Automechanika Buenos Aires reflete confiança do segmento na Argentina

Mais de 600 marcas de 18 países, incluindo o Brasil, estão presentes na feira voltada para o segmento de autopeças
Automechanika Buenos Aires reflete confiança do segmento na Argentina
Automechanika Buenos Aires ocorre em momento crucial e delicado da economia e da política argentinas (Foto: Marcus Celestino)

Por Marcus Celestino

A Automechanika Buenos Aires 2024 é o reflexo da lufada de ar fresco, goste ou não, da administração Javier Milei na Argentina. Há a esperança de que os nossos vizinhos, com uma política econômica mais liberal e uma postura fiscal mais austera, voltem a ser parceiros comerciais que honrem seus contratos.

Não à toa, a Automechanika Buenos Aires 2024, que ocorre no La Rural Trade Center até o dia 13, tem 344 expositores de 650 marcas. Além das empresas locais, há representantes de outros 17 países. Vale ressaltar que Turquia, China e o Brasil têm pavilhões exclusivos na feira.


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Segundo a Messe Frankfurt Argentina, organizadora do evento, houve crescimento de 24% no número de expositores e de 21% no espaço ocupado com relação a última edição, realizada em 2022. Vale, contudo, frisar que, além das questões econômicas, a pandemia ainda assombrava o mundo àquela época.

Brasil em peso na Automechanika Buenos Aires

Ainda de acordo com os organizadores, a Automechanika Buenos Aires é de suma importância para os países latino-americanos.

“Com o novo governo e uma economia mais aberta, o mundo passa a falar mais da Argentina e isso faz com que tenhamos inúmeras oportunidades comerciais”, frisa Fabián Natalini, gerente de projetos da Messe Frankfurt. “É, por isso, uma plataforma de negócios para a América Hispânica”, completa.

“Todo mundo está apostando em um crescimento desse segmento. A indústria de autopeças está esperançosa”, adiciona Alexandra Pacheco, diretora internacional de vendas da Messe Frankfurt. A executiva também faz questão de frisar que, embora a Automechanika Buenos Aires mire no gentílico hispano-americano, os brasileiros têm participação fundamental.

Não à toa, o país dispõe, como supracitado, de um pavilhão exclusivo na feira. Este reúne, inclusive, número recorde de participantes nacionais: são 52 fabricantes de autopeças do Brasil no local. Isso, evidentemente, sem contar empresas que têm seus estandes próprios, como a Frasle Mobility e a Moura, por exemplo.

“Claro que o Brasil tem a Automec, mas por seu potencial exportador [para a Argentina] tem alta relevância para a Automechanika Buenos Aires”, salienta Pacheco.

Automechanika Buenos Aires evidencia esperanças e receios

Automechanika Buenos Aires registrou crescimento de 24% no número de expositores (Foto: Marcus Celestino)

A administração de Javier Milei escancara as portas para as importações a fim de combater um cancro que tomou a Argentina: a elevada inflação. Segundo dados oficiais, houve alta de 276,2% nos últimos 12 meses. E, mesmo que o governo esteja trabalhando para mitigar o problema, o mar ainda é composto por rosas repletas de espinhos. Em fevereiro os preços aumentaram 13,2% com relação ao período anterior.

Mesmo assim, a análise da população local e dos empreendedores estrangeiros é positiva. A reportagem conversou com interlocutores brasileiros, turcos e sauditas. Todos, em uníssono, dizem que a Argentina tem tudo para se tornar um parceiro comercial forte. Ou, no caso do Brasil, ainda mais forte.

Se por um lado os países que exportam (ou pretendem exportar) para a Argentina veem com bons olhos, sem necessidade de óculos, a administração Milei, empresas do país demonstram certo receio. Nada, por ora, tão alarmante ou aterrador. Mas uma preocupação já existe.

“Os produtores argentinos estão ressabiados por causa da abertura do mercado. Os preços praticados eram ditados pelos locais. Agora a coisa muda de figura”, diz uma executiva do país. “Por outro lado, os importadores estão esperançosos. Tínhamos um protecionismo exacerbado e o cenário passa a ser outro”, complementa.

Um executivo portenho faz coro: “Havia, de nossa parte, um comodismo. Embora sejamos muito competitivos no segmento automotivo e, por conseguinte, no aftermarket, estávamos confortáveis sem rivais de peso para trabalhar com pricing aqui no mercado”.

Agora, com a promessa de segurança econômica e também jurídica, o mercado pode se tornar cruel com quem não souber descer para o playground. “As empresas brasileiras já são muito fortes aqui, mas ainda pode haver uma invasão das chinesas, com produtos e preços competitivos. Isso mesmo sem uma boa relação entre os dois governos”, diz outro gestor argentino.

Recado do governo argentino: “Nada de lobby”

Importante ressaltar que a gestão Milei pediu para que fossem acelerados os pagamentos aos importadores. Em dezembro do ano passado, o governo estipulou que os pagamentos fossem feitos, salvo exceções, em cotas que variam entre 30, 60, 90 e 120 dias.

Isso, evidentemente, garante ainda mais segurança para os exportadores. O Brasil, obviamente, comemora. 

Todavia, o recado para as empresas sediadas na Argentina é duro. O governo quer que as companhias trabalhem, de forma a assegurarem a competitividade da indústria local.

Pablo Lavigne, secretário de comércio argentino, conversou com executivos do setor na Automechanika. E deixou claro: o governo quer menos lobby e mais ação.

“Pretendemos abrir a economia. Para isso, precisamos que os empreendedores deixem de vagar pelos corredores dos prédios governamentais. Nós os queremos em suas companhias, fazendo com que suas fábricas aumentem o ritmo de produção conforme a demanda”, disparou.

O secretário fez ainda questão de enfatizar que o governo quer simplificar as coisas, desburocratizar pormenores para que a indústria local tenha capacidade de competir com atores estrangeiros. “Não vamos impor obstáculos e nem restrições. Queremos tornar as coisas mais fáceis e, ao reduzir a inflação, desejamos ainda deixar essa armadilha cambial”, finalizou.

Aqui cabe um clichê. Só o tempo dirá se o modelo de gestão do atual governo irá funcionar ou não. No entanto, ao menos por enquanto, há uma resma de esperança na indústria automotiva de que as coisas na tomarão melhores caminhos. 

Dessa forma, o repórter termina o texto da forma que iniciou. A Automechanika Buenos Aires 2024 é o reflexo da lufada de ar fresco, goste ou não, da administração Javier Milei na Argentina.

Fonte: Automotive Business

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