Anfavea diz que algumas linhas já foram paralisadas; temor é de paradas prolongadas (WILSON TOUME, PARA AB)
A Anfavea divulgou seu balanço mensal na segunda-feira, 7, e confirmou que as fábricas de veículos no País registraram o melhor resultado de produção desde outubro do ano passado, com 238,2 mil unidades, o que representa alta de 0,7% em relação ao número de outubro (236,4 mil), que já havia sido bom.
Quando comparado com novembro de 2019, a produção deste ano também representa aumento, de 4,7%, mas o acumulado de 11 meses segue inferior ao registrada no ano passado. São 1,8 milhão de veículos fabricados entre janeiro e novembro deste ano, ante 2,8 milhões produzidos no mesmo período de 2019, ou seja, recuo de 35%. É o pior número registrado desde 2003, de acordo com a Anfavea.
Apesar do bom resultado no mês, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, aproveitou o evento virtual para fazer um alerta com relação aos problemas que o setor automotivo está enfrentando e que devem seguir dificultando a operação das empresas nos próximos meses. O aumento dos custos de produção, incluindo a desvalorização acentuada da moeda brasileira (33%), é um dos principais obstáculos. “Esse aumento tem impacto em toda a cadeia produtiva do setor e é muito difícil absorver e deixar de repassar esses acréscimos, porque são muito fortes”, explicou Moraes.
Os principais riscos para a indústria automotiva neste momento, destacou o dirigente, são a falta de insumos – tanto nacionais quanto importados – e o aumento no número de casos de Covid-19 no Brasil e no exterior. Segundo Moraes, a parada abrupta na produção, provocada pela pandemia em março, e a retomada acelerada a partir do terceiro trimestre provocaram um descompasso entre oferta e demanda que está impactando toda a cadeia produtiva.
“Temos observado problemas com falta de aço, borracha, termoplásticos, pneus e mesmo papelão para as embalagens; esse é um risco imediato e não teórico, já temos observado casos de microparadas nas linhas de produção que podem se transformar em interrupções mais longas já em dezembro”, afirmou o executivo, lembrando que esse é o maior caso de falta de matérias-primas dos últimos 19 anos.
ESFORÇO CONJUNTO PARA SEGUIR PRODUZINDO
De acordo com o dirigente, as interrupções de produção vêm sendo compensadas por horas extras e jornadas adicionais de trabalho aos sábados. “As montadoras estão trabalhando junto com os fornecedores na compra de matéria-prima, para que os fornecedores sigam trabalhando e, consequentemente, as montadoras também não interrompam suas operações, mas não conseguimos fazer milagres”, disse.
A segunda onda de contaminação pelo novo coronavírus no exterior é outro problema que vem prejudicando as operações da indústria. “Isso afeta toda a logística de componentes importados”, explicou Moraes. O dirigente revelou que alguns itens trazidos do exterior já estão em falta, e que para não paralisar a produção, as empresas estão bancando o transporte desses componentes por frete aéreo, “o que resolve o problema da falta da peça, mas cria outro, o de aumento dos custos”, afirmou.
“A queda da produção no auge da pandemia foi muito forte e ainda vai demorar para arrumar essa desorganização provocada na cadeia produtiva do setor. A falta de componentes e de insumos ainda deve se estender pelo primeiro trimestre de 2021, antes de voltarmos à normalidade”, afirma Luiz Carlos Moraes.
O aumento no preço dos insumos foi outro problema elencado pelo presidente da Anfavea em sua apresentação, na qual usou o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), que em novembro acumulava alta de 24,5% no ano. “Mas nós temos itens que apresentam 40%, 50% de aumento”, observou Moraes. O aço, um dos itens fundamentais para a indústria, foi usado como exemplo, já que o setor siderúrgico fala em aumento de 30%, e a indústria automotiva não tem como absorver o acréscimo. “Isso afeta todos os setores da Anfavea – máquinas agrícolas, veículos pesados, comerciais leves, automóveis. Cada montadora está tentando administrar a sua dor da melhor forma possível, mas esse é um desafio adicional que chama a atenção por sua magnitude”, afirmou.
O estoque de veículos, está no nível mais baixo desde março de 2004, com 119,4 mil unidades à espera de compradores nas montadoras e nas concessionárias. O volume representa apenas 16 dias de vendas. De acordo com Moraes, isso ainda é reflexo dos ajustes que as empresas do setor estão realizando para se adequar ao momento atual. “As dificuldades de produção também se refletem nos estoques menores”, resumiu.
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