Entidade considera que resultados estão em linha com suas projeções, mas sugere que pandemia em alta, economia em baixa e ruídos da política podem trazer retrocesso (PEDRO KUTNEY, AB)
A Anfavea, associação dos fabricantes de veículos instalados no Brasil, avalia que os resultados do mercado brasileiro no primeiro trimestre de 2021 estão em linha com as projeções feitas pela organização no início do ano, mas pondera que existem riscos relevantes no horizonte que podem tirar o desempenho da rota prevista. Durante apresentação dos dados de desempenho do setor na quarta-feira, 7, Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade, avaliou que “são aceitáveis” os números de vendas, exportação e produção até o momento, diante do agravamento da pandemia de coronavírus associada a todos os problemas econômicos e políticos que o País enfrenta.
No primeiro trimestre foram vendidos no País 527,9 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, em queda de 5,4% sobre o mesmo período de 2020, quando a pandemia afetou duramente o mercado a partir da segunda quinzena de março, jogando a média de vendas diárias da casa dos 10 mil para 1,4 mil no fim daquele mês. Este ano, apesar da sensível piora nos índices de contágio e mortes pela Covid-19, com adoção de medidas de isolamento social e de restrição ao comércio, o mercado está melhor adaptado com a doença e os emplacamentos seguiram estáveis, de 8 mil a 9 mil por dia útil, mas abaixo do que era registrado antes da pandemia no ano passado.
“A pandemia é a mesma, o que mudou foi o comportamento das pessoas e das concessionárias, que continuaram vendendo mesmo com as portas fechadas. Hoje, diferente do ano passado, usamos ferramentas virtuais de vendas e temos licenciamentos digitais, que ajudaram a atenuar a queda no trimestre. Claro que queremos resultados melhores, mas diante das circunstâncias até que foi razoável. O que preocupa é o futuro, resta saber até quando o consumidor terá renda para continuar comprando”, avalia Luiz Carlos Moraes.
O dirigente afirma que no momento os números estão em linha com as projeções da Anfavea porque na virada do ano o cenário já se mostrava difícil e a entidade projetou números mais conservadores, estimando vendas de 2,36 milhões de veículos em 2021, em alta de 15% sobre 2020, além de exportações de 353 mil unidades (+13%) e produção de 2,52 milhões (+25%). “Por enquanto os números convergem para o que prevíamos, mas existem fatores fora do controle, como o avanço da pandemia e falta de componentes, que podem mudar essa rota”, reconhece Moraes.
DETERIORAÇÃO ECONÔMICA
O dirigente aponta que a situação econômica do País está se deteriorando com o agravamento da pandemia e “ruídos políticos” que em nada contribuem para melhorar a situação já muito crítica. Entre as diversas barreiras ao crescimento colocadas à frente, Moraes elenca a persistente desvalorização cambial, a volta da inflação e a consequente elevação dos juros que afeta diretamente as vendas de veículos. Ele recorda que muitos analistas já dão como certa a recessão econômica no primeiro trimestre e provavelmente no segundo também.
Com tudo que está acontecendo, a confiança do consumidor está caindo, o desemprego registra altas históricas com mais de 14 milhões de desempregados e outros 30 milhões de desalentados ou subutilizados, enquanto os preços dos veículos não param de subir, alimentados pela alta do dólar e reajustes elevados de insumos. “Nenhum consumidor aguenta pagar tantos aumentos”, ressalta Moraes.
O dirigente também citou outro fator que eleva preços e reduz vendas: o aumento da alíquota do ICMS aplicado a veículos novos no Estado de São Paulo, que em janeiro subiu de 12% para 13,3% e agora em abril foi novamente elevado para 14,5%. “Tentamos convencer o governo paulista que este não é o momento para aumentar impostos, que vai provocar queda nas vendas no maior mercado do País e reduzir a arrecadação do Estado”, disse.
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Fonte: Automotive Business