Como os grandes carros morrem

Vários argumentos explicam o fim de modelos que fizeram história no Brasil, mas a razão verdadeira é uma só (Artigo Zeca Chaves)
Como os grandes carros morrem

O que aconteceu com 2021 para vermos tantos carros célebres se despedindo do mercado brasileiro ao mesmo tempo? Estamos falando de modelos como Fiat Uno, Doblò, Grand Siena, Honda Fit ou VW Fox. E ainda há o Gol, que não morreu no ano que passou, mas deve ter o mesmo fim em 2023.

Não pense que se trata de uma coincidência. O culpado dessa matança generalizada atende pelo nome de Proconve L7, a nova fase do programa brasileiro antipoluição. 

Ela entrou em vigor em 1º de janeiro deste ano, com níveis mais rigorosos de emissões. Com isso, todos os veículos que não conseguiam atender aos limites impostos pela legislação tiveram que sair de linha no Brasil.

Vale lembrar que essa não foi a primeira vez que uma legislação eliminou das lojas vários carros com uma só tacada. Vimos algo semelhante em janeiro de 2014, quando a obrigatoriedade de freios ABS e airbag duplo deram um adeus ao Fiat Mille e à velha Kombi.

Uma nova onda de motores modernos

Mas será que não daria para colocar os dois equipamentos para manter os dois clássicos à venda? Infelizmente na prática a coisa não é tão simples assim. Ambos precisariam ser reprojetados para receber os tais dispositivos de segurança e, diante disso, o custo final não compensaria para a fábrica.  

O mesmo está ocorrendo agora. Foi por isso que vimos diversas montadoras lançando ao longo de 2021 novas versões de motores, mais eficientes e, portanto, menos poluentes. 

Então por que não fazer o mesmo o Uno ou o Fox, por exemplo? A verdade é que novas legislações ambientais ou de segurança não matam um carro. No final das contas, é outra lei que é a responsável por enterrar de vez um automóvel: a lei do mercado. 

Quando as vendas não vão bem, financeiramente não vale a pena para uma montadora fazer as mudanças necessárias para desenvolver um novo projeto de motor.

Vejamos o caso do Jeep Renegade. Desde que ele nasceu, em 2015, o SUV manteve o motor 1.8 que era reconhecido por seus compradores como fraco e gastão para seu segmento. 

O sucesso nas vendas define tudo

Enquanto ele vendeu bem, a fábrica nem pensou em tirar esse motor de linha, já que o público comprava mesmo assim. Bastou chegar a nova lei de emissões para o fabricante se mexer e correr para adequar o carro à lei. Foi só por isso que ela trocou o antigo motor aspirado de 139 cv pelo novo 1.3 turbo de 185 cv.

É uma situação bem diferente dos extintos modelos da Fiat – marca que, assim como a Jeep, também pertence ao grupo Stellantis. O Renegade é o quarto modelo mais vendido no Brasil, enquanto o Uno está na distante 30ª posição, no acumulado até novembro de 2021. 

A próxima vítima da fúria modernizadora da nossa legislação será o nosso querido e brasileiríssimo Gol. Ele não morre agora, mas a Volkswagen já confirmou que o hatch não vai longe.

A partir de 2024, passa a ser obrigatório o controle de estabilidade, luzes de uso diurno e aviso de não afivelamento do cinto de segurança, além de entrar em vigor uma nova exigência de proteção contra colisões laterais. São mudanças caras demais para um modelo que já não é o campeão de vendas que foi no passado. 

Polo Track no lugar do Gol

No entanto, como ele ainda é um dos modelos mais comercializados da VW, ao lado do T-Cross, a montadora já anunciou que lançará em 2023 seu sucessor como novo carro de entrada.

O Polo Track será uma versão com uma pegada mais SUV, que o mercado tanto aprecia, além de ser produzido sobre a moderna plataforma MQB, mais atualizada com as novas tecnologias da indústria, ao contrário da defasada PQ24 do Gol.

Porém precisamos lembrar que o nome Gol é forte demais no nosso mercado, o que pode indicar seu retorno em breve, mas com outra lógica mercadológica. 

Segundo o site Autos Segredos, um novo modelo (chamado internamente de Projeto VW 246) será produzido sobre a base MQB para ser lançado a partir de 2024 como um SUV compacto com motor 1.0 Turbo 200 TSI e câmbio automático. 

Ou seja, o nome fica, mas o propósito muda. É aguardar para ver como o consumidor vai reagir.

*Este texto traz a opinião do autor e não reflete, necessariamente, o posicionamento editorial de Automotive Business 


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Consultor do mercado automobilístico e jornalista especializado na área há 27 anos, Zeca Chaves é editor digital do portal Automotive Business e colunista de vários sites sobre carros; foi editor do caderno Veículos da Folha de S.Paulo e trabalhou por 19 anos na revista Quatro Rodas, onde foi redator-chefe

Fonte: Automotive Business

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