Encarecimento do dinheiro causa estrago social e diminui ânimo de investimento das empresas

No mercado automotivo, a origem da inflação vem da escassez de produtos e insumos, evidenciada pela crise dos semicondutores (Por Lucas Torres jornalismo@novomeio.com.br)
Encarecimento do dinheiro causa estrago social e diminui ânimo de investimento das empresas

Inflação para o consumidor em 11,73% e taxa de juros na casa dos 13,25% ao ano. Dois dados que revelam um aumento significativo do preço do dinheiro e – em uma relação diretamente proporcional – a diminuição do poder de compra do brasileiro. Usados para exemplificar o cenário econômico de maneira geral, estes índices podem se agravar ainda mais quando colocados ao lado de segmentos em que a relação dinheiro/consumo é ainda pior – caso dos combustíveis automotivos, cuja alta ultrapassa a margem dos 22% no recorte do 1º semestre de 2022. A magnitude das dificuldades da conjuntura econômica somada à persistência do cenário tem sido suficiente para levantar questionamentos de economistas quanto à efetividade da política de controle inflacionário. Afinal, embora a Selic tenha escalado 9% no último ano corrido, o IPCA ainda não deu sinais significativos de desaceleração, crescendo acima dos 0,8% ao mês em 10 dos últimos 12 meses.

Para o economista e cofundador da Dootax, Yvon Gaillard, este questionamento faz total sentido, dado o fato de que, segundo ele, a inflação atual possui origem diversa daquelas contra as quais o Brasil utilizou o encarecimento do crédito como medicamento. “Está sendo usado um remédio antigo para um problema novo. Digo isso porque os últimos choques inflacionários que tivemos tinham origem na alta da demanda, enquanto este – de maneira praticamente inédita – tem como ponto inicial uma crise de oferta”, analisou o executivo da empresa focada em simplificação tributária.

No mercado automotivo, por exemplo, o fato da origem da inflação vir da escassez de produtos e insumos é evidenciado atualmente pela ainda persistente crise dos semicondutores, bem como pela não tão longínqua escassez de matérias-primas como o aço.

Segundo o especialista, além de não surtir o efeito esperado, tratar o boom da inflação a partir da diminuição do poder de compra de consumidores – com o mecanismo do aumento da taxa de juros – tende a piorar um quadro que já vinha se desenhando como dramático durante os momentos mais graves da pandemia da covid-19. “O aumento da taxa de juros tira poder de compra de uma população que já estava muito impactada pela pandemia. Com este novo golpe, que afeta diretamente o acesso ao crédito, essas pessoas acabam por ter de renunciar ao consumo, incluindo itens básicos como os alimentos, algo que fica muito claro quando observamos que o Brasil voltou a passar a marca dos 20 milhões de pessoas em situação de fome”, colocou Gaillard

Mercado de tecnologia é o primeiro a acusar o impacto negativo da conjuntura nos negócios

Na última edição do Novo Varejo, a diretora de branding awareness da HiPartners Capital & Work, Flávia Pini, alertou para o aspecto artificial do surpreendente momento positivo do varejo ante as dificuldades da conjuntura econômica do país. Isso porque, segundo ela, boa parte desses bons resultados tem origem no aumento do endividamento do consumidor, algo que cobrará seu custo a partir do 2º semestre do ano. Antes de verificar a maneira como essa previsão se apresentará na prática nos próximos meses, porém, o mundo corporativo em geral já pode observar os efeitos preocupantes do cenário em determinados setores.

De acordo com o economista Yvon Gaillard, um dos primeiros setores a acusar o golpe do encarecimento do dinheiro tem sido o de tecnologia e startups. Nos últimos meses, recordistas em investimentos como LivUp, Faclity, Quinto Andar, Loft, Vtex e Mercado Bitcoin têm tido suas demissões em massa divulgadas pela imprensa especializada e até mesmo por seus funcionários em plataformas como o Linkedin, algo que, segundo o cofundador da Dootax, é fruto de uma preocupação que se volta muito mais para o curto do que para o longo prazo. “Essas empresas estão tendo um cuidado muito maior na hora de investir. A maior parte delas está adotando uma mentalidade cautelosa e colocando a rentabilidade em primeiro plano. Este é um ponto em que a taxa de juros tem sido muito nociva para a economia, o fato de encarecer muito o custo do investimento”, apontou Gaillard.

Questionado sobre a possibilidade dessa situação se alastrar pelo comportamento do empresariado de outros segmentos, criando um ciclo de estagnação que poderia levar a uma recessão, o executivo da Dootax deixou de lado o chapéu de economista teórico e vestiu o de empreendedor para dizer que, sim, a tendência é que a grande maioria dos gestores e empresários passe a adotar uma postura conservadora. “Em geral, o empresário tende a ser extremamente conservador e tem aversão ao risco em momentos de turbulência. Em um momento como este, a maior parte de nós adota uma posição mais defensiva”.

Fonte: Novo Varejo

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