A Robert Bosch, uma das líderes globais no fornecimento de tecnologia e serviços, ostenta longa e profunda trajetória de inovação desde sua fundação, na Alemanha, em 1886. No Brasil, segue os mesmos passos. “Está na nossa veia”, assegura o engenheiro José Velloso, chefe de Inovação, há 10 anos na empresa. Leia trechos da entrevista para o Rumos da Inovação.
Quais são os principais passos para que a inovação de fato ocorra?
Velloso: A área de P&D mapeia diariamente as dores e a necessidade de conhecimento tecnológico para, a partir dessa constatação, buscar parceiros externos que possam participar do desenvolvimento de projetos. A legislação do Rota 2030, especificamente por meio dos Projetos e Programas Prioritários (PPPs), do Pilar III, tornou viáveis recursos para que os riscos do investimento fossem reduzidos e compartilhados com os parceiros.
Como a empresa utiliza os recursos do Rota 2030?
Velloso: A Bosch tem projetos aprovados no âmbito do Rota 2030 desde o início do programa, em 2019. São atualmente mais de quarenta projetos com nosso envolvimento, o que nos valeu um prêmio da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) como a empresa com mais projetos no programa. Usamos mecanismos de todas as gestoras – Fundep, Finep, Senai e Embrapii –, cada um da forma apropriada. Todos são ferramenta para alavancagem da inovação.
Poderia explicar o que é feito com cada gestora dos recursos do Rota 2030?
Velloso: Com a Finep, que oferece subvenção econômica para melhoria de processos e desenvolvimento de produtos, buscamos o horizonte da externalidade, estimulando o desenvolvimento tecnológico da indústria 4.0 em dezoito fornecedores, sem custo financeiro para eles. Esse projeto, com duração de três anos e finalização em 2024, promove o desenvolvimento da cadeia, que é a essência do Rota 2020. A repercussão tem sido muito positiva e a empresa, bastante elogiada. Com isso, os fornecedores e a própria Bosch têm eliminado gargalos de produtividade com desenvolvimento tecnológico aplicado. Os resultados são muito bons para nós, para os fornecedores e também para o ambiente externo. São três ondas de fornecedores, com rodadas de doze meses para cada grupo. Nesse período, ocorre a identificação das oportunidades, a aplicação das tecnologias e o monitoramento dos gargalos.
Com a Embrapii, desenvolvemos projetos proprietários, cada um com a Bosch e um parceiro tecnológico. São saltos de conhecimento e abertura de novas frentes de negócio para a empresa. Os projetos com a Fundep, que oferece subvenção econômica para melhoria de processos e desenvolvimento de produtos, também impactam positivamente a cadeia. Para o Senai, já indicamos fornecedores para o projeto Hands-On e promovemos a participação de colaboradores no MBA de indústria 4.0, além de alianças com outras empresas para o desenvolvimento de produtos e projetos.
Quais os ganhos para a empresa com a adesão ao Rota 2030?
Velloso: Um deles, intangível e muito importante, é a proximidade entre a indústria e os centros de conhecimento, como universidades e institutos de ciência e tecnologia (ICTs). Destaco também os vários projetos em que o conhecimento dos ICTs foi complementar ao nosso e serviram de base para novos negócios, com compartilhamento dos riscos inerentes à inovação. Outro aspecto muito relevante é a capacidade que adquirimos de identificar com mais velocidade e inteligência as falhas de projetos que não deveriam seguir adiante. Finalmente, vale destacar a implementação de ganhos de produtividade dos fornecedores e da própria Bosch com a possibilidade de testar e validar novos produtos nesses mesmos fornecedores, como foi o caso, por exemplo, do Tooling Monitoring, sensores de monitoramento de ferramentas e moldes e de conectividade de máquinas, agora disponíveis para o mercado.
Quais são as recomendações da Bosch para outros fabricantes de autopeças?
Velloso: Com nossa experiência e de nossos fornecedores, destaco os seguintes aspectos:
* Todas as empresas já inovaram, mesmo que em níveis diferentes. Inovar não precisa ser processo disruptivo e não tem de ser algo completamente novo, com produtos novos. A ação pode ocorrer no ambiente da própria empresa, para dentro;
* É fundamental ter clareza sobre qual é a necessidade, a dor da empresa, e, a partir dessa constatação, identificar o melhor mecanismo de fomento. As gestoras do Rota 2030 estão de braços abertos para ajudar e compartilhar os riscos. O olhar de fora é um filtro necessário;
* As empresas têm de sair da zona de conforto e buscar os mecanismos de fomento mais adequados. É preciso ir atrás e usar possibilidades como o Embrapii Day, por exemplo, como fez a Bosch em 2017. Foi quando constatamos a importância das parcerias para alavancar, ajudar e compartilhar conhecimento. Temos excelentes ICTs no Brasil. Quando a empresa vence barreiras e entende que a inovação é possível e necessária, os ganhos são enormes para ela e para o País .
Sobre a empresa – Segundo informação divulgada pela assessoria de imprensa da Bosch, em maio deste ano, a empresa fechou o ano fiscal de 2022 com vendas totais de R$ 10,3 bilhões na América Latina, incluindo as exportações e as vendas das empresas coligadas, crescimento de 11,5% em comparação com 2021. Os setores de Soluções para Mobilidade, Tecnologia Industrial, Bens de Consumo e Energia e Tecnologia Predial contribuíram diretamente para o resultado positivo na região.
Participe – Para conhecer as oportunidades de investimento em inovação com recursos do Pilar III do Rota 2030, por meio dos editais das entidades gestoras (Embrapii, Senai, Finep e Fundep), envie mensagem para inovacao@sindipecas.org.br. Há muitos recursos disponíveis.
Informações
Helena Cristina Coelho
Assessora de Comunicação
hcoelho@sindipecas.org.br