Com falta de semicondutores, GM antecipa modernização de São Caetano para lançar nova Montana

Com falta de semicondutores, GM antecipa modernização de São Caetano para lançar nova Montana
Linha de montagem da GM em São Caetano: paralisação por falta de componentes antecipa mais uma modernização da fábrica de veículos mais antiga do Brasil em atividade

Linha de produção recebe novas prensas, mais robôs e equipamentos (PEDRO KUTNEY, AB)

A General Motors tenta tirar alguma produtividade das paralisações de suas linhas no Brasil causada pela falta generalizada de componentes eletrônicos. Já que a escassez global de semicondutores tornaria inevitável a interrupção da produção em São Caetano do Sul (SP), a empresa decidiu antecipar as obras de mais uma modernização da mais antiga fábrica de automóveis em atividade no Brasil – inaugurada em 1930 –, que está sendo preparada para produzir a nova geração anabolizada da picape compacta Montana. Com isso, o lançamento do veículo, previsto para o início de 2023, também deve ser adiantado para o segundo semestre de 2022, isso se o fornecimento de chips for normalizado até lá.

Segundo o sindicato dos metalúrgicos de São Caetano, estava prevista a concessão de férias coletivas na unidade em setembro para o início das obras. Contudo, com a falta de eletrônicos, a GM aproveitou a edição pelo governo federal da Medida Provisória 1045, que instituiu o Novo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, e usou um de seus mecanismos para suspender o contrato de trabalho dos cerca de 4 mil horistas da fábrica, para então iniciar o processo de modernização que deverá durar cerca de um ano.

Primeiro, no fim de maio, a GM anunciou que iria parar a fábrica por seis semanas para executar intervenções em diversas áreas da planta, com a necessidade de interromper o funcionamento de todas as linhas. Os empregados deveriam voltar ao trabalho no último dia 2 de agosto, mas no fim de julho a empresa estendeu a suspensão dos contratos por mais 30 dias e estima o retorno da operação no próximo 26 de agosto. “As obras estão sendo feitas, mas estavam previstas para começar em setembro, parou agora por falta de eletrônicos. E pelas conversas que ouvimos, é grande a possibilidade de estender ainda mais essa paralisação”, afirma Cícero Marques da Costa, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul.

“Uma reforma dentro de uma fábrica, especialmente em uma de 90 anos, é um projeto de grandes proporções com estratégia de execução traçada com muita antecedência. Por isso esta parada para obras em São Caetano do Sul já estava prevista, está dentro do cronograma e outras paradas estão planejadas”, informa Michel Malka, diretor executivo da fábrica.

NOVA MODERNIZAÇÃO EM MENOS DE DOIS ANOS
A nova onda de modernização São Caetano ocorre menos de dois ano a GM ter anunciado, em 2018, investimentos de R$ 1,2 bilhão que culminaram com o início da produção, em março de 2020, do SUV compacto Tracker, que trouxe ampla transformação de processos e equipamentos à fábrica de 90 anos – que hoje, de antigo só tem a área do terreno e algumas paredes remanescentes, após passar por sucessivas remodelações.

Agora, o novo processo iniciado em junho passado faz parte do programa de investimento de R$ 10 bilhões anunciado em 2019, que será dividido entre as duas fábricas paulistas da GM, em São Caetano e São José dos Campos, e no desenvolvimento dos novos veículos que serão produzidos nessas unidades, o que inclui a nova picape Montana já anunciada para ser fabricada na antiga planta do ABC paulista.

“As obras realizadas contemplaram as adequações da linha de produção necessárias para receber a nova plataforma (GEM, de Global Emerging Markets) e produzir o Tracker. Agora, o produto é a nova Montana, uma picape que requer outras tecnologias de produção e que ainda não iniciou seu ciclo comercial”, explica Michel Malka.

O diretor lembra que em seus 90 anos de operação a planta de São Caetano ocupou todos os espaços possíveis, não há mais terreno para expansões horizontais, só é possível crescer para cima ou para baixo e aumentar a produtividade de uma mesma área. Por isso é necessário interromper as atividades do setor a ser remodelado, com a retirada dos equipamentos antigos (que segundo o diretor são todos vendidos ou reaproveitados) para instalação dos novos, refazendo todo o desenho das linhas de produção.

É o que está sendo feito agora, ele indica, no setor de estamparia da fábrica, com a Instalação de uma linha de prensas de alta produtividade e totalmente automatizada fornecida pela alemã Schuler, produzida sob medida para a GM. Segundo Malka, é o primeiro equipamento deste tipo nas Américas, que vai mais que dobrar a produtividade do volume atual de 12 mil peças estampadas por dia para 26 mil, além de reduzir em 55% o consumo de energia elétrica e aumentar da precisão das batidas. As novas prensas ocupam uma área de 93 metros de extensão, 12 de largura e 7 de profundidade, são enclausuradas e equipadas com amortecedores e isoladores, portanto emitem menos ruído e vibração. A GM também aproveitou a oportunidade para instalar telhas translúcidas para permitir a entrada de luz natural e diminuir a necessidade de iluminação artificial.

Mais 93 novos robôs chegaram para aumentar a automação da área de funilaria da GM em São Caetano

A área de funilaria (solda de carrocerias), que com a chegada do Tracker já tinha automatizado 92% dos processos, deve elevar ainda mais esse porcentual com a instalação de mais 93 novos robôs, que vão se unir aos outros 658 já em operação, segundo a GM.

O setor de pintura também passa por modernizações, com reforma da “piscina” de pré-tratamento da carroceria, para garantir maior proteção contra corrosão, a linha de aplicação de selante (calafetação) está sendo automatizada e os robôs que aplicam o primer (base da tinta) estão sendo substituídos por outros mais modernos.

Por fim, na linha de montagem, que também já tinha sido beneficiada com diversas melhorias para a produção do Tracker, algumas estações estão sendo redesenhadas e outras expendidas, além de ganhar novos equipamentos para melhorar a ergonomia e qualidade. “Pensando na segurança do cliente, iremos contar com um novo equipamento de montagem do airbag, à prova de erro, o que também vai melhorar a qualidade do produto”, destaca Malka.

Assim como aconteceu com o Tracker, a nova Montana traz melhorias à fábrica que beneficia todos os outros modelos produzidos, pois São Caetano tem uma única linha compartilhada por todos os veículos. Segundo a GM, junto com o Tracker, seguem em produção na unidade o Spin, Onix Joy e Onix Joy Plus – as versões hatch e sedã antigas do modelo, cuja nova geração é produzida em Gravataí (RS). A futura Montana só deve entrar em produção no segundo semestre de 2022.

Fonte: Automotive Business

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