A urgência dos processos de descarbonização está posta. Só que os índices de emissões continuam subindo.
Por Claudio Milan
O período de 20 de junho a 22 de setembro corresponde, em 2024, ao inverno no Brasil. A memória afetiva dos mais “antigos” inevitavelmente relaciona a estação ao frio. Nada mais óbvio. Mas, nos últimos anos, tal lembrança vem sendo – literalmente – derretida por temperaturas de verão extremo fora de hora e suas consequências.
A mais visível, nos últimos dias, tem sido a profusão de incêndios e queimadas que cobriram com fumaça 60% do território brasileiro. Um desastre. De acordo com estudo do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em três décadas os dias com ondas de calor subiram de 7 para 52 ao ano.
Entre outros impactos, as transformações alteram o regime de chuvas, com escassez em grande parte do país e excesso em áreas específicas, como a região Sul – ninguém esqueceu de um Rio Grande do Sul engolido pelas águas poucos meses atrás.
As emissões de CO2 têm relação direta com os desastres que estamos enfrentando e vamos enfrentar com frequência e intensidade cada vez maiores. O IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas diz que, entre 2011 e 2020, a temperatura média da superfície do planeta ficou 1,1°C acima do período de 1850 a 1900. Parece pouco né? Mas os efeitos não precisam ser descritos, você está vendo com os próprios olhos.
O aumento se deve exclusivamente às atividades humanas, principalmente aquelas que geram emissões de gases de efeito estufa, entre elas as emissões veiculares. A urgência dos processos de descarbonização está posta. Só que os índices de emissões continuam subindo.
A indústria da mobilidade vem tentando encontrar soluções para tornar o transporte menos agressivo à vida na Terra. Os desafios são imensos, afinal são quase 150 anos de uso de combustíveis fósseis.
Na Europa, bilhões de euros já foram investidos na eletrificação a fim de encerrar as vendas de carros com motores a combustão a partir de 2035, como manda a lei. Só que o prazo vem se mostrando cada vez mais inatingível. Neste mês de setembro, a ACEA – a AFAVEA do continente – questionou a viabilidade do cumprimento das metas de redução de emis – sões de CO2 para veículos leves até 2025.
Já se fala em adiamento. Embora as montadoras tenham ampliado a oferta de carros elétricos, o mercado destes veículos está se deteriorando. Segundo a entidade, condições cruciais não foram proporcionadas: infraestrutura de carregamento e reabastecimento, ambiente de fabricação competitivo, energia verde acessível, incentivos para compra e impostos, e um suprimento seguro de matérias-primas, hidrogênio e baterias. Os obstáculos são creditados à falta de planeja – mento da União Europeia.
E o Brasil, o que tem feito? Muito pouco. A última novidade foi a aprovação, pelo Legislativo, dos “combustíveis do futuro”. Entre várias implicações, a nova lei – ainda não sancionada – aumenta para até 35% a mistura de etanol na gasolina. Bem aceitável para quem tem carro flex. Já os proprietários de veículos movidos exclusivamente a gasolina talvez façam a alegria dos mecânicos. Pelo menos uma potencial boa notícia para o aftermarket automotivo.
Claudio Milan é Diretor Geral da Novomeio Hub de Mídia