Euro 6 faz fabricantes de motores correrem contra o tempo
Pandemia atrasou o desenvolvimento do sistema que vai atender ao nivel de emissões do Proconve P8 em janeiro (Bruno de Oliveira, AB)
A norma de emissões Proconve P8, que representa a estreia dos motores do tipo Euro 6 nos modelos de caminhões e ônibus produzidos aqui, entrará em vigor em pouco menos de três meses para novos projetos – e 2023 para todos os veículos vendidos no País. A proximidade da data movimenta os departamentos de engenharia das montadoras e fabricantes independentes, que correm para atender à legislação em meio aos desafios impostos pela pandemia no processo de desenvolvimento.
No ano passado a indústria se movimentou para postergar as datas estipuladas para a vigência da P8, dado o momento crítico que as fábricas viviam com produção parada e distanciamento social. O pleito, no entanto, não avançou e foi necessário travar uma espécie de corrida contra o tempo para realizar testes e validações de sistemas de pós-tratamento que deverão integrar os motores de veículos pesados no futuro.
No caso da Volvo, a empresa calcula que perdeu mais de três meses de desenvolvimento por causa da pandemia e a saída encontrada para recuperar o tempo perdido foi apostar nas horas extras. “Tivemos de adaptar o cronograma como nunca fizemos antes. Estamos trabalhando em horários alternativos, em dias alternativos, como feriados, para adiantar os projetos”, contou Alexandre Parker, diretor de assuntos corporativos.
De acordo com o executivo, afora a questão do trabalho em campo, que sofreu modificações por causa da pandemia – como, por exemplo, escalonamento de engenheiros e técnicos dentro dos laboratórios –, a montadora teve de realizar testes em seus veículos localmente, algo que, em princípio, estava programado para ser feito no Exterior.
Há possibilidade de atrasos
Apesar de toda a movimentação para cumprir os prazos estabelecidos pela nova legislação de emissões, os executivos reconhecem a possibilidade de atrasos. “Paramos o projeto em abril no ano passado e retomamos em setembro, com a esperança do governo postergar. Hoje, posso afirmar que faremos o roll-out do Euro 6 ao longo do primeiro semestre de 2023”, disse Spinelli, da Mercedes-Benz.
Vale lembrar que a norma P8 vai entrar em vigor para as homologações de novos modelos de veículos em 1º de janeiro de 2022, e para todas as vendas de novos veículos e registros em 1º de janeiro de 2023.
No caso da Volvo, disse Alexandre Parker, a montadora considera o risco de que determinada especificação possa não estar disponível em 2023, ainda que várias ações mitigatórias estejam sendo feitas para que a empresa cumpra com as datas-limite. “Estamos fazendo de forma paralela o projeto da manufatura desses motores na fábrica de Curitiba”, contou.
A Volkswagen Caminhões e Ônibus, por sua vez, afirmou por meio de nota que está “trabalhando arduamente no desenvolvimento para atender os prazos legais”. E ressaltou, ainda, que “todos os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento no Brasil foram prejudicados pelas medidas sanitárias exigidas pela pandemia, bem como impactos globais em paradas de fornecedores de engenharia e de componentes em todo o mundo”.
Já a Scania chega com certa vantagem considerando que a fábrica de São Bernardo do Campo (SP) é uma plataforma exportadora – ou seja, a produção realizada nas linhas do ABC Paulista, uma vez alinhadas com as demandas de exportação, já está apta para produzir os propulsores Euro 6 que exporta, mas é necessário adaptar a tecnologia para atender à legislação brasileira. Fora isso, a empresa já vende no País modelos de veículos a gás que já atendem às demandas da P8.
Procurada pela reportagem, a DAF, que mantém produção de caminhões em Ponta Grossa (PR), não se manifestou sobre o status do desenvolvimento do seu sistema Euro 6 até o fechamento desta matéria.
Fabricantes correm contra o tempo
No universo das fabricantes independentes de motores, o cenário também é de pressa em atender os prazos. A Cummins já decidiu qual modelo de motor Euro 6 vai nacionalizar, falta agora o desenvolvimento junto aos fornecedores.
O equipamento citado é o sistema de pós-tratamento Euro VI Single Module, que seria, segundo a fabricante, 60% menor e 40% mais leve quando comparado aos sistemas que atendem ao mesmo nível de emissões. É composto por quatro módulos: Catalisador de Oxidação de Partículas (DOC), Filtro de Particulado Derivado do Diesel (DPF), Misturador de Gases e Partículas (Mixer) e o Catalisador de Redução de NOx (SCR).
A MWM, que produz motores em São Paulo (SP), afirma que a pandemia atrasou o seu cronograma inicial de motor Euro 6 de 12 a 18 meses. “Mantivemos as atividades remotas, como aquelas relativas a projetos e simulações, mas houve grande dificuldade em prosseguir com as atividades que dependiam de uso de laboratórios de motores e validações veiculares, principalmente em outros mercados ou regiões”, disse Cristian Malevic, diretor da unidade de motores.
O executivo relatou desafio similar ao da Volvo em termos de testes do exterior: “Enfrentamos a impossibilidade de desenvolvimento dos motores e pós-tratamento em condições reais de operação, principalmente em testes envolvendo temperaturas, altitudes e ciclo de operação regular nas rotas de nossos clientes. Nossos engenheiros ficaram impossibilitados de viajar, inviabilizando o cumprimento de partes fundamentais do cronograma de atividades”.
A FPT, que pertence ao Iveco Group e produz motores para as marcas de veículos subsidiárias como a Iveco, por ora está preparando as linhas de Sete Lagoas (MG) para produzir propulsores Euro 6: “Ainda não começamos a produção em escala, está no nível de protótipo. Estamos fazendo as adequações necessárias na linha para passar a produzir já como produto de série”. A FPT já produz e aplica motores com este sistema de pós-tratamento na Europa.
Fonte: Automotive Business