Por Lucas Torres
Principal canal de comercialização de autopeças para o cliente final, o varejo é um dos elos que sofre os efeitos mais diretos do mercado de produtos ilegais. A presença de peças piratas ou sem origem comprovada nas prateleiras não apenas compromete a credibilidade do setor, como pressiona os lojistas que atuam dentro da legalidade a competir com margens distorcidas. Além disso, torna-se mais difícil para o consumidor médio distinguir entre uma oferta vantajosa e um risco disfarçado.
Esse é um cenário que desafia o equilíbrio entre competitividade e responsabilidade, e que demanda atuação coordenada entre o poder público, o mercado e a sociedade. Isso porque, mesmo com o avanço de leis como a do Desmonte e com a intensificação das ações fiscalizatórias em estados como São Paulo, o volume de peças ilegais circulando no país segue expressivo, alimentado por brechas regulatórias, canais informais e, muitas vezes, pela falta de conhecimento técnico do próprio consumidor.
Lideranças do setor varejista de autopeças têm reiterado essa preocupação. Em comentários sobre o tema, o presidente do Sincopeças-SP, Heber Carvalho, alertou para os impactos econômicos e institucionais da pirataria no mercado. Para ele, não se trata apenas de coibir quem vende, mas também de reconhecer que há uma engrenagem que funciona porque existe demanda. “Se tem quem vende, é porque tem quem compra. Isso vale tanto para o consumidor quanto para algumas lojas do setor, que infelizmente ainda atuam à margem da legalidade”, afirmou.
Carvalho destacou que a evasão fiscal gerada por esse comércio irregular compromete investimentos, empregos e o próprio futuro do varejo automotivo. Por isso, defende que a rastreabilidade seja vista como um ativo — algo que protege o cliente e valoriza o lojista formalizado. “É importante que a peça esteja regularizada, que tenha a nota fiscal. O consumidor precisa ter segurança sobre o que está comprando”, disse.
Números que explicam os efeitos da pirataria de autopeças e o impacto da regulação dos desmanches neste mercado
- R$ 12 bilhões: é o prejuízo anual estimado com a pirataria de autopeças no Brasil
- 34%: foi a queda nos roubos de veículos no estado de São Paulo nos dois anos seguintes à regulamentação da Lei do Desmonte, entre 2014 e 2016.
- 80.869: total de roubos e furtos de veículos registrados em São Paulo em 2024 — número inferior aos 111 mil registrados em 2014
- 883: número de estabelecimentos atualmente credenciados junto ao Detran-SP para atuar com desmontes de veículos.
- 1: é a frequência média de visitas anuais realizadas pelo Detran-SP aos desmontes formalizados, com base em sua estrutura de fiscalização.
- Mais de 800: total de pontos de fiscalização do Detran-SP integrados a bases da Polícia Militar, permitindo o cruzamento inteligente de informações.
- 0,7: é o incremento no número de roubos de veículos por mês associados à presença de um desmanche adicional em uma mesma localidade.
Fonte: Novo Varejo