Como é a vida de quem tem um carro elétrico no Brasil

Dono de Peugeot e-208 GT quis fugir da gasolina cara e se diz "muito feliz" com seu hatch (Por Vitor Matsubara)
Como é a vida de quem tem um carro elétrico no Brasil
Encontrar pontos de recarga em cidades menores é desafio grande para quem tem carro elétrico

O carro elétrico está longe de dominar as ruas, mas devagar deixa de ser raridade no Brasil. Embora os preços ainda sejam muito altos (o modelo mais barato hoje parte de R$ 160 mil), a frota de veículos 100% elétricos está crescendo a cada ano.

Dados divulgados pela ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) apontaram que, do recorde de 34.990 veículos eletrificados emplacados em 2021, 2.851 deles foram de modelos BEVs, ou seja, movidos a bateria. Mesmo sendo um volume pequeno, esse mercado teve um aumento de 256% em relação a 2020, quando 801 unidades haviam sido licenciadas.

Apesar do preço ainda salgado desses modelos no Brasil, alguns motivos levam mais pessoas a optar por veículos elétricos, como a conscientização ambiental, o desejo por experimentar novas tecnologias e, claro, o preço dos combustíveis no país. “O brasileiro está claramente optando pelo veículo elétrico limpo, silencioso e sustentável”, declarou Adalberto Maluf, presidente da ABVE.

Mas como é a vida de um dono de veículo elétrico? Nós conversamos com o proprietário de um deles, que nos contou as virtudes e desvantagens de andar sem emitir poluentes.

Gasolina cara motivou compra de elétrico

Versão elétrica do 208 desembarcou no Brasil em setembro de 2021

Cláudio de Camargo decidiu trocar seu 208 pelo recém-lançado e-208 GT. Segundo o morador da capital paulista, a compra de um carro elétrico já estava nos planos, mas os sucessivos reajustes realizados no etanol e na gasolina sacramentaram a decisão.

“Eu já vinha pensando nisso (adquirir um veículo elétrico) há um ano e o aumento constante nos preços dos combustíveis me fez tomar a decisão definitiva. Ficou inviável (ter um carro a combustão) depois que o litro de gasolina passou de R$ 6.”, afirma.

A compra também foi motivada pelo uso que Cláudio faz do carro. O comissário de bordo não usa o e-208 GT para fazer viagens mais longas, já que trabalha em uma companhia aérea. Seu trajeto diário não tem mais do que 20 km e esporadicamente ele precisa dirigir até Campinas, cidade que fica a menos de 100 km da capital paulista. Por causa de tudo isso, ele diz que o hatch atende suas necessidades.

“Eu viajo de avião porque não preciso pagar pela passagem. Então a minha necessidade é realmente urbana e o carro elétrico é mais vantajoso do que o veículo a combustão na cidade. Até porque eu acredito que, na estrada, ele gasta muito mais do que na cidade, o que é exatamente o oposto do que acontece em um veículo a combustão”.

Mais ecológico, mais sofisticado e… mais caro

Embora sejam bem parecidos no visual, os dois 208 são bem diferentes entre si. Enquanto o 208 movido a combustão tem um motor 1.6 16V flex de até 118 cv, o e-208 GT traz um propulsor de 136 cv com torque instantâneo de 27 kgfm.

O modelo elétrico também conta com alguns itens de série a mais em relação ao restante da gama e o acabamento é de melhor qualidade, já que o e-208 GT é feito na Europa – e, portanto, segue o padrão de construção do projeto francês.

Todas essas diferenças são sentidas na hora de assinar o cheque. Se o 208 Griffe sai por R$ 107.990 (segundo a tabela de preços praticada em fevereiro de 2022), o e-208 GT custa R$ 269.990. Ou seja, uma diferença de quase R$ 160 mil ou impressionantes 150% a mais.

“É verdade que paguei mais caro pelo carro elétrico, mas existe uma diferença de consumo a longo prazo. Calculei que gasto 45 kWh para carregar a bateria de 0 a 100%. Ainda que haja uma diferença de R$ 60 na conta de luz, você nunca conseguirá rodar a mesma quilometragem da autonomia de um veículo elétrico com um carro movido a etanol ou gasolina”, aponta Cláudio.

Perrengues fazem parte?

Além disso, antes de investir na tecnologia, o comissário de voo também se informou sobre a infraestrutura de pontos de recarga, tanto em São Paulo quanto nas cidades próximas à capital paulista.

“Eu pesquisei e vi que existem pontos de carregamento no Aeroporto de Viracopos, que é onde minha empresa fica baseada. Sei também que a Estapar oferece estações em alguns estacionamentos, e existem pontos em Campinas e na (Rodovia dos) Bandeirantes, que é uma estação de recarga extra rápida. A infraestrutura em São Paulo não é ruim. A situação é mais precária em algumas regiões do litoral”.

Por ter sido um dos primeiros clientes a adquirir o modelo, Cláudio ainda recebeu um carregador do tipo wallbox da Weg para instalar em sua residência. Mesmo assim, ele chega a ficar vários dias sem reabastecer as baterias.

Desde quando pegou o veículo, no começo do ano, ele já rodou mais de 900 km e se diz muito satisfeito com o e-208 GT. Mas isso não significa que ele não tenha passado por alguns perrengues.

“Até agora fiz só duas recargas completas e nunca passei por nenhum tipo de apuro. Uso o carro até a autonomia se aproximar da reserva antes de recarregá-lo. Tanto é que, na última vez, até pensei que ia ficar a pé porque saí de casa com uma autonomia de 20 km. No fim das contas deu certo e cheguei no meu destino com autonomia de 12 km. Aí eu coloquei o carro para carregar (risos)”. É a ansiedade em relação à duração da bateria, que acompanha até os mais felizes proprietários de carros elétricos.

Fonte: Automotive Business

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