Serviços de entrega e comércio eletrônico ampliaram as vendas dos dois segmentos na casa dos 45% (MÁRIO CURCIO, PARA AB)
Apesar de muito diferentes entre si, motos e caminhões vêm reagindo na mesma medida aos estímulos da economia. O desempenho de mercado de ambos os setores anda muito, muito próximo, veja só: de janeiro a julho foram emplacadas 629,9 mil motos, resultando em alta de 44,7% sobre iguais meses do ano passado. Este foi o maior volume de vendas para o período em seis anos. Mais do que isso, em julho foram licenciadas 112,6 mil motos, o melhor mês desde dezembro de 2015.
Agora olhe só os caminhões: 69,5 mil unidades em sete meses, com crescimento de 47,7% sobre igual período de 2020 (veja gráfico abaixo). Para eles, foi o melhor desempenho no período em sete anos. E os licenciamentos de julho, 11,5 mil, foram os mais altos desde dezembro de 2014. São retratos quase iguais obtidos a partir de dados da Fenabrave, entidade que reúne as associações de concessionários.
É preciso dizer que o mercado de automóveis tinha potencial de crescimento próximo a 40% sobre igual período de 2020, já que a indústria local deixou de montar cerca de 130 mil unidades no primeiro semestre por falta de componentes eletrônicos. Como consequência, os emplacamentos de carros cresceram só 20,2%. Mas a oferta de motos e de caminhões também esteve abaixo da demanda nesse período.
O uso frequente das motos para o transporte de encomendas e pequenas cargas acaba explicando esse desempenho semelhante ao dos caminhões, cujas vendas aumentam por causa do agronegócio, mineração e também pelo comércio eletrônico, impulsionado pela pandemia desde 2020.
“Os serviços de entrega por motos cresceram profundamente nas cidades e os caminhões também não pararam de abastecer os centros de distribuição”, afirma o diretor executivo da Fenabrave, Marcelo Franciulli.
Uma pesquisa em números mais antigos revela que motos e caminhões já haviam demonstrado comportamento de mercado parecido em períodos anteriores à pandemia de Covid-19. “São segmentos relacionados a emprego, renda e crescimento da economia”, recorda Franciulli.
CRISE AMERICANA E QUEDA EM 2009
Há 13 anos, os dois segmentos reagiam de forma semelhante diante do cenário econômico. A visita aos números mostrou que as motos e os caminhões haviam terminado 2008 como o melhor ano de suas histórias até aquele momento (motos, 1,92 milhão de unidades e caminhões, 121,1 mil). A economia e as condições favoráveis ao financiamento permitiram isso.
Mas uma crise iniciada nos Estados Unidos no segundo semestre daquele 2008 teria reflexos na oferta de crédito no ano seguinte. Como consequência, em 2009 as motos recuaram para 1,6 milhão (-16,4%) e os caminhões, para 109 mil (-10%). Já os automóveis mantiveram a trajetória de alta, passando dos 2,34 milhões em 2008 para 2,64 milhões em 2009 (+12,9%).
E se o ápice de venda de automóveis ocorreu em 2012 (3,11 milhões de emplacamentos), o recorde para as motos foi em 2011, tal qual para os caminhões. É verdade que naquele ano muitos empresários anteciparam a renovação de suas frotas porque em 2012 os caminhões se tornariam mais caros pela entrada em vigor de uma nova legislação de emissões (Proconve P7).
Mas também é fato que essa antecipação foi possível pela boa oferta de crédito, o mesmo motivo para o recorde das motos. A partir de 2012 os bancos se tornariam mais seletivos para o setor de duas rodas, que teria quedas sucessivas até 2017. Em seis anos as vendas caíram de 1,94 milhão para 851 mil unidades.
A trajetória de queda dos caminhões foi semelhante, com retração também a partir de 2012, um repique em 2013 e depois ladeira abaixo até 2016. Do recorde de 172,6 mil caminhões em 2011, o setor recuou para 50,3 mil em 2016 e o ano de 2017 ainda foi muito ruim, com 52,1 mil emplacamentos.
Já os automóveis mantiveram em 2013 um desempenho ainda próximo ao do recorde de 2012 e anotaram quedas mais expressivas de 2014 a 2016. E em 2017 iniciaram uma recuperação mais consistente que a dos caminhões.
As vendas cresceram para os três segmentos em 2018 e 2019. Em 2020, com a chegada da pandemia de Covid-19, o mercado de automóveis recuou 28,6%. Já a retração para motos e caminhões foi mais branda, -15% e -12,3%, respectivamente.
Os bons volumes de venda em 2021 são atribuídos pela Fenabrave às condições de financiamento. Segundo a entidade, a taxa de aprovação das propostas está próxima a 50% para as motos e de 80% para os caminhões. Marcelo Franciulli recorda ainda que a venda de motos também foi motivada pela necessidade de alguns usuários de evitar as aglomerações do transporte público.
Fonte: Automotive Business