Categories • Destaque

Aftermarket mostra apoio à renovação da frota de veículos

Por Lucas Torres

No início deste mês de junho, o Governo Federal anunciou a Medida Provisória que busca incentivar uma espécie de retorno da atratividade dos chamados ‘carros populares’ ao oferecer subsídios às montadoras com o intuito de reduzir o preço dos veículos com preços de até R$ 120 mil. Com a iniciativa, os carros mais em conta do país – Renault Kwid e Fiat Mobi – passaram a custar R$ 58.990. Embora, segundo o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, o programa seja considerado uma medida transitória – inicialmente restrito ao incentivo de R$ 500 milhões para carros de passeio, volume que, de acordo com a Anfavea, dura só um mês – ele representa uma movimentação concreta na direção de renovar a frota nacional ao aquecer a venda dos 0km. Vale destacar que a medida é, entre outros fatores, fruto de um pedido das montadoras à cúpula do novo governo e chega em um momento de longa estiagem na comercialização de carros novos, que começou na pandemia e parece não ter prazo para terminar.

Segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), as vendas de veículos novos tiveram desempenho 26,56% menor durante o primeiro quadrimestre de 2023 do que o registrado nos quatro primeiros meses de 2019 – período anterior à chegada da pandemia da covid-19. Tal cenário tem provocado um efeito inversamente proporcional na venda de usados e seminovos que, com altas consecutivas ao longo do ano, atingiram a marca expressiva de 1.274.333 automóveis comercializados no mês de maio, número que superou em 22,6% o total atingido em abril.

Em posicionamento oficial após o anúncio do programa de incentivo do Governo Federal, a Fenauto (Federação dos Revendedores de Veículos Usados) afirmou que ainda é cedo para projetar uma mudança significativa no atual cenário, sobretudo por ser algo que considera ‘tão pequeno’ e com uma data de validade tão curta.

“Em um primeiro instante eles podem se tornar um concorrente do carro usado, mas depois o mercado se estabiliza tranquilamente como sempre faz”, destacou a entidade em posicionamento oficial. Em meio à esperança por dias mais aquecidos das montadoras e ao ceticismo daqueles que vivem da venda de carros usados, está o aftermarket automotivo. E como os diferentes elos da cadeia de negócios do mercado de reposição devem se sentir diante desta tentativa do governo de impulsionar uma retomada nas vendas dos carros 0km, dado o senso comum que aponta para a ideia de que ‘quanto mais carros usados, mais demanda’? Na opinião de dois dos principais dirigentes do setor, o sentimento deve ser de positividade e apoio.

Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar: aftermarket se beneficia do equilíbrio

De 2014 para cá, a frota brasileira tem invariavelmente envelhecido a cada ano que passa e, atualmente, está na casa dos 10 anos e 9 meses, segundo dados do último relatório divulgado pelo Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componen – tes para Veículos Automotores). O cenário de envelhecimento progressivo se revela não apenas no ‘olhar para trás’, mas também quando lançamos um olhar para a tendência de que nossas vias assistirão à circulação de carros ainda mais velhos nos próximos anos. Conforme números divulgados pela Fenabrave, as vendas dos usados com até dez anos (seminovos e ‘jovens’ usados) caíram 12,7% no último quadriênio, enquanto que, no mesmo período, a comercialização dos chamados velhinhos (acima dos 10 anos desde a fabricação) cresceu 12,7%.

Para o presidente do Sindirepa-SP (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo), Antonio Fiola, a ideia de que uma frota envelhecida gera deman – das para o aftermarket devido aos problemas decorrentes do lon – go tempo de uso não está totalmente errada. No entanto, quando tratamos especificamente dos ‘velhinhos’, existem fatores que acabam jogando contra o mercado.

“O problema dos veículos com mais de 10 anos é o bolso do consumidor que, muitas vezes, não pode arcar com o custo da manutenção. O ticket é mais baixo geralmente porque o dono só faz o necessário e o mais emergencial. Além disso, os carros mais novos acabam, em geral, rodando mais que aqueles com mais idade, o que é um fa ­ tor importante para gerar demanda de serviço”, analisa o dirigente. Outro a questionar a sustentabilidade do aquecimento da demanda do aftermarket calcada no envelhecimento da frota é o presidente do Sin – copeças Brasil (Sindicato Comércio Varejista Peças Acessórios para Veículos), Ranieri Leitão. O dirigente, porém, aborda a questão por uma visão de longo prazo ao dizer que o aquecimento de agora irá resultar na escassez de amanhã. “Eu não posso questionar quem pensa assim (quanto mais usados nas ruas, melhor), pois isso, em um primeiro momento, realmente gera um volume maior na reparação automotiva e no varejo de autopeças. Agora, não é uma coisa interessante porque se cria um hiato lá na frente. Se você fabrica menos veículos e vende menos veículos, você diminui a possibilidade de no futuro consertar também”, analisa Leitão.

Renovação da frota sim. Inspeção veicular também

Ao apontarem os problemas advindos de um envelhecimento desenfreado da frota brasileira para os diferentes elos da reposição automotiva, Antonio Fiola e Ranieri Leitão se posicionam a favor da criação de iniciativas voltadas a diminuir a idade média dos automóveis de passeio no país. Sem se aterem exclusivamente à Medida Provisória anunciada pelo Governo no início deste mês de junho, eles afirmam que um programa consistente seria bem-vindo tanto sob o ponto de vista da reposição quanto no que diz respeito à atividade econômica e ao meio ambiente. Para ambos, no entanto, tão ou mais importante do que a diminuição da idade média dos carros seria o retorno da inspeção técnica veicular, velha conhecida do mercado e que já há muito tempo tem sido uma das principais bandeiras do aftermarket na defesa de ruas e estradas mais seguras e sustentáveis. “Quanto mais novo o veículo mais vezes faz a revisão, muito por conta da diferença de poder aquisitivo dos proprietários. O que poderia mudar essa situação e que já pudemos conferir com a inspeção veicular ambiental que vigorou na cidade de São Paulo e trouxe muitos benefícios para a qualidade do ar seria a obrigatoriedade da inspeção veicular de uma forma mais ampla que também pudesse incluir itens de segurança”, aponta Fiola, clamando por uma mobilização do setor neste sentido. “É preciso sensibilizar as autoridades que veículos em boas condições de uso ajudam na prevenção de acidentes”. Na mesma linha do colega, Ranieri Leitão contesta as análises que apontam para a idade dos carros como o único fator de julgamento quanto à sua capacidade de estar nas ruas.

Segundo ele, quem atua no setor sabe que há muitos veículos com 15 anos de circulação em perfeito estado, enquanto que carros com até 8 anos muitas vezes se encontram em condições deprimentes. Sendo assim, a inspeção técnica veicular seria ferramenta indispensável para a construção de um programa consciente de renovação da frota à medida que seriam retirados das ruas os automóveis que já não tivessem mais condições de circular com segurança e responsabilidade. “Eu sou a favor, sim, que a gente tenha um programa consistente de renovação da frota, mas que a renovação ocorra com responsabilidade da frota que precisa ser renovada”, conclui o presidente do Sincopeças Brasil.

Fonte: Novovarejo

Você também pode gostar