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Vidros automotivos entram na era da automação avançada

O vidro automotivo é hoje um excelente termômetro do grau de maturidade tecnológica de uma planta industrial

27/05/2025

Por Rodolfo Laranja

A automação industrial tem redesenhado os limites da engenharia automotiva. O que antes era atribuído apenas a motores, baterias ou softwares de navegação, hoje se aplica também a componentes estruturais e estéticos como o vidro automotivo: um elemento que se tornou multifuncional e tecnicamente desafiador.

Com mais de três décadas de atuação na área de automação e gestão de projetos, tive a oportunidade de liderar implementações para montadoras como Audi, BMW, Volvo, General Motors e Tesla. Esse histórico reforça uma constatação: o vidro deixou de ser apenas uma superfície transparente para se tornar uma peça de alta tecnologia, exigindo novos níveis de precisão em projeto, fabricação e montagem.

Durante meu período como gerente global de automação em uma fábrica de vidros automotivos na Bélgica, tive contato direto com as especificações técnicas de grandes OEMs e seus fornecedores. O caso da Tesla chama atenção: os vidros de modelos como o Cybertruck requerem padrões rigorosos de resistência mecânica, controle térmico, transparência seletiva e integração com sensores e câmeras. Para atender a essas demandas, o parque industrial precisa operar com robótica avançada, rastreabilidade digital e sistemas de controle em tempo real.

Nesse cenário, a automação é indispensável não apenas pela escalabilidade, mas pela consistência que oferece. Em linhas de produção altamente integradas, cada etapa, desde o corte inicial até a aplicação de películas ou camadas funcionais,   precisa manter tolerâncias mínimas, com interferência humana quase nula. Isso garante não só produtividade, mas conformidade técnica com os requisitos normativos e de performance das montadoras.

A diferença entre um vidro aplicado em veículos populares e outro destinado a um modelo premium vai muito além do design. Envolve propriedades como resistência balística, absorção de impacto, tratamento acústico e controle solar. Cada nova especificação amplia a complexidade da fabricação e só a automação industrial consegue responder com a agilidade necessária.

Mesmo com os avanços, ainda existe uma lacuna significativa na formação de profissionais qualificados. A automação industrial exige conhecimento multidisciplinar em elétrica, mecânica, pneumática, programação e processos fabris. Hoje, o mercado não dispõe de cursos técnicos ou superiores capazes de formar profissionais plenamente prontos para esse contexto. O desenvolvimento ainda depende de aprendizado prático, o que leva, em média, de 12 a 18 meses até que um novo profissional atue com autonomia.

A engenharia de automação que se aplica à indústria automotiva vai além da simples robotização. Ela envolve a concepção de soluções sob medida para problemas específicos, do desenvolvimento mecânico de células produtivas à validação de ciclos de produção em ambiente real. Trata-se de integrar conhecimento técnico à capacidade de execução, sempre com foco em eficiência, qualidade e inovação.

O vidro automotivo é hoje um excelente termômetro do grau de maturidade tecnológica de uma planta industrial. Montadoras que investem nesse tipo de inovação demonstram não apenas compromisso com segurança e conforto, mas também com excelência operacional.

Mais do que acompanhar tendências, o setor precisa antecipar demandas. E isso só é possível com automação estratégica, pensada desde a engenharia até o pós-venda. A transparência que o vidro oferece aos ocupantes de um veículo começa, portanto, com a clareza de processos no chão de fábrica.

Rodolfo Laranja é engenheiro com mais de 30 anos de experiência em automação industrial e gestão de projetos. Iniciou sua carreira aos 13 anos no escritório de engenharia do pai, onde aprendeu desenho técnico e dominou o Autocad. Desde então, liderou projetos de alta complexidade em sete países, atuando diretamente na implantação de linhas de produção para marcas como Tesla, Volvo, BMW, Audi, General Motors, Mercedes-Benz e Volkswagen. Atualmente, cursa mestrado em Gestão de Projetos nos Estados Unidos. Seu modelo de liderança é pautado por clareza, confiança e colaboração, princípios que o tornaram referência global no setor automotivo.

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