Empresa é a primeira a nacionalizar o iTEBS, que evita tombamento e será obrigatório no País a partir de 2025
Por Pedro Kutney
Itupeva, SP – A partir de janeiro de 2025 todas carretas rodoviárias produzidas no Brasil deverão obrigatoriamente incorporar o EBS, sistema eletrônico de frenagem e estabilidade que representa um salto tecnológico na segurança de caminhões e seus implementos, pois evita acidentes com tombamento do cavalo mecânico e da carga rebocada. Seguindo a oportunidade aberta pela legislação a subsidiária brasileira da Knorr-Bremse é tornou-se o primeiro fornecedor a produzir o seu iTEBS X no País.
Após investimentos de R$ 12 milhões na engenharia, para adaptar o equipamento às necessidades brasileiras, e mais R$ 6 milhões em novos maquinários para montar a célula de produção na fábrica de Itupeva, SP, a Knorr-Bremse deu o pontapé inicial na linha do iTEBS X este mês. A matriz, na Alemanha, iniciou há cinco anos o desenvolvimento da nova geração do sistema e começou a produzir para a Europa no ano passado. O Brasil é a primeira unidade do grupo a produzir o equipamento fora do mercado europeu – Estados Unidos e Ásia só iniciam a produção local em 2025.
Segundo Antonio Silva, gerente de vendas de sistemas para implementos rodoviários da Knorr-Bremse South America, todos os grandes fabricantes de carretas no País já começaram a colocar suas encomendas: “Poderemos atender toda a produção deles no País, para isto projetamos capacidade de fornecer até 90 mil módulos por ano. Vamos aumentar gradativamente o ritmo conforme a demanda mas já planejamos a primeira expansão da linha para junho do ano que vem. Temos planos ambiciosos, vamos primeiro atender clientes no Brasil e depois começaremos a exportar daqui para toda a América do Sul”.
O ritmo inicial de produção do iTEBS X será de 180 unidades por dia, equivalente a cerca de 2,5 mil por mês e 35 mil por ano, em dois turnos de trabalho. “Precisamos começar a produzir agora para atender as encomendas que já estão a chegando dos fabricantes de implementos, que daqui a menos de três meses precisam começar a produzir as carretas com o equipamento”, justifica o diretor técnico Humberto Torrecillas, que coordenou o projeto de nacionalização. “Já estamos trabalhando nesta nacionalização há dois anos, quando tomamos a decisão de fazer o investimento.”
Além dos fabricantes OEM de carretas Silva afirma que já recebeu consultas de grandes embarcadores e transportadores interessados em fazer retrofit em suas carretas, trocando o sistema de freios antigo pelo novo iTEBS X. Ele estima que este negócio adicional poderá representar de 10% a 15% das vendas do novo módulo: “É vantajoso para o transportador porque aumenta muito a segurança do veículo e reduz o custo do seguro. Hoje o roubo de carga não é mais o maior prejuízo, mas sim os acidentes graves com tombamentos”.
Apesar de o equipamento acrescentar custos às carretas Silva avalia que, ao contrário do que aconteceu com os caminhões em 2023 com a adoção de motorização Euro 6, “não está acontecendo pré-compra de semirreboques e isto não deverá causar grande queda na venda de implementos em 2025, até porque o aumento de preço não é tão elevado”.
Produção enxuta
Apenas três pessoas a cada turno operam as três estações de montagem e duas de testes da célula de produção do iTEBS X em Itupeva: o processo todo é conduzido e monitorado por um programa de computador desenvolvido na própria unidade, que não deixa o operador executar nenhuma ação errada, e 100% dos módulos produzidos passam por teste de funcionamento antes de serem despachados aos clientes.
“Planejamos a célula para aumentar rapidamente a produção, quando for necessário poderemos aumentar o fluxo e adotar mais um turno de trabalho”, afirma Torrecillas. “Por isto já instalamos duas estações de testes, que é o ponto mais crítico do processo, porque produzimos aqui exatamente com a mesma qualidade da Europa.”
