Varejo de autopeças já pode ter inteligência artificial

21/08/2024

Saiba como implementar a tecnologia para alavancar seu faturamento e a produtividade da loja sem gastar muito

Por Lucas Torres

Embora eventos de referência como a NRF estejam mostrando que o varejo físico e as práticas tradicionais do setor estão retomando espaço significativo na estratégia das empresas, o processo de digitalização e a busca por maior produtividade por meio da adoção de novas tecnologias segue a todo vapor. Um dos temas que tem ganhado mais relevância é a inteligência artificial (IA). Estudo da CB Insights, consultoria global em tecnologia empresarial, apontou que a IA Generativa tem o potencial de alavancar a produtividade da indústria varejista em até 2% – o que, em termos de cifras, corresponde a cerca de US$ 500 bilhões por ano. Apesar de todo esse potencial, no entanto, as novidades trazidas por essa forma mais ‘avançada’ de IA – cuja característica principal é reduzir a necessidade da interferência humana – fazem com que seja comum observarmos até mesmo especialistas tratando o tema de maneira etérea. Isto é, se atendo apenas às promessas no lugar de aterrissar as soluções de modo prático no dia a dia das empresas.

Segundo o diretor-executivo da Petina Soluções em Negócios Digitais, Rodrigo Garcia, porém, olhar a IA pela ótica futurista é estar atrás de uma corrida que, para diversos negócios, já é uma realidade cotidiana. “Hoje eu acho que já dá pra fazer tudo com a IA. Até uma empresa que trabalha com estoque consegue jogar lá o que você vendeu no mês e a IA vai te dar uma previsão do que você precisa de estoque mês que vem. Outro exemplo: você joga lá o custo do produto, joga prêmio com o custo do produto, imposto, comissão…

Você joga para a IA e ela vai te dar uma previsão de sugestão de venda”, afirma o executivo. Obviamente, o comentário de Garcia se dá em um contexto de auxílio, sempre com supervisão humana. Basta observar o noticiário para nos depararmos com casos em que as chamadas ‘alucinações da inteligência artificial’, ou seja, erros de cruzamento de dados, causaram enormes prejuízos para as organizações.

Alguns dos casos mais conhecidos de alucinação ocorreram quando a IA foi utilizada via chatbots para atendimento direto ao consumidor – como o ocorrido com a empresa de aviação ‘Air Canada’, quando o robô informou um cliente que ele teria reembolso de metade da passagem em caso de viagem emergencial em razão de morte familiar, algo que, na verdade, não fazia parte da política da empresa. Tais casos levaram as empresas fornecedoras da tecnologia como a OpenAI a divulgarem alertas ao mercado de que suas ferramentas ainda tinham limitações que precisariam ser trabalhadas ao longo do tempo.

IA para anúncio em marketplaces e e-commerces é uma das ferramentas mais acessíveis aos varejos

O fato de a inteligência artificial não estar pronta para substituir processos e ações das empresas, porém, não significa que a IA não esteja preparada para auxiliar o varejo de maneira segura e assertiva. Segundo Rodrigo Garcia, diretor-executivo da Petina, um dos casos mais comuns em que a tecnologia se aplica é no preenchimento correto de anúncios em marketplaces. “As ferramentas atuais de IA são utilizadas para descrever produtos, criar e editar imagens, ou seja, não tem mais a necessidade de ficar mexendo em Photoshop. Além disso, elas ajudam também na precificação”, afirma o executivo. Vale destacar que empresas como a Lynx e os próprios marketplaces como o Mercado Livre e o AliExpress reforçam a importância da categorização correta e de uma descrição assertiva do produto como fatores fundamentais para destacar produtos neste ‘ambiente aberto’ de concorrência.

Neste contexto, utilizar a IA para formular títulos com boas práticas, seguindo as orientações de um tamanho entre 100 e 180 caracteres, bem como de presença de palavras-chave já nos 20 primeiros caracteres, pode não apenas agilizar a inserção de produtos nesses ambientes, mas também a lucratividade dos negócios. “Os sistemas hoje já possuem uma inteligência que entende os cantos e os pontos-chave, facilitando a criação de benefícios tangíveis para o varejo. Existem recursos que você pode descrever um produto, e o sistema já sugere preços. Por exemplo, se você colocar ‘sapato’, ele busca no Google Shopping os preços disponíveis e sugere o preço de venda com base na concorrência “, aponta Garcia.

