No último dia 16 de agosto, alguns dos principais líderes da reposição automotiva nacional anunciaram um pacto para unir elos como varejo, distribuição e reparação em defesa de pautas comuns ao aftermarket. Um dos objetivos do movimento é que a união entre Sincopeças Brasil, Sindirepa Brasil, Conarem e Andap fortaleça o setor nas mesas de negociações junto aos poderes públicos.
Com a equipe já estabelecida para defender os interesses da reposição, os líderes das entidades que assinaram o documento conhecido como Carta de Fortaleza aguardam agora a definição dos ocupantes das cadeiras no Executivo e no Legislativo a partir do próximo ano, definições que ocorrerão após as eleições gerais de outubro.
A fim de compreender as preferências e as prioridades dos componentes da aliança de Fortaleza nas próximas eleições, nossa reportagem conversou com Ranieri Leitão (Sincopeças), Antonio Fiola (Sindirepa) e José Arnaldo Laguna (Conarem).
Reforma tributária e contenção da corrupção são prioridades do mercado. Educação também foi citada
O primeiro debate presidencial, realizado em 28 de agosto, deixou claro que as eleições do Executivo serão marcadas por questões que muitas vezes passarão à margem de uma conversa propositiva para o país. Todas estas distrações, porém, não têm apreendido atenção dos líderes do aftermarket. Prova disso é o fato de Leitão e Fiola apontarem para questões práticas e objetivas quando questionados sobre as principais pautas das eleições que se aproximam. “Talvez a pauta mais importante é que exista, realmente, uma grande reforma tributária capaz de deixar uma condição melhor para as empresas funcionarem por aqui”, opinou Ranieri Leitão.
O anseio do presidente do Sincopeças Brasil foi compartilhado por Antonio Fiola que, atendo-se a uma preocupação com os atuais indicadores econômicos, acrescentou o controle da inflação e a promoção de uma agenda que estimule o crescimento econômico como fundamentais para quem assumir o país a partir de 2023. Como fonte propulsora para alcançar estes objetivos, o líder do Sindirepa Brasil destacou a possibilidade de um retorno do Ministério da Indústria, Comércio e Desenvolvimento.
Além da pauta econômica, outro tema que ganhou a atenção dos líderes do aftermarket foi a corrupção, uma praga recorrente em investigações e acusações desde os primórdios da República e que, nas últimas duas décadas, esteve no centro da cobertura midiática com assuntos como Mensalão e Orçamento Secreto. Esta é, segundo Leitão, uma pauta universal. “Precisamos de transparência e do fim da corrupção. Seja quem for o eleito, precisamos que seja dado o exemplo do Executivo para o Brasil todo e, inclusive, para o mercado”, apontou o líder do Sincopeças-BR.
Voz integrante da Carta de Fortaleza, José Arnaldo Laguna, presidente do Conarem, enfatizou a educação como pilar fundamental de um país mais produtivo e eficiente sob o ponto de vista econômico. O líder afirmou que um dos maiores exemplos desta necessidade está na dificuldade das empresas para a contratação de mão de obra qualificada, o que obriga a iniciativa privada e entidades como a que preside a criar programas de formação próprios. “Precisamos de uma formação melhor em todas as escalas. Os jovens têm de sair da escola sabendo ler, escrever e interpretar. Além disso, é preciso que haja a valorização do ensino técnico como um todo. Afinal, além de existir uma demanda para estes postos, eles precisam ser percebidos como tão atrativos quanto algumas vagas tradicionais que exigem curso superior”, refletiu Laguna.
Right to Repair é bandeira da Carta de Fortaleza e será alvo de negociação com o Legislativo
Para além das pautas mais amplas, que afetam o país como um todo, questionamos os líderes das entidades do aftermarket nacional participantes da reportagem sobre o tema prioritário do momento para a aliança formada em Fortaleza. Em tom uníssono, Antonio Fiola e José Arnaldo Laguna apontaram para a necessidade de criar uma legislação que garanta o direito aos profissionais e oficinas independentes de repararem automóveis e máquinas em geral.
Expandindo o tema, Laguna destacou a importância desta garantia não apenas para a sobrevivência de uma cadeia mais competitiva, mas também para a manutenção da saúde da frota nacional. “Todos os players do mercado sabem que nossos reparadores mais qualificados estão na manutenção independente. Em geral, os profissionais das concessionárias são treinados para fazer trabalhos mais simples, dentro da garantia. Agora, na hora de identificar os problemas e encontrar soluções diversas, a reparação independente possui mão de obra mais habituada a resolver defeitos complexos”.
Mostrando compreensão realista do funcionamento atual da cadeia de autopeças, Laguna compartilhou que o tema do Right to Repair foi um dos motivos de entidades ligadas à indústria, como o Sindipeças, não terem se comprometido com a Carta de Fortaleza. Segundo ele, a indústria de autopeças tem ligação comercial estreita com as montadoras, players que lideram alguns dos movimentos de ‘bloqueio’ de acesso a informações cruciais. “Sabemos que elas não podem se envolver nestes temas e
entendemos isso. Porém, estamos de braços abertos para nos juntarmos em pautas com as quais compartilhamos interesse”, concluiu Laguna.
Fonte: Novo Varejo