de interrupção para dois meses. Já em 2021, outro desafio atrapalha o crescimento do segmento: a falta de componentes eletrônicos, os semicondutores, que estão escassos em toda a indústria automotiva.

Tudo isso provocou o surgimento de uma grande fila de espera nas concessionárias. Dependendo da cor e do modelo, o prazo de espera é de até 4 meses.

“Hoje a capacidade produtiva das fábricas e a demanda está mais ou menos adequada, mas ainda existe um descompasso por causa da pandemia, mas mês a mês as fábricas estão correndo atrás para dar conta da demanda”, afirma o conselheiro da Abraciclo, Paulo Takeuchi.

Ele diz que o maior desafio da indústria atualmente é aumentar a eficiência produtiva, respeitando as restrições sanitárias e driblando a escassez de componentes para suprir a demanda. Segundo o executivo, uma opção seria elevar as horas de atividade nas fábricas, mas há grande insegurança das empresas em ampliar o quadro de funcionários sem que a alta demanda dos produtos se mantenha por um largo período.

Ele aponta que o cenário deve melhorar a partir do segundo semestre de 2021, ainda que com grandes desafios. “Estamos otimistas, mas é difícil fazer um planejamento a médio prazo e os investimentos necessários porque temos desafios muito evidentes no contexto brasileiro atual com a pandemia, ameaça de abertura comercial, reformas tributárias e administrativas”, explica o executivo.

ELETRIFICAÇÃO GANHA ESPAÇO
Assim como no universo das quatro rodas, as versões eletrificadas têm conquistado espaço entre os consumidores de motocicletas. Segundo o levantamento do Mercado Livre, o volume de contatos para a aquisição desses modelos cresceu 1.198% no comparativo entre maio de 2021 e o mesmo período do ano anterior. Os modelos mais buscados são motos da Voltz, Shineray e Aima.

Apostando na popularização da tecnologia, recentemente a Voltz anunciou a instalação da primeira fábrica de motos elétricas, no Polo Industrial de Manaus. Com investimento inicial de R$ 10 milhões, a operação deve começar neste ano e a capacidade de inicial será de 15 mil unidades por mês. A promessa é de que a unidade abrigue toda fabricação das motos, além de produção de peças como pedais, retrovisores, pastilhas, discos de freios.

Os modelos elétricos da Voltz também vão integrar a frota do Ifood. O aplicativo de delivery para restaurantes está testando entregas com 30 motos elétricas, mas o objetivo é expandir para 10 mil unidades em um ano. O modelo tem duas baterias o que garante autonomia de 240 km.

De olho na sustentabilidade a BMW é outra fabricante que pretende plugar suas motos na tomada: a empresa anunciou que, em cinco anos, todos os seus modelos serão elétricos. No próximo ano, a marca começa a produzir globalmente sua primeira scooter elétrica, com 130 km de autonomia e recarga completa em quatro horas, mas o preço ainda longe de atender os anseios massivos das grandes cidades, estimado em US$ 16 mil.

Fonte: Automotive Business

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