KPMG mostra cenário para setor automotivo nos próximos cinco anos

Em entrevista ao Balcão Automotivo, Flavia Spadafora comenta as expectativas com relação à participação de vendas dos veículos elétricos, a vulnerabilidade das cadeias de suprimentos, as oportunidades e os desafios no Brasil
KPMG mostra cenário para setor automotivo nos próximos cinco anos

Por Karin Fuchs

Pela “23ª Pesquisa Anual Global de Executivos do Setor Automotivo” (GAES 2022), realizada em outubro de 2022 pela KPMG com 915 participantes dos setores automotivo e adjacentes, sendo 32 do Brasil, a maioria deles está confiante no crescimento setorial mais rentável nos próximos cinco anos. Na média global, 83% deles, e entre os executivos brasileiros, 73%. A diferença pode ser atribuída pelos executivos brasileiros estarem cautelosos sobre os resultados no curto prazo. 72% deles estão preocupados com a inflação e como as altas taxas de juros afetarão negativamente os negócios em 2023.

A pesquisa também constatou as expectativas em relação às vendas globais de veículos elétricos. No Brasil, os respondentes esperam que a participação de mercado dos veículos elétricos atinja 30% das vendas até 2030, contra 40% da média global, amostra que previa 70% no ano passado.

No entanto, há mais confiança de que os veículos elétricos alcançarão a paridade de custos com veículos com motores a combustão sem a ajuda do governo, com 82% dos respondentes da amostra global e 100% dos brasileiros acreditando que, nos próximos 10 anos, os carros elétricos serão amplamente adotados sem subsídios governamentais.

Nesta entrevista ao Balcão Automotivo, Flavia Spadafora, sócia-diretora líder do setor automotivo da KPMG no Brasil, comenta a pesquisa e as principais oportunidades e os desafios para o setor automotivo brasileiro.

Balcão Automotivo – No Brasil, os respondentes esperam que a participação de mercado dos veículos elétricos atinja 30% das vendas até 2030. Esse percentual se refere aos modelos híbridos ou 100% elétricos?

Flavia Spadafora – Esse percentual se refere à expectativa com relação à participação de vendas dos Veículos Elétricos (EV), percentual de participação no market share. A expectativa ainda é considerada alta, mas caiu em relação ao ano anterior. O Brasil, assim como a Índia, trabalha com rotas alternativas híbridos flex.

BA – Sobre as cadeias de suprimentos, a pesquisa mostra que elas continuam vulneráveis. Os respondentes disseram que estão bastante preocupados com o fornecimento de commodities e componentes, especialmente semicondutores, e materiais cruciais para a eficiência do combustível e a duração das bateriasPodemos afirmar que há um movimento global para diminuir a dependência e até uma “reindustrialização” no Brasil?

FS – Para fazer frente a esses desafios, a indústria tem priorizado o fornecimento local de matérias-primas e ampliado o leque de fornecedores, o que, aliás, abre perspectivas interessantes para o Brasil. Globalmente, os países têm se mobilizado para atrair investimentos das empresas fornecedoras de suprimentos de tal forma a deixar mais próximo da produção os fornecedores. Essa é uma área de oportunidade para o Brasil e tem mobilizado a indústria, Anfavea e o Governo no sentido de buscar as condições estruturantes para atrair investimentos e colocar o Brasil de novo na rota de investimentos.

BA – Quais são as principais oportunidades e os desafios para o setor automotivo, especificamente no Brasil?

FS – O Brasil tem uma tremenda oportunidade que é a rota híbrido flex, ou seja, caminho intermediário onde temos a condição de usar tecnologias já desenvolvidas e estabelecidas junto com a eletrificação. Em termos de desafios, continuamos sofrendo com os desarranjos da cadeia logística e com os problemas na demanda de semicondutores, o que tem de certa forma impactado a produção, a oferta dos carros. Do lado do consumidor, o custo do dinheiro tem sido um grande entrave pela dificuldade dos consumidores em conseguirem financiamento para aquisição.

BA – O que podemos destacar da pesquisa em relação às novas tecnologias e novos negócios?

FS – Os fabricantes de automóveis continuam muito confiantes em sua capacidade de implementar tecnologias da Indústria 4.0, como machine learning, robótica avançada e impressão 3D. As promessas de agilização e redução de custos são muito atraentes para o setor e 63% dos respondentes consideram que suas organizações estão muito preparadas ou extremamente preparadas para trilhar mais essa jornada de evolução tecnológica.

BA – E em relação à mão de obra?

FS – Contar com mão de obra capacitada também é um desafio. Trabalhadores com conhecimento de manufatura avançada continuam a ser os mais procurados, mas as habilidades nas áreas de engenharia eletrônica, engenharia mecânica e ciência de dados também são cada vez mais solicitadas. O setor automotivo lida com desafios inéditos no mundo todo, mas esses desafios trazem uma série de oportunidades.

BA – Para finalizar, quais são as suas considerações?

FS – Novos negócios poderão ser desbravados, desde que a indústria acompanhe as inovações, esteja atenta às necessidades de seus consumidores e não se prenda aos modelos do passado – da cadeia de suprimentos ao modo de vender veículos, passando pela própria estrutura dos carros que coloca no mercado. A transformação já está em curso e ela não vai esperar por ninguém. Cabe à indústria assumir as rédeas dessas mudanças e, com resiliência, liderar o mercado rumo ao futuro.

Fonte: Balcão Automotivo

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