Anualmente o Sindipeças divulga um abrangente estudo da frota brasileira em todos os seus segmentos. A edição 2023 do estudo, lançada no primeiro semestre do ano, atualiza os dados relativos a 2022 e mostra que nossos veículos continuam envelhecendo, o que, num primeiro momento, é uma boa notícia para o mercado de reposição. Mas, como mostramos em recente reportagem do NovoVarejo, pode representar um problema no longo prazo. Afinal, para o aftermarket automotivo, o melhor caminho é o equilíbrio. Acompanhe a seguir as informações do estudo realizado pelo Sindipeças com destaque para os automóveis leves. Para acessar dados completos dos demais segmentos de veículos, visite o site da entidade.
PARADOXO
Nos últimos 10 anos – de forma mais intensa nos anos posteriores ao biênio recessivo de 2015 e 2016, passando pela hecatombe da covid-19 –, o mercado automotivo brasileiro tem experimentado suposto paradoxo. Em um país em que a relação habitante/veículo se encontra distante de mercados maduros, parece surpreender que a frota circulante cresça em ritmo tão modesto: nos últimos três anos abaixo de 1,0%. Razões de natureza econômica concorrem, no entanto, para elucidar a situação: I) incremento da taxa de desemprego nos últimos 5 anos, com alívio apenas no período recente; II) redução do poder de compra e alta da inadimplência das famílias; III) aumento da taxa de inflação durante a pandemia e resiliência em anos posteriores; IV) elevação dos custos produtivos dos veículos, V) alta dos combustíveis até meados de 2022; e VI) aumento da taxa básica de juros (Selic), reverberando nas condições de crédito.
Enfrentado esse cenário adverso, deve-se ressaltar que a frota brasileira cresceu 0,6% em comparação com a do ano anterior. Contabilizaram-se 46,9 milhões de unidades em circulação, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, ante 46,6 milhões em 2021. Por ser opção mais econômica e tendo sofrido menos com o fornecimento de componentes, a frota de motocicletas subiu 1,3%, registrando- -se mais de 13,0 milhões de unidades em vias públicas.
FROTA E IMPORTADOS
Da frota circulante de 46,9 milhões de unidades em 2022, os veículos importados corresponderam a 14,2%; participação semelhante à do ano anterior. Em relação a 2021, a presença dos veículos importados na frota brasileira subiu 0,7%, compensando a queda verificada em 2020 e o tímido crescimento de 2021 (0,3%).
A performance descrita encontra-se alinhada ao aumento de 7,8% nos registros de veículos importados em 2022, totalizando 273,5 mil unidades. Esse volume representou 13,0% de participação dos autoveículos importados no total dos licenciamentos – marca que não era anotada desde 2016.
No entanto, o mercado de reposição automotiva enfrenta desafios significativos. A competição acirrada, a redução das margens de lucro e a gestão complexa de estoques são questões que demandam soluções inovadoras para garantir sua prosperidade contínua. Além disso, a dificuldade de gerir o portfólio, a alta devolução de produtos e a falta de digitalização e padronização são obstáculos adicionais que as empresas precisam superar para se manterem competitivas. Todos esses desafios se mostram ainda mais graves quando percebemos a movimentação de diversas montadoras em restringir ainda mais os poucos recursos informacionais à disposição dos consumidores e dos agentes que trabalham com a reparação automotiva como seu principal negócio. Um exemplo expressivo dessa movimentação é a restrição na coleta de dados e diagnostico em novos veículos que estão sendo produzidos sem acesso ao sistema OBD (On-Board Diagnostics), forçando os consumidores a buscarem serviços de diagnóstico exclusivamente nas redes de concessionárias da montadora. Essa prática tem sido crescente em diversas montadoras e prejudica a livre concorrência no mercado de reposição, dificultando a competição das oficinas independentes e limitando as opções de escolha dos consumidores. Medidas como essa tendem a gerar grande instabilidade econômica em um setor vital para a economia e sustentabilidade do país e devem ser refutadas com veemência por todos nós que trabalhamos no ecossistema da reparação automotiva. O fato é ainda mais grave quando levamos em consideração que muitas montadoras (mesmo as que restringem as informações) demonstram total desinteresse com as demandas do “pós-vendas” (Mercado de Reposição). Geralmente, por parte das montadoras, só há foco, investimentos ou ações mais contundentes voltadas ao aftermarket quando as vendas de veículos novos são impactadas por crises. Além disso, esse interesse, quando existe, é limitado aos veículos em garantia ou seminovos, deixando à margem mais de 80% da frota nacional que é composta por veículos com mais de 4 anos de uso.
