Por Claudio Milan
A primeira quinzena de outubro foi marcada por uma série de eventos no setor automotivo. No Aftermarket Automotivo, dois se destacaram: Seminário da Reposição Automotiva, dia 7, e o Fórum IQA da Qualidade, dia 9. Ambos reuniram dezenas de líderes, empresários e executivos do mercado. Foi nas diferentes rodinhas de conversas entre uma palestra e outra que ficou clara a preocupação dos gestores de todos os elos de negócios do setor com a crescente dificuldade de formar ou contratar mão de obra para as empresas. A aflição acabaria por se confirmar também nos painéis e debates dos eventos – como protagonista ou coadjuvante, o tema surgiu em grande parte das apresentações. Faz todo sentido.
No final do ano passado, a Fundação Getúlio Vargas apresentou um estudo em que 57% das empresas dos setores de comércio, serviços, indústria e construção consultadas pelo FGV IBRE indicavam dificuldade em contratar ou manter profissionais. Os índices eram ainda maiores nos recortes envolvendo varejo ampliado (77,3%), indústria (76,8%) e serviços (76,5%). Existe um lado positivo neste debate. O mercado de trabalho experimenta um momento histórico no Brasil: com 5,8% no segundo trimestre de 2025, a taxa de desemprego caiu para o menor nível já registrado em nossa história. Então podemos afirmar que faltam profissionais porque está quase todo mundo empregado?
Não, este é apenas um lado da questão. As raízes são muito mais complexas e dissecá-las exigiria um espaço bem maior do que este. Algumas considerações, no entanto, podem ser brevemente arranhadas na superfície – e quatro reportagens publicadas nesta edição você encontrará dados mais consistentes e profundos sobre o assunto.
Assim, quero aqui destacar apenas alguns tópicos que me parecem relevantes para introduzir a pauta. Começando pelo assistencialismo, que se tornou uma política de estado irreversível no Brasil – sim, qualquer candidato que ousar propor alguma redução no benefício se inviabilizaria já na largada. Não há dúvida de que parte da mão de obra ativa vive de bicos associados ao salário pago pelo governo. Provavelmente todo mundo já conheceu um exemplo. Mas, também aqui, não dá pra simplificar. Essa é uma questão que hoje entra na seara da Sociologia e não apenas na Administração das Empresas. É preciso lidar com essa realidade que está posta e consolidada.
Também é preciso cada vez mais adequar as estratégias de Recursos Humanos ao novo mundo em que vivemos. O estudo da FGV trouxe testemunhais de profissionais que não abrem mão mais do trabalho em home office. E outros que simplesmente não aceitam os salários oferecidos quando existem alternativas mais rentáveis fora do universo formal – muitas vezes relacionadas a trabalho por aplicativos, como o tão conhecido Huber.
O tema é fascinante e extremamente complexo. Ao longo dos séculos sucederam-se as teorias analisando a quase sempre conflituosa relação entre capital e trabalho. O momento em que vivemos parece favorecer o trabalho e, gostemos ou não, talvez seja necessário que o capital se reinvente para tornar sua proposta suficientemente atraente para virar o jogo.
Fonte: Novo Varejo





























