O recente anúncio de que o Inmetro mudaria a regra para divulgar os dados de autonomia de carros elétricos e híbridos causou surpresa à AEA, Associação de Engenharia Automotiva. A entidade, que historicamente tem dado respaldo técnico para as decisões que envolvem o poder público e as empresas do setor automotivo, não foi procurada antes da definição desse novo critério.
A norma do Inmetro prevê que a divulgação para o consumidor seja sempre de uma autonomia 30% inferior àquela aferida nos carros elétricos e híbridos em laboratório. O órgão justifica a mudança com a busca por dar ao mercado um número mais próximo às condições reais de condução e uso dos veículos que, muitas vezes, são bastante diferentes das circunstâncias do laboratório e podem exigir mais da bateria do carro.
“Não fomos consultados e houve surpresa da nossa parte. Vamos agora estudar os critérios para poder, mais pra frente, fazer algum tipo de proposta ao Inmetro”, explicou Marcus Vinícius Aguiar, presidente da AEA. Ele informou, ainda, que a entidade pretende conversar com a nova equipe do Inmetro, que assumiu as atividades também em dezembro.
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Vale destacar que o órgão trabalha com metodologia semelhante para os carros a combustão. Há uma diferença entre os números aferidos em laboratório e aqueles divulgados ao consumidor. No caso dos veículos com otores térmicos, o pênalti é de 28%.
Há quem conteste e quem concorde com a nova regra para carros elétricos
A medida gerou controvérsia entre as empresas mais dedicadas à venda de elétricos no Brasil. “A ABVE considera que ainda é muito cedo querer penalizar os elétricos, publicando o pior cenário de autonomia, uma vez que o mercado total de veículos 100% elétricos é de somente 0,4% do total vendido em 2022. Realmente não é fácil lutar contra as forças dominantes no Brasil”, escreveu em post no LinkedIn Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico.
Já a Anfavea, a associação que representa as montadoras no país, informou por meio de nota que a medida “permita ao consumidor exercer seu direito de escolha de forma mais esclarecida”.
“A justificativa é que, como os testes são realizados em condições de laboratório, que são ideais e muito favoráveis (motoristas treinados, temperatura e umidade controladas, simulação de um trajeto plano, com tráfego leve, com veículo sem carga e com pneus calibrados), os resultados obtidos são muito melhores do que aqueles obtidos pelos motoristas em uso real”, seguiu a nota.
Nova gestão da AEA quer contribuir com regulamentações
Enquanto acompanha a mudança na regra para carros elétricos e híbridos, a AEA também estreia um novo corpo diretivo. Marcus Vinícius Aguiar assumiu a presidência da organização em 1º de janeiro e aponta que pretende reforçar justamente o papel da associação na construção de políticas públicas e regulamentações de temas importantes ao setor automotivo.
Nesse âmbito, estão no radar normas para segurança e emissões. Recentemente a entidade lançou a cartilha “Do poço à roda”, que traz metodologia para calcular as emissões dos veículos a partir desse critério.
“Temos muito trabalho em parceria com o governo pela frente. Muitos dos acordos fechados que envolvem emissões e eletrificação, por exemplo, vão criar demanda para a associação”, disse o presidente Marcus Vinícius Aguiar na quarta-feira, 1º, durante a primeira coletiva concedida em seu mandato, que vai até 2024.
Um dos exemplos de demanda citados por ele é a regulamentação da segunda fase do Rota 2030, política industrial que rege o setor automotivo desde 2018 e, nesse novo ciclo, deve trazer novos critérios para medir a eficiência energética dos carros. Nessa etapa, está prevista a criação de normas de emissões para veículos leves (Proconve L8) e, também, para manufatura industrial.
Também será nesta fase, segundo Aguiar, que serão definidas as normas a respeito da reciclagem de veículos. “É preciso esperar, no entanto, o que vai acontecer nessa segunda etapa do Rota 2030 a respeito da definição do ciclo de vida dos veículos, algo que ainda não está claro”, contou o presidente da AEA.