IDADE MÉDIA
A frota brasileira prosseguiu em seu processo de envelhecimento. A idade média atingiu 10 anos e 7 meses em 2022 e a de motocicletas manteve-se em 8 anos e 5 meses, praticamente repetindo o resultado dos últimos dois anos. No período entre 2010 e 2022, o envelhecimento da frota em circulação elevou-se em quase 2 anos. As possibilidades de reversão desse fenômeno dependem da intensidade do crescimento das vendas de veículos novos vis a vis a taxa de sucateamento da frota existente e de políticas públicas que exijam a retirada de circulação das unidades mais antigos. A aprovação e execução do Programa de Aumento A frota brasileira prosseguiu em seu processo de envelhecimento. A idade média atingiu 10 anos e 7 meses em 2022 e a de motocicletas manteve-se em 8 anos e 5 meses, praticamente repetindo o resultado dos últimos dois anos. No período entre 2010 e 2022, o envelhecimento da frota em circulação elevou-se em quase 2 anos. As possibilidades de reversão desse fenômeno dependem da intensidade do crescimento das vendas de veículos novos vis a vis a taxa de sucateamento da frota existente e de políticas públicas que exijam a retirada de circulação das unidades mais antigos. A aprovação e execução do Programa de Aumento da Produtividade da Frota Rodoviária (Renovar) e a entrada em vigência da tecnologia Euro 6 iluminam caminho promissor para que isso ocorra, pelo menos no âmbito dos veículos pesados. As discussões e os entendimentos feitos pelo governo federal, entidades setoriais, transportadores de carga e sindicatos de trabalhadores visando a estruturar o Programa Renovar, malgrado defina numa primeira fase a reciclagem de caminhões, ônibus e implementos rodoviários, representou importante iniciativa para avançar na modernização e redução da idade média dos veículos no País.
Do total dos veículos em circulação em 2022, 23,8% apresentava idade média de até 5 anos, compreendendo cerca de 11,1 milhões de veículos (Quadro IV e V). Note-se que o processo de envelhecimento tornou a participação desse extrato inferior ao que havia sido obtido em 2021, quando se contabilizou percentual de 24,2%. Outros 56,5% – com total de 26,5 milhões –, entre 6 e 15 anos. Por fim, 19,8% (este, sim, superior aos 18,3% assinalados em 2021) com idade média acima de 16 anos (8,9 milhões de unidades). O Gráfico 4 traz recorte diferenciado, mostrando que a participação dos veículos com mais de dez anos alcançou 23,1 milhões em 2022, 49,3% do total da frota circulante. Mais 17,4 milhões veículos encontravam-se com idade média entre 4 e 10 anos (37,1%) e apenas 6,3 milhões representavam veículos novos ou seminovos (13,6% do total), compreendido como aqueles que ainda gozam da garantia de compra.
IDADE MÉDIA – AUTOMÓVEIS
A frota de automóveis manteve-se no patamar de 2021, totalizando 38,3 milhões de unidades no ano passado. Desse montante, 22,7% apresentavam idade média de até 5 anos (23,5% em 2021), representado por 8,7 milhões de veículos; 56,2%, com idade entre 6 e 15 anos (57,1% em 2021), expressava o maior grupo, com 21,6 milhões. Os 21,1% restantes apresentavam idade
média acima de 16 anos (19,4% em 2021). Comparativamente a 2021, a quantidade de automóveis na frota cresceu apenas 0,3%, marcado por nítido envelhecimento. Recorte diferenciado é apresentado no Gráfico 5. Nele, percebe-se que o quantitativo de automóveis com mais de 10 anos atingiu 19,5 milhões de unidades em 2022, com participação de 51,0% do total.
Fonte: Novo Varejo