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Os desafios para operar no e-commerce

Ao contrário do que muitos pensam, a maior dificuldade não está na tecnologia, mas na jornada de vendas pela internet sem conhecimento prévio, estratégia ou apoio, segundo pesquisa da Loja Integrada

05/09/2025

Por Karin Fuchs

Uma pesquisa da Loja Integrada aponta os principais desafios por quem está começando no e-commerce, a partir da análise do comportamento de 505 lojistas ativos da plataforma, com base em 45 perguntas aplicadas a empreendedores iniciantes e mais de 1.150 respostas. Realizada no período de janeiro a abril de 20225, uma das constatações foi que 61% dos lojistas iniciam sem saber o que vão vender e 33% esperam retorno imediato, mesmo sem experiência prévia ou estrutura mínima de operação.

Dentre os principais obstáculos enfrentados pelos iniciantes, os principais revelados pela pesquisa foram: divulgação dos produtos (40,2%), estruturação da loja (32,5%), precificação (16%) e configuração técnica (7,3%). E, também,

a maioria dos lojistas ainda recorre a conteúdos gratuitos e de fácil acesso, como redes sociais (49,7%), vídeos online (22,4%) e buscas no Google (18,6%), enquanto apenas 1,9% investem em cursos pagos.

Nesta entrevista, Lucas Bacic, CEO da Loja Integrada, comenta os resultados.

Atualmente, a Loja Integrada já soma 2,7 milhões de lojas criadas no Brasil, mas apenas 24 mil estão ativas.

Balcão Automotivo – Muitos empreendedores que têm loja física e decidem entrar no comércio eletrônico optam por eleger um de seus funcionários para esta tarefa. Quais são os possíveis erros que podem acontecer pela falta de especialização?

Lucas Bacic – Um dos principais equívocos é tratar o e-commerce como uma extensão automática da loja física, quando na verdade se trata de um canal com dinâmicas, métricas e estratégias próprias. Ao delegar essa missão a alguém que não tem formação ou experiência no ambiente digital, corre-se o risco de erros básicos, como falhas de precificação, má gestão de catálogo, ausência de estratégias de tráfego e conversão, o que compromete o desempenho da loja virtual. Isso pode levar a um cenário frustrante, em que o empreendedor acredita que “vender online não dá certo”, quando, na verdade, o problema está na ausência de preparo técnico e estratégico.

Lucas Bacic, CEO da Loja Integrada – Foto: Divulgação

Além disso, é importante entender que o investimento que você faz é proporcional à oportunidade. Para quem tem presença limitada no mundo físico, o online pode abrir acesso a um mercado 10, 50 vezes maior. Nesse caso, é essencial ter alguém com capacidade para fazer aquisição e retenção de clientes, com recursos e dedicação para aprender rápido. Vale pensar: quando o negócio for 10 vezes maior que o atual, quem eu quero que esteja liderando essa frente? Já para empresas com forte presença física, o digital pode trazer ganhos de eficiência. Aqui, o perfil ideal é alguém voltado à operação, capaz de integrar sistemas, estoque e pedidos no dia a dia das lojas, com conhecimento e influência para rever processos legados e implementar melhorias de forma estruturada.

BB – No caso de autopeças, alguns usam o comércio eletrônico para tentar vender itens obsoletos do estoque. Para este objetivo, quais dicas podemos dar para eles?

LB – Essa é uma estratégia válida, mas precisa ser pensada a partir da escolha do canal certo. Alguns canais de venda funcionam melhor para peças novas e exclusivas — como marketplaces de grande alcance, a exemplo do Mercado Livre, além da própria loja virtual, onde é possível trabalhar branding e relacionamento. Já itens usados ou destinados a veículos de gerações passadas tendem a performar melhor em canais especializados nesse nicho, o que exige mapear e testar quais trazem mais retorno. Encontrar o mix certo entre canais é fundamental para movimentar diferentes tipos de produtos.

Independentemente do segmento, todo portfólio tende a acumular itens parados em estoque. Para girar esse inventário, vale adotar diferentes estratégias: criar programas de recompra para produtos de consumo recorrente (como pastilhas de freio ou itens de estética automotiva), aplicar o “compre junto”, oferecendo um item de baixa rotação com desconto atrelado a outro compatível e, quando necessário, lançar promoções agressivas para queimar estoque que já esteja parado há muito tempo. Essas ações, combinadas, aumentam a chance de conversão e liberam espaço para produtos de maior giro.

BB – Pela pesquisa, os principais obstáculos enfrentados por quem está começando no e-commerce são a divulgação dos produtos, estruturação da loja, precificação e a configuração técnica. De que forma a Loja Integrada é uma aliada para eliminar esses obstáculos?

