Quando o pequeno lojista vê o modelo de store in store da Casas Bahia, com marcas bem conhecidas lá instaladas, corre o risco de achar que o formato ‘não é para o seu bico’.
Afinal, a parceria envolve marcas como Tramontina, Soneda, Casa Bauducco e Wine.com.
Júlio Takano, arquiteto que tem participado de vários projetos de loja dentro de loja no Brasil, assegura que o comerciante que pensa assim está equivocado.
Para ele, o formato de store in store, que agora faz parte de um conceito maior de parcerias entre lojistas, chamado de ecossistema, tem tudo para dar certo também para os pequenos.
Redes do interior que estão com espaços ociosos, principalmente devido aos efeitos da pandemia, diz ele, podem dar a volta por cima com este modelo de negócio.
Veja abaixo o que diz o arquiteto Júlio Takano sobre o assunto, que ganha cada vez mais espaço nas rodas de conversa dos varejistas.
Como um pequeno lojista pode se encaixar neste modelo? Quais seriam as melhores opções?
Com limitações de espaço e capital para desenvolver sozinho um modelo de store in store e ecossistema de marcas, uma solução para os pequenos lojistas é, inicialmente, aderir a um marketplace de grandes redes.
Por exemplo, tornando-se um seller (nome dado ao comerciante que adere ao marketplace físico de uma grande loja), para que seus produtos e serviços fiquem conhecidos nacionalmente.
Desta forma, o comerciante consegue construir a sua marca, criar reputação e relevância.
O próximo passo é participar de programas de qualificação de sellers, promovidos justamente por esses grandes marketplaces.
Os lojistas terão à disposição treinamentos e qualificações específicas em pesquisas de mercado sobre o público-alvo, posicionamento de produtos, planejamento de estoque.
Também terão acesso a estúdios fotográficos para promover fotos dos produtos, além de curadoria para gerar interatividade e desejo, apresentação digital, redução de custo de aquisição de clientes, planejamento comercial, logística e muito mais.
Inicia-se uma jornada de digitalização e imersão em um ecossistema de soluções para projetar a marca do pequeno lojista para o mercado nacional.
Por meio da iniciativa, este varejista irá conhecer outros pequenos lojistas que, assim como ele, iniciaram esta jornada e percebem a conveniência e a complementaridade de produtos e serviços entre si.
Ao se conectarem, estes mesmos pequenos varejistas podem se unir para preencher os chamados desertos urbanos e criar juntos store in store e ecossistemas de suas marcas integradas, conhecidas como lojas de vizinhança.
Ao mesmo tempo, essas mesmas lojas podem ser hubs logísticos de entrega, já que estão muito perto dos clientes finais.
Enfim, um ecossistema que faz com que a inteligência local do varejista pequeno, que conhece seu cliente pelo nome, hábitos e costumes, ganhe escalabilidade, preenchendo as necessidades dos clientes por meio da integração de marcas locais.
Desta forma, eles oferecem uma solução modular, flexível, com espaços pequenos e marcas complementares, altamente replicável e que, logisticamente, como micro hubs de distribuição, interessam muito aos grandes marketplaces nacionais.
É preciso estar muito capitalizado para poder pensar em participar deste modelo de negócio?
Primeiramente, é necessário criar uma equipe para capitanear o modelo de store in store e ecossistema de marcas dentro da pequena varejista. Sem esta liderança, o modelo dificilmente sairá do papel.
Esta equipe será responsável por analisar mix, buscar produtos e serviços complementares e convenientes aos clientes, rever estoques, descobrir marcas e especialistas em desenvolver um plano de conceito de arquitetura de negócios, que cristalize a estratégia comercial em um espaço incrivelmente vendedor. Para isso, não serão necessárias quantias astronômicas. Ao contrário.
É a partir deste conceito de arquitetura de negócios que se inicia o road show, apresentando aos parceiros do ecossistema modelo comercial no qual todos ganham por meio do incremento de vendas e, principalmente, do aumento de percepção da marca e do portfólio de produtos e serviços com experiências imersivas.
Veja o que o conceito de arquitetura de negócios apresenta aos novos parceiros do ecossistema: Posicionamento + Proposta de Valor, Plano de Marketing + Comunicação, Estratégia de Sortimento + Gestão de Categorias + Precificação, Gestão de RH + Modelo de Gestão, Cadeia de Suprimentos e Fornecedores Estratégicos + Logística, Processos, Tecnologia + Ativação Digital, Estratégia de Canais, Localização + Expansão, Plano de Negócio e Demonstrativo de Resultados, Imagens e Vídeos 3D inspiradores que tornam tangível o sonho desejado.
Lojas grandes do interior, que possuem grandes espaços, podem participar deste modelo? De que forma? Quais seriam as vantagens? Ela tem de fazer algum investimento para isso?
Grandes redes do interior, que possuem grandes espaços ociosos, são exatamente as lojas que podem e devem abrigar o modelo de store in store, preferencialmente, criando seus ecossistemas de marcas convenientes e complementares ao seu modelo de negócio.
Primeiramente, é necessário fazer um inventário de estoque para levantar os produtos que não são vendidos há mais de 12 meses e, com isso, realizar promoções para liberar mais espaço ainda de loja, reduzindo o capital imobilizado em estoque.
A partir deste ponto, é possível vislumbrar a área de vendas líquida disponível para dar início ao conceito de arquitetura de negócios, com todas as informações também levantadas, e calcular o índice de performance de vendas (KPI) por m², dividindo-se a venda pela metragem quadrada de loja.
Grandes lojas do interior têm a seu favor a qualidade de serem conhecidas e por estarem localizadas nos maiores e melhores pontos comerciais da cidade. Ajuda muito quando o conceito de arquitetura de negócios é lastreado por uma reputação do varejista.
Parceiros de produtos e serviços complementares conseguem perceber o quanto o ecossistema que se pretende formar pode posicionar suas marcas nas cidades onde eles estão ansiosos para se tornarem presentes.
O grande objetivo quando falamos em criar store in store e ecossistema de negócios é criar os maiores e melhores canais de produtos e serviços para os parceiros estratégicos.
E, quando isso ocorre e é muito bem estruturado, dizemos que o capital busca no atual momento econômico excelentes projetos que mitiguem riscos e maximizem os seus dividendos.
A grande vantagem é que o varejista não terá de investir no modelo de arquitetura de negócios sozinho. Trata-se de estruturar um coletivo de marcas que acredite, some esforços operacionais e recursos financeiros para ajudar a blindar mercado.
Fonte: Diário do Comércio – Imagem: Freepik