Carro elétrico vai matar segmento de SUVs, diz CEO da Citroën

Vincent Cobée crê que segmento já está encolhendo por incompatibilidade com proposta de eletrificação (Por Vitor Matsubara)
Carro elétrico vai matar segmento de SUVs, diz CEO da Citroën
Cobée diz que aerodinâmica e até reputação dos SUVs podem extinguir a categoria

O carro elétrico vai acabar com o segmento de SUVs. É o que acredita o CEO da Citroën, Vincent Cobée, admitindo, porém, que “os números não estão me dando razão” no momento.

Importante lembrar que, na Europa, os SUVs respondem por metade do volume de emplacamentos de veículos novos no continente nos últimos anos. De toda maneira, Cobée acredita que as características deste tipo de veículo são incompatíveis com as propostas de eletrificação que a indústria automotiva adotará nas próximas décadas.

O executivo foi além em seu discurso ao dizer que esse fenômeno já está acontecendo na indústria. Vincent justificou seu ponto de vista ao destacar que vários modelos com características de hatches e sedãs “são chamados de SUVs só porque são um pouco mais altos”.

Ironicamente, a declaração foi feita ao site Auto Express durante a apresentação de um crossover – no caso, um modelo com características de vários segmentos, inclusive de um… SUV. O veículo em questão é o e-C4 X, que será lançado na Europa ainda no primeiro semestre de 2023.

Aerodinâmica e peso serão determinantes para o fim dos SUVs

CEO da Citroën diz que modelos como o e-C4X mostram que fim dos SUVs está próximo

Apesar de aparentemente contraditório, o discurso de Cobée tem embasamento. Um dos pontos importantes apontados pelo executivo está na aerodinâmica.

“Se a aerodinâmica é ruim em um veículo elétrico, você acaba sendo duramente penalizado na autonomia. Você pode perder 50 quilômetros de alcance entre uma aerodinâmica boa e outra ruim e, no caso de um SUV e um sedã, estamos facilmente falando de 60 a 80 quilômetros”, disse.

A solução atual é aumentar o tamanho das baterias, algo que várias fabricantes vêm realizando em projetos recentes. Cobée aponta que nem sempre isso será viável. “As pessoas vão começar a limitar o peso e o tamanho das baterias, seja por causa de impostos, incentivos, regras ou até mesmo por vergonha”. 

A França, por exemplo, está prestes a aprovar a taxação de veículos por peso. “O segmento A (de veículos subcompactos) foi extinto por causa das leis, e o segmento D (de SUVs) será morto por causa de aerodinâmica e peso”, ponderou Cobée.

Pensando no necessário

O CEO da Citroën fez outras observações interessantes para defender seu discurso.

“Se você vive em uma grande cidade, quem deixava os filhos na escola com um SUV grande era visto com admiração cinco anos atrás. Hoje, quem faz isso é visto como um ‘terrorista’…”, declarou, em alusão à mudança na percepção das pessoas diante do agravamento da situação do meio-ambiente.

O executivo também criticou o ganho de peso nos veículos elétricos. “Nos anos 70, um carro pesava 700 quilos. Hoje, um veículo pesa, em média, 1.300 kg. Amanhã esse número subirá para duas toneladas. Então estaremos usando três vezes mais recursos para entregar o mesmo serviço, só para sermos mais ‘verdes'”.

Para ilustrar o problema de dirigir um carro com uma bateria de grande capacidade, Cobée fez uma comparação com utilizar uma mochila gigante de alpinismo apenas para ir ao trabalho.

“Você vai trabalhar com essa mochila? A resposta é não. Então porque você precisa ir ao trabalho com uma tonelada de bateria em seu carro?”, apontando que a solução ideal seria investir em facilidades para recarregar as baterias do carro elétrico. A própria Citroën está trabalhando neste sentido ao fornecer ferramentas para planejamento de rotas e até empréstimos de curta duração de veículos movidos a combustão para quem possui um carro elético da marca. Esta última comodidade já está acontecendo na França e logo deve ser expandida para outros mercados.

Aposta em carros elétricos menores

Conceito Oli indica caminho da Citroën nos carros elétricos

Embora esteja efetivamente envolvida no segmento de carros elétricos, a Citroën está caminhando para um rumo diferente em relação à maioria dos concorrentes. Além de oferecer baterias menores (com até 50 kWh de capacidade), a empresa deu indícios de qual será sua filosofia de futuro com o conceito Oli, equipado com uma bateria de apenas 40 kWh que proporciona uma ótima autonomia de até 400 quilômetros por conta do baixo peso.

Cobée não nega que existe um risco em se afastar do tipo de veículo que os consumidores desejam neste momento, mas sugere que uma eventual correção de trajetória pode ser ainda pior.

“Se nós continuarmos na ‘caixa dos SUVs’ até 2030 e descobrir que não existe mais cliente para este tipo de veículo, será um golpe muito duro. Você não vai querer ser o último a ir embora da festa”, concluiu.

Fonte: Automotive Business

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