LB – Nosso papel é justamente tornar o e-commerce mais acessível e descomplicado para os pequenos empreendedores. A Loja Integrada oferece uma plataforma intuitiva, que não exige conhecimentos técnicos para começar, e reúne ferramentas nativas para divulgação de produtos, automação de precificação e recuperação de vendas. Para o segmento automotivo, um dos maiores desafios é o cadastro de produto: garantir que as peças tenham todos os atributos e informações necessárias para aparecer nos resultados de busca e nos marketplaces. Por isso, estamos usando inteligência artificial para otimizar essa etapa, a partir de uma foto e do nome do item, a tecnologia identifica a categoria, importa os atributos exigidos para venda em canais como o Mercado Livre e preenche automaticamente dados que já conhecemos, enriquecendo-os com as melhores práticas de SEO para maximizar a visibilidade. Com o lançamento da Komea, nossa rede de agentes de IA, o lojista ainda ganha um assistente digital para apoiar desde a organização do catálogo até estratégias de vendas, contando com suporte técnico, educacional e tecnológico em todo o processo.

BA – Quais cursos podemos sugerir para que seja aplicado o conhecimento na prática?

LB – Além dos cursos tradicionais sobre e-commerce, marketing digital, precificação e gestão de estoque, um conhecimento cada vez mais valioso é a inteligência artificial. Essa é uma habilidade estratégica para o futuro do trabalho, pois permite que uma mesma pessoa amplie significativamente sua capacidade de execução, indo além do seu conhecimento técnico original para desempenhar diferentes tarefas com apoio de IA. Desde criar descrições de produtos otimizadas para SEO até automatizar análises de vendas e campanhas, dominar essas ferramentas pode acelerar resultados e dar mais autonomia ao empreendedor. Investir nesse tipo de formação, aliado a cursos práticos sobre operação e estratégia no comércio eletrônico, prepara o lojista para competir em um mercado cada vez mais dinâmico.

BA – Quais são os principais desafios em manter o negócio digital operando de forma consistente e sustentável ao longo do tempo?

LB – A manutenção de um e-commerce passa por três grandes frentes: atualização constante, relacionamento com o cliente e gestão de operações. O lojista precisa acompanhar tendências de consumo, adaptar preços e estratégias, manter uma boa reputação online e oferecer uma experiência de compra fluida e confiável. Também é preciso entender que o digital não se sustenta com esforço pontual, ele exige constância. Quem automatiza processos e usa a tecnologia de forma inteligente tem muito mais chance de construir um negócio digital saudável e duradouro. 

BA – No caso de autopeças, assim como em outros setores, a maioria utiliza os marketplaces. Quais são os principais cuidados para que eles se destaquem nessas plataformas?

LB – Em marketplaces, a concorrência é intensa, e destacar-se exige estratégia. Além de oferecer bom atendimento, descrições técnicas precisas, imagens de qualidade, preços competitivos, logística eficiente e buscar avaliações positivas, que impactam diretamente no ranqueamento, é fundamental ser intencional no mix de produtos por canal. Isso significa definir quais itens fazem mais sentido vender em cada plataforma, considerando perfil de público, ticket médio e potencial de giro, para maximizar a performance e evitar canibalização. Manter um mix atualizado e estratégico aumenta a relevância nas buscas e aproveita melhor o alcance de cada marketplace. E, mesmo atuando nessas plataformas, ter uma loja própria continua sendo essencial para fidelizar clientes, melhorar margens e fortalecer a marca.

BA – Finalizando, quais são os principais impactos ao entrar no e-commerce sem preparo e posicionamento estratégico? Isso inclui fechamento da loja virtual, desperdício de investimento e credibilidade? E se isso acontecer, é irreversível?

LB – Sim, o despreparo pode gerar frustração, desperdício de recursos e até prejudicar a reputação da marca. Muitos empreendedores desistem cedo por não enxergar retorno rápido, geralmente porque fazem um investimento alto inicial, customizando a loja e investindo pesado em mídia paga, sem uma previsão clara de retorno. Nós recomendamos um approach mais simples e sustentável: começar trazendo o produto para a plataforma e distribuindo-o em marketplaces, onde a venda pode começar a girar mais rápido. Com essa receita inicial, o próximo passo é investir em uma loja própria, reduzindo a dependência das tarifas dos marketplaces e fortalecendo a marca. Com o caixa rodando, aí sim é hora de investir em mídia paga e tráfego para a loja própria. Esse caminho gradativo reduz riscos, otimiza recursos e aumenta as chances de sucesso no e-commerce.

Fonte: Balcão Automotivo

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