Por Daniel Tozzi Mendes (Broadcast),Gabriela Jucá (Broadcast) e Marianna Gualter (Broadcast)
O mercado ajustou a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024, de 2,1% para 2,2% (mediana), após a divulgação nesta terça-feira, 4, do resultado do primeiro trimestre, quando a economia expandiu 0,8%. A mediana em 2,2% já havia sido atingida em pesquisa realizada no último dia 15, após divulgação do IBC-Br, a “prévia do PIB” do Banco Central, de março.
A estimativa intermediária para o crescimento do PIB do segundo trimestre de 2024 permaneceu em 0,5%. As medianas também indicam crescimento de 0,5% tanto no terceiro quanto no quarto trimestre.
Uma alta de 0,5% do PIB do segundo trimestre, em um cenário sem revisões dos resultados anteriores, geraria um carrego estatístico positivo de 1,4% para o PIB de 2024.
A expansão de 0,8% do PIB do primeiro trimestre, após desempenho ao redor de zero no segundo semestre do ano passado, confirmou o diagnóstico de reaquecimento da atividade doméstica, puxado pelo consumo das famílias.
O resultado do primeiro trimestre deixou um carrego positivo de 1,0% para o ano. Instituições como Santander Brasil, BNP Paribas e Bradesco reforçaram as suas projeções de crescimento do PIB de 2024, de 2%, 2,2% e 2,3%, respectivamente. O Goldman Sachs aumentou a estimativa de 1,9% para 2,1%.
“A atividade real recuperou durante o primeiro trimestre, impulsionada pela demanda interna”, escreveu, em relatório, o diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman, Alberto Ramos. Ele espera que o crescimento à frente seja sustentado, entre outros pontos, pela continuidade dos estímulos fiscais, aumento do salário mínimo e ganho real de renda das famílias.
A G5 Partners está entre as instituições que manteve inalterada a expectativa de crescimento da economia em 2024. A casa espera expansão de 2,1% para o PIB do ano, mas o economista-chefe, Luís Otávio de Sousa Leal, ressalta que, não fossem os efeitos negativos das enchentes do Rio Grande do Sul, a estimativa para o crescimento em 2024 estaria entre 2,4% e 2,5%. “A confirmação desse resultado positivo no primeiro trimestre, de certa forma, compensa os efeitos negativos das enchentes”, afirma.
Leal destaca que o PIB do primeiro trimestre mostrou uma absorção da demanda interna “muito boa”, com destaque para o PIB de serviços, que cresceu 1,4% na margem. “Se você olhar só o comércio, a alta foi de 3%. Não víamos um desempenho assim desde a retomada na pandemia, no quarto trimestre de 2020″, ele diz.
Para o segundo trimestre, porém, a projeção da G5 é de desaceleração no ritmo de crescimento para ao redor de zero, justamente pelo efeito baixista do Rio Grande do Sul. “Mesmo que o resto do País continue rodando normalmente, a situação do Estado vai acabar afetando”, diz Leal. A expectativa, no entanto, é de recuperação das perdas, sobretudo no último trimestre, quando ele espera alta acima de 1% para o PIB.
A projeção do Banco ABC Brasil é de crescimento de 2,2% para o PIB do ano, expectativa que também não foi alterada após a divulgação do primeiro trimestre, segundo o economista-chefe da casa, Daniel Xavier. Ele atrela o desempenho positivo aos efeitos das transferências fiscais do governo no período, com destaque para o pagamento de precatórios, em um cenário de inflação e juros em queda e mercado de trabalho aquecido.
Xavier atenta, porém, que a perspectiva para o PIB do ano pode sofrer alterações, sobretudo pelo lado da oferta, a depender dos impactos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a economia. O cenário do ABC inclui, por exemplo, uma queda de 1,9% no PIB da agropecuária no ano, mas que pode ser ainda maior, segundo Xavier, à medida que o efeito de perdas como a da safra de arroz do Estado forem incorporados ao cenário.
Na avaliação do economista, os efeitos negativos das enchentes devem se concentrar no segundo trimestre, período para o qual Xavier revisou recentemente a projeção, de alta de 0,8% para expansão de 0,4%.
A perspectiva menos positiva para a próxima divulgação do PIB, detalha o economista, está amparada nas recentes reduções de índices de confiança e de PMI do Brasil. “São bons antecedentes para observar quando temos eventos como o do Rio Grande do Sul. Indicam que o tom será de perda de fôlego”, afirma.
Fonte: Estadão