A eletrificação foi o tema predominante do primeiro dia do Salão de Hannover, o IAA Transportation, maior feira de veículos comerciais do mundo que começou na segunda-feira, 19, na cidade alemã. As apresentações realizadas pelas montadoras foram um pontapé nas iniciativas de cada uma para o mercado europeu, que já tem data para abolir os motores a combustão.
Nos estandes das fabricantes de caminhões, todos os holofotes estavam direcionados para os modelos equipados com powertrain elétrico. A reportagem verificou que MAN, Scania, Volvo, DAF e Iveco seguiram os mesmos caminhos da Mercedes-Benz e apresentaram ao público seus caminhões elétricos pesados para aplicação em grandes distâncias, quebrando o senso comum de que a tecnologia só funcionaria para veículos urbanos.
No caso da MAN, a empresa apresentou pela primeira vez no mercado europeu o protótipo do eTruck, que se tornará um produto de série a partir de 2024, quando passará a ser produzido na fábrica da montadora em Munique. Segundo a companhia, o modelo terá autonomia para rodar até 1 mil quilômetros com uma carga completa de bateria.
A Volvo, por sua vez, mostrou uma versão elétrica para cada família de caminhões da sua gama global de pesados, a FH, FM e FMX. A empresa iniciou a produção em série dos modelos elétricos na fábrica de Tuve, em Gotemburgo, na Suécia, e, no ano que vem, a unidade de Ghent, na Bélgica, também fabricará os veículos.

Já a DAF apresentou dois caminhões eletrificados na gama de veículos pesados, no caso, o XD Electric e o FX Electric, com alcance médio de até 500 quilômetros por carga. Para produzi-los foi construída uma linha nova na fábrica de Eindhoven, na Alemanha, específica para veículos com a tecnologia.
A Scania, que no Brasil milita com os modelos a biogás no âmbito da descarbonização, na Europa prega o discurso de futuro elétrico e apresentou na feira uma unidade da linha eletrificada 45R, lançada em junho, com autonomia de 350 quilômetros com uma hora de carga.
Por fim, a Iveco mostrou ao mercado europeu dois modelos eletrificados desenvolvidos em parceria com a Nikola. Os caminhões pesados, um equipado com bateria recarregável e, outro, movido a célula de combustível, têm autonomia de 500 e 800 quilômetros, respectivamente.
Lá, como cá, tem entraves estruturais aos caminhões eletrificados
Ainda que as ofertas europeias das montadora sejam mais completas — e concretas –, as montadoras demonstram que também no Velho Continente enfrentam entraves estruturais em termos de recarga de caminhões elétricos. Uma solução encontrada para acelerar a proliferação de carregadores foi investirem elas mesmas em uma rede local.
Já ganha corpo uma joint-venture criada no ano passado por Mercedes-Benz, Volvo e Grupo Traton (que engloba as marcas Scania, MAN, Navistar e Volkswagen Truck & Bus) para a instalação de 1,7 mil carregadores em rodovias e centros logísticos na Europa, a um custo de € 500 milhões.
Para Christian Levin, CEO da Scania, a saída corporativa para resolver a questão estrutural é algo viável para acelerar a construção de pontos de regacarga para caminhões também no Brasil, mesmo que no país, segundo o executivo, a eletrificação para caminhões que percorrem grandes distâncias seja algo mais distante.
“O futuro é elétrico, mas não agora para o Brasil”, disse Levin durante apresentação na IAA Transportation. “O TCO [custo total de propriedade] dos caminhões na Europa e nos Estados Unidos é hoje mais viável do que em outros mercados, mas é possível, sim, uma JV no futuro [no Brasil].”
De acordo com Stina Fagerman, diretora de marketing, vendas e serviços da Mercedes-Benz, o principal desafio da montadora na Europa, antes de seguir com oferta semelhante em outros mercados, é provar aos frotistas que o custo operacional do caminhão pesado elétrico já pode ser considerado similar ao dos veículos movidos a diesel.
“Estou muito empolgada com o caminhão elétrico que mostramos aqui. É algo grandioso porque podemos comparar o seu desempenho e os seus custos com veículos diesel e mostrar os dados ao consumidor. Este é um dos dez veículos que vamos apresentar até 2030 que pertencem ao nosso catálogo de modelos elétricos”, contou a executiva à Automotive Business.
Eletrificação também nas vans
As montadoras de vans também apresentaram no IAA Transportation os seus modelos elétricos para o mercado europeu. A Ford mostrou a E-Transit Custom, irmã mais velha a E-Transit produzida pela Nordex, no Uruguai. O veículo será vendido na Europa em 2023, com chegada ao mercado brasileiro ainda em estudo, segundo Guillermo Lastra, diretor de veículos comerciais na América do Sul.
A Renault lançou no evento a van Trafic E-Tech Electric, com alcance de 240 quilômetros com uma arga completa do conjunto de baterias. O motor do veículo gera cerca de 120 cavalos e tanto a data de lançamento na Europa, quanto o preço de tabela do modelo, não foram revelados pela montadora.
A Iveco mostrou a sua eDaily, desenvolvida em parceria com a Hyundai que leva em seu powertrain célula de combustível que converte hidrogênio em eletricidade. Ainda que seja um protótipo de uma parceria que começou este ano entre as fabricantes, a expectativa é de que a demanda global por entregas de última milha seja um importante vetor de negócios envolvendo o veículo.

Fonte: Automotive Business