O iTEBS X iniciou sua história no Brasil com índice de nacionalização de 45% e 55% de componentes importados – incluindo o mais importante deles, a central de processamento eletrônico, o cérebro do sistema. “Nossa intenção é aumentar a localização para 60% até junho de 2025, porque isto reduzirá bastante o custo de imposto de importação”, indica Antonio Silva.
Adaptação ao Brasil
Torrecillas diz que a nacionalização do iTEBS X seguiu o protocolo da centenária Knorr-Bremse, que fornece a fabricantes OEM e mercado de reposição sistemas de freios para veículos pesados e trens e colunas de direção para caminhões, com presença em trinta países: “Temos escala global de desenvolvimento na matriz com montagem local e todas as adaptações necessárias para cada mercado. Nosso projeto industrial foi feito em conjunto com fábricas na Alemanha, Hungria e Índia”.
O engenheiro diz que para o Brasil, onde mais de 85% dos caminhões e carretam usam suspensão mecânica, foi necessário desenvolver um algoritmo diferente do iTEBS X da Europa: “Para funcionar o sistema precisa calcular o peso total do veículos, o que é fácil de saber quando se usa suspensão pneumática, que equipa 95% dos veículos pesados que rodam nas estradas europeias. Aqui precisamos fazer o módulo estimar o peso de acordo com a pressão dos freios”.
A partir do iTEBS Plus, projetado na Alemanha para funcionar com suspensões pneumáticas, a subsidiária brasileira da Knorr-Bremse desenvolveu dois sistemas: um com mais funções e caro e outro mais simples, com funções básicas, mais barato. “O cliente escolhe de acordo com a necessidade dele, a diferença de preços é pequena”, afirma o gerente de vendas Antonio Silva.
Salto tecnológico
A obrigatoriedade de uso do sistema eletrônico de frenagem e estabilidade também nas carretas – para caminhões já é obrigatório desde o começo deste ano – representa um salto tecnológico de segurança para o transporte rodoviário de cargas.
Diferentemente do ABS – obrigatório para caminhões e carretas desde 2014 – que somente evita o travamento das rodas quando se pisa no freio, o EBS atua independentemente da vontade do motorista: quando o sistema entende que o veículo entrou em uma curva e a aceleração lateral vai ao lado oposto, o módulo começa automaticamente a acionar os freios em diferentes rodas da composição para corrigir o rumo e evitar o tombamento – o funcionamento é parecido com o do ESC ou ESP, controle eletrônico de estabilidade hoje já obrigatório em todos os automóveis e comerciais leves vendidos no País.
O iTEBS X da Knorr-Bremse integra à carreta várias funções de segurança ativa: os principais são controle de estabilidade RSP/RSS, anti-bloqueio das rodas ABS e monitoramento de pneus TPMS.
Silva aponta mais uma vantagem: o módulo iTEBS X gera milhares de dados sobre a condução do veículo que podem alimentar os sistemas de telemetria, para monitorar e orientar o comportamento dos motoristas: “Se os dados apontam, por exemplo, que o sistema de controle de estabilidade precisou atuar muitas vezes em vários trechos da viagem para evitar acidentes, é uma informação que pode gerar uma ação para corrigir alguma imprudência que o motorista esteja cometendo”.
O iTEBS também se integra aos ADAS, sistemas avançados de assistência ao motorista, atuando em conjunto para corrigir a direção ou evitar acidentes.
A fábrica
A Knorr-Bremse está no Brasil desde 1977, manteve fábrica em São Paulo, no bairro de Santo Amaro, até 2013, quando transferiu a sede sul-americana e todas as operações industriais para Itupeva, em um terreno de 150 mil m2 no qual instalou planta e escritórios que ocupam 30 mil m2. “Hoje temos sistemas de produção que são referência mundial para o grupo”, afirma Torrecillas.
Atualmente a planta tem 120 fornecedores locais e quase o dobro disto de internacionais. Trabalham oitocentos empregados diretos na unidade, que abriga 65 células de usinagem e montagem para produzir catorze famílias de produtos, com 70% da produção destinada ao mercado de reposição e 30% para fabricantes OEM, no Brasil e toda a América do Sul.
Fonte: AutoData