Por Karin Fuchs

J.R. Caporal, CEO do Grupo Auto Avaliar, autotech brasileira especializada em soluções digitais para o ecossistema automotivo, é um defensor da criação no Brasil de um modelo padronizado para a certificação de veículos seminovos. “Hoje, o conceito de carro certificado no Brasil ainda não é padronizado por um órgão central ou regulação nacional. Em geral, é utilizado por concessionárias, grandes plataformas digitais e redes de revendedores que criam seus próprios critérios para oferecer um ‘selo de confiança’ ao consumidor”, afirmou.
Segundo ele, essa certificação normalmente envolve: vistorias visuais e funcionais básicas; verificação de procedência (histórico de leilão, sinistros ou roubo/furto); eventuais revisões mecânicas e garantia limitada; e lavagem, polimento e higienização para entrega. “Entretanto, a maioria dessas certificações é mais um argumento comercial do que uma garantia robusta e padronizada de segurança e procedência”, argumentou.
J.R. Caporal acrescentou que o mercado de seminovos no Brasil, com seus mais de 15 milhões de veículos vendidos em 2024 – e com a previsão de um nove recorde neste ano, de acordo com a Fenauto – tem espaço para a certificação. “A necessidade de um sistema seguro não é apenas uma questão de técnica, mas uma estratégia de negócio. Ela pode aumentar a margem de lucro, fidelizar clientes e elevar o padrão do setor. Para isso, o mercado precisa criar um modelo que valorize a qualidade, o histórico do veículo e a transparência na transação. É um caminho para o futuro que pode beneficiar toda a cadeia automotiva”, defendeu.
Modelo ideal
Para ele, um modelo ideal de certificação de seminovos no Brasil deveria incluir critérios técnicos objetivos e rastreáveis, para gerar confiança e previsibilidade tanto para o consumidor quanto para o lojista. Ele defende um modelo com base nos seguintes pilares:
A. Procedência documental e fiscal: Checagem de leilão, sinistro e passagem por seguradoras; histórico de manutenção com carimbo da concessionária ou oficina credenciada e verificação de multas, IPVA, licenciamento e restrições judiciais.
B. Checklist técnico obrigatório (mínimo 100 itens): Itens de segurança (freios, airbag, ABS, pneus, cintos); sistema elétrico e iluminação; motor, câmbio e suspensão; estado da carroceria e chassi (evitar reparos estruturais) e teste de rodagem.
C. Classificação objetiva: Um modelo “A, B, C ou D”, como acontece com eletrodomésticos e imóveis (baseado em estado, quilometragem e manutenção).
D. Garantia mínima obrigatória: De 3 a 12 meses, com cobertura de motor, câmbio e itens elétricos essenciais.
E. Etiqueta de eficiência comercial (como o ROI): Incluindo informações sobre o “Market Days Supply”, custo de aquisição e margem potencial. Esse modelo criaria valor para o lojista, confiança para o cliente e liquidez para o mercado, como já acontece em operações estruturadas com foco em ROI acima de 100%.
Benefícios ao consumidor
Para o consumidor, a certificação é uma garantia do estado do veículo e que ele passou por uma inspeção adequada. “A expectativa do consumidor é essa, embora na prática, muitas vezes ele esteja comprando apenas uma ‘embalagem’ com aparência de garantia. Por isso, é fundamental que a certificação seja clara, técnica e auditável; seja entregue junto a um laudo com fotos, vídeos e dados de cada item vistoriado, e que venha com garantia real e documentada. Lembre-se: o cliente quer segurança, não só visual, mas mecânica e jurídica. Isso também eleva o ticket médio e a fidelização no pós-venda”, assegurou.
Riscos para o consumidor e o revendedor
Pela falta de uma certificação padronizada, J.R. Caporal pontuou que os principais riscos para o consumidor são: “a compra de veículos com vícios ocultos; alto risco de defeitos logo após a compra; risco de adquirir veículo sinistrado ou com histórico judicial e menor confiança na marca/revenda”.
E para o lojista/revendedor, “risco de recompra ou disputa judicial; margem espremida por retrabalho (reclamações, garantias, trocas); perda de reputação online (avaliações ruins no Google, OLX etc.); baixo giro de estoque (carros com desconfiança não vendem) e dificuldade em gerar ROI saudável e previsível”, especificou.
Certificação fiscalização
Questionado sobre a quem caberia certificar e fiscalizar, J.R. Caporal respondeu que o ideal seria a certificação ser gerida por uma entidade independente. “Como uma associação do setor (Fenauto, Fenabrave ou Abraciclo), uma startup especializada em inspeção digital (modelo já utilizado por plataformas como Auto Avaliar), ou mesmo uma auditoria técnica do Inmetro ou Detran regional”, sugeriu.
Já a fiscalização, disse ele, “poderia seguir o modelo descentralizado, mas com auditorias aleatórias e penalidades em caso de certificação falsa. A digitalização pode facilitar isso através de QR Code, blockchain ou plataformas de CRM integradas”, finalizou.
Fonte: Balcão Automotivo
































