Para empresários, cenário econômico complicado está longe de terminar

Estagflação, guerra, falta de insumos e eleições devem frear recuperação das atividades e desestimular investimentos, na avaliação dos integrantes do Comitê de Conjuntura da ACSP (Por Karina Lignelli | Repórter lignelli@dcomercio.com.br)
Para empresários, cenário econômico complicado está longe de terminar

O cenário continua difícil para a economia brasileira em 2022. Juros elevados, falta de insumos para o setor produtivo, conflito militar entre Rússia e Ucrânia que afeta preços dos combustíveis e alimentos, além de prejudicar o fornecimento de fertilizantes. E ainda teremos as eleições, que ampliam as incertezas na economia.  

Esse panorama, traçado pelos empresários e economistas presentes à reunião do Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) realizada na última quinta-feira (31), sinaliza um ano bastante desafiador. 

Os indicadores econômicos dão a dimensão dos problemas: o desemprego, embora tenha recuado nos últimos meses, ainda afeta 12 milhões de brasileiros. O poder de compra diminuiu, impactado pela inflação, que já supera os 10% ao ano.

De acordo com um representante do setor de supermercados, o setor, que já vinha em desaceleração, registrou queda de 1,8% em fevereiro por conta da alta dos preços. A projeção é fechar o trimestre com resultado negativo em termos reais. 

Já os empréstimos para pessoa física estão mais caros devido à elevação da Selic, que se aproxima de 12%, e mais raros, já que os bancos temem o aumento da inadimplência.  

Todos esses são fatores afetam diretamente a confiança do consumidor, que tenta ser estimulada por medidas paliativas, como a antecipação do 13° salário dos aposentados, e a liberação de saque do FGTS. Segundo o governo, essas ações devem injetar R$ 90 bilhões na economia. Mesmo assim, são medidas pontuais e temporárias.

A expectativa dos empresários é que a economia fique praticamente estagnada em 2022. “Seja por ilusão ou não, a injeção de recursos é um fator positivo que ajudará a empatar o jogo, resultando num crescimento anual do PIB entre 0,5% e 1%”, destacou Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da ACSP presente à reunião.

Sem perspectivas de um crescimento razoável do PIB, e tomados pelas incertezas do processo eleitoral, os empresários reduzem a disposição em investir. “Durante a campanha eleitoral, promessas de populismo aumentarão a percepção de um possível risco fiscal, acrescentando, junto à a guerra na Ucrânia, um freio adicional ao crescimento da economia”, afirmou.  

E a inflação? Pelo menos no curto prazo, continuará com um comportamento bastante desafiador, devendo atingir, agora em abril, o pico do acumulado em 12 meses e atingindo os 12%, sinalizou um representante do setor financeiro. 

Porém, com essa subida da taxa de juros e a valorização do real, a perspectiva é que, a partir de maio haverá uma diminuição do indicador que, de acordo com projeção do mercado financeiro, deve fechar o ano entre 8,8% e 9%, disse. 

O PROBLEMA DOS SEMICONDUTORES

A normalização do fornecimento de semicondutores, que impactou fortemente setores como o de eletroeletrônicos e o automobilístico desde o início da pandemia, vai se arrastar um pouco mais para frente.

De acordo com um representante da indústria, o mercado global assiste a um agravamento dessa crise com a guerra Rússia-Ucrânia, já que os dois são grandes produtores mundiais de paládio e gás neônio, insumos importantes na produção de chips.

“Nesse momento, há reclamações sobre pressão de custos e expectativa de novos aumentos de fretes internacionais, além da dificuldade de repasse”, afirmou.

Mas ainda há outros problemas que têm afetado alguns segmentos da indústria, apelidado pela Receita de “camelódromo virtual”.

Ou seja, compras feitas no comércio crossborder (realizado por plataformas de e-commerce estrangeiras para consumidores no exterior, como Shopee, AliExpress, Shein e até o Mercado Livre), que vendem no Brasil mas não pagam imposto.

A subnotificação de valores (ou seja, abaixo do valor real dos produtos) também está no radar da Receita, já que a legislação autoriza a venda de itens de até US$ 50 por pessoas fisicas através dessas plataformas sem pagar impostos de importação, explicou um especialista em e-commerce.

“O governo federal acaba de anunciar uma medida provisória para coibir essa prática”, destacou. De acordo com uma representante da indústria de eletroeletrônicos, em janeiro, junto com variante Ômicron, o segmento caiu 13% em janeiro por conta desse problema.

Fonte: Diário do Comércio

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