Mercado de motos vive momento ímpar e cresce como alternativa para a ‘Inflação do Carro’


Motos registraram alta de 13,8% no mês passado em relação ao mesmo período de 2021 (por Lucas Torres jornalismo@novomeio.com.br)
Mercado de motos vive momento ímpar e cresce como alternativa para a ‘Inflação do Carro’

Sejam no âmbito dos usados ou dos 0 km, as vendas de automóveis têm recuado significativamente no Brasil desde a chegada de 2022. De acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) para o mês de abril, o volume de carros usados vendidos no período foi 17,7% menor na comparação com o quarto mês do calendário do ano passado e 13,6% menor do que a comparação com março deste ano.

No mesmo relatório, a Federação apontou queda de 16,8% na análise que compara as vendas de carros novos em abril de 2022 com o mesmo período do ano passado – dado que agravou o tombo das vendas agora na casa dos 22% no enquadramento do acumulado do ano. Tais dados não são novidade para o mercado. Afinal, do primeiro quadrimestre do ano passado para cá, o consumidor conviveu com um aumento substancial para ter, usar e realizar a manutenção do seu automóvel – aumento este estimado em 17,03% pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para ter uma fotografia mais completa sobre o atual cenário da mobilidade individual dos brasileiros, porém, é preciso analisar um movimento concomitante ao despencar das vendas de carros: a persistente alta das motocicletas no mesmo período.

Em abril deste ano, o relatório da Fenabrave deixou claro o movimento inversamente proporcional ao dos carros vivido pelo segmento de motocicletas neste momento. Com crescimento significativo, as motos registraram alta de 13,8% no mês passado em relação ao mesmo período de 2021. Com o desempenho, o crescimento das vendas de motocicletas neste ano já atinge a casa de 27% no comparativo anual.

Para presidente da Abraciclo, movimento é parcialmente explicado pela alta dos combustíveis

Que as motos estão vivendo um momento oposto na comparação com os automóveis não há dúvidas. Os números, neste caso, não dão espaço para outra interpretação. Resta ao mercado, portanto, realizar uma análise mais para identificar os principais fatores para esta desproporcionalidade.

Questionado sobre o assunto, o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), Marcos Fermanian, afirmou que parte do atual momento pode ser explicado pela alta dos combustíveis nos últimos meses. “Mais recentemente, há aquelas pessoas que decidiram por este modal para driblar a alta constante nos preços dos combustíveis”, afirmou o dirigente. Esta percepção de Fermanian foi construída com subsídios que vão além de uma observação tácita de alguém que vive o dia a dia do mercado e ganha suporte significativo nos números detalhados da vendagem de motos no país. Dados referentes às vendas de abril, por exemplo, apontam que das 107.707 unidades vendidas no período, 54.242 pertenciam à linha “Street”, ou seja, motocicletas de baixa ou média cilindrada destinadas ao uso urbano. Este percentual, acima dos 50% das vendas totais, se manteve consistente ao longo de todos os meses analisados no recorte anual.

Para ter uma ideia da ligação intrínseca entre a representatividade da linha Street no bom momento das motos e a fuga da alta de combustíveis mencionada pelo presidente da Abraciclo, basta ver o desempenho destas motos na comparação com os carros de motor 1.0, categoria correlata no âmbito dos automóveis. Enquanto uma moto de 125 cilindradas roda, em média, 56,9 quilômetros por litro na cidade, um carro 1.0 muito econômico gira 13,9 quilômetros por litro no mesmo ambiente.

Indústria de motos enfrenta dificuldade para responder à demanda aquecida

Quem acompanha o mercado automotivo tem observado as dificuldades das montadoras em responder à demanda – ainda que pequena – por automóveis 0km desde a chegada da pandemia. No mercado de automóveis, mas na reposição, um problema semelhante tem sido observado em consequência da dificuldade de abastecimento de determinadas autopeças – agravada pela perspectiva do cenário relatada por importadores na reportagem especial da última edição do Novo Varejo – o lockdown na China. Neste aspecto, os players do segmento de motocicletas não têm podido comemorar um cenário mais positivo do que o vivenciado pelas empresas automotivas.

Afinal, segundo o presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, a indústria do setor tem tido dificuldades significativas para atender a demanda dos consumidores. O dirigente afirma que, atualmente, existe uma fila de espera de cerca de 30 dias para motocicletas de baixa cilindrada e para as scooters, modelos comumente utilizados nos serviços de entrega e para os deslocamentos urbanos. Tal crise se estabeleceu a despeito da alta na produção de motocicletas registrada no primeiro quadrimestre de 2022 – alta esta que registrou 22,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. Fermanian afirma que o problema decorre da combinação do aquecimento significativo da demanda com os ainda vigentes impactos provocados pela pandemia do coronavírus nos últimos dois anos – algo que, segundo ele, freou o ritmo de produção no Polo de Manaus. Apesar dos problemas atuais, porém, o dirigente mostra confiança em uma resolução no médio prazo. “Deveremos normalizar as entregas para as concessionárias nos próximos meses”, afirmou.

Indústria de motopeças comemora e projeta estabilidade ao longo de 2022

Alta de juros, inflação, desconfiança do consumidor. Esses são alguns fatores que estão dificultando a operação de empresas dos mais diferentes setores da economia nacional nos últimos dois anos. O aquecimento do mercado de motocicletas, no entanto, tem feito do setor uma espécie de oásis em meio à crise e impulsionado o bom momento de empresas de motopeças como a Laquila.

Segundo Iael Trosman, dirigente da empresa na América Latina, a Laquila registrou crescimento de 25% e uma alta no giro de peças de motor para motocicletas no último ano e, com isso, se antecipou ao abastecer seus estoques antes da virada do ano, não sofrendo com o desabastecimento enfrentado por outras empresas do segmento. Tal decisão se mostrou acertada com a chegada de 2022 quando, de acordo com Trosman, a empresa registrou crescimentos significativos no fluxo de pedidos. “Após a grande indefinição do começo da pandemia, nós chegamos a um efeito rebote, em que a demanda de motopeças aumentou significativamente de uma hora para outra”, afirmou o executivo, citando a popularização dos serviços de delivery e a busca pelas motos como uma via de economia na mobilidade individual como razões para o momento positivo.

Fonte: Novo Varejo

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