Preço de insumos, falta de chips e cenário econômico limitarão crescimento em 2022

Com escassez de semicondutores, Anfavea diz que hoje não consegue planejar mais de quatro semanas de produção. Em 2021, até helicóptero foi usado para agilizar entrega das peças às fábricas (Zeca Chaves, AB)
Preço de insumos, falta de chips e cenário econômico limitarão crescimento em 2022

A projeção de crescimento da Anfavea de 8,5% para as vendas internas de veículos e de 9,4% na produção nacional pode parecer otimista aos olhos de alguns analistas do setor, mas para a entidade que reúne as montadoras trata-se de números até conservadores em função do quanto o mercado está distante da sua normalidade. 

“Apesar das dificuldades, fechamos o ano passado com 2,12 milhões de unidades e estamos projetando 2,3 milhões. Ou seja, estamos falando de 180 mi adicionais, não é um crescimento otimista”, afirmou Luis Carlos Moraes, presidente da Anfavea, em entrevista online nesta sexta-feira (7).


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Moraes fez questão de lembrar que a projeção da Anfavea está longe dos níveis pré-pandêmicos – 2019 fechou o ano com 2,8 milhões – e muito distante da capacidade de produção da indústria automotiva brasileira, que é ao redor de 4,5 a 4,7 milhões de unidades. 

Não fossem as dificuldades previstas pela frente, o presidente da entidade garante que esses números seriam bem maiores. E dificuldades não vão faltar pela frente, como lembrou o executivo, a começar pela escassez de componentes eletrônicos, que se estima menor em 2022, mas não se sabe o quanto. Atualmente essa crise ainda preocupa as montadoras. 

“A previsibilidade de semicondutores hoje é um horizonte de quatro semanas, não tem mais que isso. Se você perguntar para seu fornecedor o que pode acontecer em fevereiro, a gente não tem uma noção clara por conta dessa instabilidade na oferta de semicondutores, que está acontecendo no mundo.” 

A Anfavea lembrou que no ano passado as fábricas se desdobraram como puderam para tentar interromper a produção o mínimo possível, apesar das adversidades. Afinal, houve desestabilização da logística global, problema no fluxo dos navios, falta de contêineres para o transporte e, claro, a escassez dos microchips, que obrigou as empresas a buscarem alternativas que estivessem à mão.

 “Nós trouxemos muita coisa por avião, inclusive soubemos de algumas empresas que receberam as peças no aeroporto e transportaram de helicóptero só para chegar mais rápido à fábrica”, contou Moraes, que prevê que em 2022 ainda teremos o risco de algumas paralisações de linha de produção, mas em menor nível do que foi no ano passado.

Cenário econômico preocupa

Portanto, a falta de chips e o desarranjo das cadeias de fornecimento foram consideradas na projeção da Anfavea, assim como a preocupação com o cenário econômico em 2022 e o aumento de custo dos demais insumos necessários para a produção de veículos.

Já se fala em reajuste dos preços de algumas matérias-primas, como o aço, e de repasse de aumentos de custo que os fornecedores não aplicaram em 2021, ou pelo menos não integralmente. 

Além disso, o cenário futuro dos preços ainda deverá ser impactado pela alta dos juros (ao redor dos 11%), uma inflação acima da meta e a estimativa de um PIB que estará longe do que se esperava um semestre atrás. 

A previsão da Anfavea para 2022 é de um crescimento do PIB de 0,5%, mas a entidade sabe que esse é tema muito controverso no mercado: enquanto o Banco Central trabalha hoje com um aumento de 1%, analistas do mercado financeiro falam em 0,36% e consultorias falam em PIB nulo (XP) e ou até em queda de 0,5% (Asa Investments).

Como 2022 é ano de eleições, espera-se também que o ano seja marcado por uma grande volatilidade do câmbio, ajudando a complicar esse panorama.

Risco do agravamento da pandemia

O que pode mudar esse cenário de leve crescimento de vendas e produção é o agravamento da pandemia de Covid-19 diante do recente aumento nas contaminações pela variante ômicron. 

Por enquanto, a Anfavea diz que está mantida a participação nos grandes eventos do setor programados neste ano, Agrishow (25 a 29 de abril), Fenatran (7 a 11 de novembro) e Salão do Automóvel (ainda sem data), mas isso pode mudar se houver avanço da pandemia.

“Esse é um tema preocupante, pois pode haver sobrecarga na área da saúde. Já estamos vendo o cancelamento de eventos, o que traz impacto na economia, porque já estávamos considerando a retomada mais forte da área de serviços. Também aumenta o risco de pessoas afastadas das nossas fábricas ou de fornecedores, tanto aqui quanto lá fora. Isso estamos monitorando diariamente. A gente acompanha o boletim econômico e sanitário todos os dias. A pandemia não terminou e a gente não pode subestimar o impacto dessa nova onda.”

Fonte: Automotive Business

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