Conheça mais áreas em que o varejo já se beneficia da IA

Apontar a descrição de produtos como uma das manei – ras práticas de implementar a inteligência artificial no varejo é uma forma de mostrar que a tecnologia não se restringe a ‘grandes temas’ – muitas vezes distantes das pequenas e médias empresas. O exemplo, porém, está longe de ser o único, ainda que consideremos esta proposta de apontar recursos simples e acessíveis de aplicação. Pensando nisso, o NV fez uma curadoria das soluções disponibilizadas no mercado para auxiliar as empresas do setor a, quem sabe, considerarem a implementação de alguma modalidade dessa tecnologia ainda em 2024. Confira as opções!

1 – Levante insights para seu relatório de tendências

Quais seriam suas orientações para um colaborador dedicado a fazer um levantamento recorrente sobre as principais tendências do seu mercado e dos consumidores que orbitam em torno dele? Caso você tenha tido insights com o simples contato com essa pergunta, não os desperdice. Afinal, ainda que você não tenha um colabora – dor com essa atribuição, esse briefing pode servir como seu primeiro prompt (nome dado às instruções para ferramentas de inteligência artificial) para o Chat GPT com o intuito de criar um relatório de tendências. A prática, já recorrente em agências de comunicação e grandes veículos como o The New York Times em busca de atualizações, já começa a ser implementada por empresas do varejo. Para serem mais efetivas, porém, é importante que a ferramenta de IA utilizada esteja, por exemplo, treinada a vasculhar no banco de dados interno da empresa. Assim, além de olhar para fora, a tecnologia poderá identificar ações e comportamentos dos consumidores, permitindo que a inteligência gerada possa ser usada para o lançamento de promoções e até mudanças no tom de comunicação.

2 – Construa conteúdo assertivo

Se você atua no varejo, certa – mente já ouviu falar no termo omnichannel, que se refere a estratégias multicanais em que o cliente não percebe uma fronteira exata entre, por exemplo, os ambientes físico e digital. O mesmo conceito é utilizado também para as aplicações possíveis da IA dentro de um negócio varejista.

Afinal, uma empresa que ela – bora relatório de tendências a partir dos insights internos e externos identificados pela inteligência artificial pode utilizá-los também para construir conteúdo assertivo nas redes sociais, no blog e até mesmo nos disparos via WhatsApp. As vantagens da utilização da IA neste contexto vão, aliás, além do mapeamento de temas e sugestão de linguagem utilizada. Com os prompts corretos, a tecnologia pode dar o pontapé inicial para a construção do conteúdo, desde o texto até a ilustração a ser utilizada, cabendo aos colaborado – res da empresa a missão de fazer a revisão e, de preferência, o refinamento do conteúdo sugerido.

3 – Esteja disponível 24h por meio do chatbot

A forma como você atende o seu cliente no ambiente digital atualmente é mais veloz do que a que você atendia há cinco anos? Segundo o relatório da Zendesk, uma resposta negativa a essa pergunta pode indicar problemas à vista com os consumidores. Afinal, 86% deles esperam ser atendidos de maneira mais rápida do que no passado próximo (mais do que isso, 96% deles esperam ser atendidos nos primeiros 10 minutos!). Para atender essa demanda por agilidade, as empresas brasileiras já implantaram 144 mil chatbots – escopo em que o varejo representa 25%. Como dito no início desta reportagem, porém, o uso da tecnologia demanda cautela, afinal, ainda que seja conduzido por um robô, qualquer chat de conversa da empresa com o cliente é considerado uma ‘comunicação oficial’ e de responsabilidade da primeira. Para unir ‘avanço e cautela’, especialistas sugerem que os chatbots devam ser utilizados em áreas específicas como na resposta das perguntas mais frequentes, no direcionamento de pedidos de segunda via, na alteração de datas de envio e, claro, no auxílio aos processos de compra.

Mesmo nesses casos, porém, é fundamental garantir que os chatbots estejam devida – mente treinados e tenham seu desempenho monitorado por meio de pesquisas recorrentes de satisfação.

O panorama da IA no varejo brasileiro

• 47% dos varejos brasileiros já usam alguma forma de IA;

• Falta de infraestrutura e dúvidas sobre o retorno do investimento são maiores barreiras de entrada;

• Chatbot (56%) e criação de conteúdos de marketing (50%) são as ferramentas mais utilizadas;

• Maior parte das varejistas que usam a IA (56%) gastam no máximo R$ 10 mil por ano;

• Aumento da eficiência (84%) e redução de custos (42%) são os benefícios mais frequentemente apontados pelos varejistas que adotaram a IA;

• 89% das empresas que a adotaram estão satisfeitos com a tecnologia.

Fonte: Novo Varejo

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