Por Soraia Abreu Pedrozo
A indústria automotiva reduziu o uso de plástico reciclado em suas partes e peças em 2024 e interrompeu sequência de dois anos de crescimento. Ao longo do ano passado consumiu 67 mil toneladas de resinas recicladas pós-consumo, enquanto que em 2023 foram 71 mil toneladas, retração de 5,6%. Nos dois anos anteriores, no entanto, foram registrados aumentos de 7,5% e 40,4%.
Os dados integram o Índice de Reciclagem Mecânica de Plásticos Pós-Consumo no Brasil 2025, levantados a pedido do Movimento Plástico Transforma, iniciativa do PicPlast, desenvolvido pela MaxiQuim.
De acordo com Maurício Jaroski, diretor executivo da MaxiQuim e gestor da área de energia e química sustentável, a redução de 4 mil toneladas é, na realidade, considerada marginal, e não indica uma retração estrutural no setor.
Ele disse que a oscilação pode estar relacionada a fatores conjunturais, a exemplo da competitividade do preço da resina virgem, que pode ter pressionado o uso de reciclados, e da variação no número de veículos fabricados ou de peças de reposição vendidas, o que impacta diretamente a demanda.
“A dinâmica do mercado automotivo é mais sensível a ciclos de produção e de consumo do que a tendências lineares. Trata-se, portanto, mais de um ajuste pontual do que de um recuo efetivo da participação dos reciclados no setor.”
O curioso é que, mais uma vez, o setor automotivo foi na contramão da demanda por plástico reciclado pela indústria geral. O volume total de 1 milhão 12 mil toneladas representa acréscimo de 7,8% com relação a 2023, quando o volume fora de 939 mil toneladas – recuo de 15% frente ao volume de 1 milhão 106 mil toneladas de 2022, o que interrompeu movimento de seis anos consecutivos de alta.
Para Jaroski esta aparente contradição é, na verdade, uma coincidência estatística: “As aplicações automobilísticas não têm o mesmo perfil das embalagens de consumo rápido, de grande volume e ciclos curtos de descarte. As peças automotivas são duráveis, técnicas e de maior valor agregado, respondendo a lógica de demanda distinta. Não há, portanto, relação direta do comportamento do mercado de reciclados como um todo com o uso específico na cadeia”.
Os tipos de plásticos e as aplicações mais comuns não foram alterados de 2023 para 2024. O principal insumo é o PP, polipropileno, utilizado em compósitos para fabricação de pára-choques, painéis e componentes internos. Em menor escala o PS, poliestireno, é empregado em algumas peças específicas e o PET reciclado, em fibras têxteis, ou seja, em revestimentos internos, como carpetes, forros de teto e tapetes.
Há, ainda, o uso em peças de reposição de menor porte, muitas vezes não homologadas pelas montadoras, mas vendidas em autopeças, como apliques, spoilers e componentes plásticos compatíveis.
Menor adesão ao plástico reciclado gera queda no ranking
Com o desempenho aquém no ano passado, porém, a adesão do plástico reciclado pelo setor automotivo caiu duas posições no ranking, ao passar de quinto para sétimo colocado. Do volume de 7,5% do total endereçado ao setor em 2023 recuou para 6,6% no ano passado.
Desta forma a indústria automobilística ficou atrás dos setores de alimentos e de bebidas, com 167 mil toneladas, higiene pessoal, cosméticos e limpeza doméstica, com 132 toneladas, construção civil e infraestrutura, com 130 toneladas, agroindústria, com 92 toneladas, utilidades domésticas, com 81 toneladas e têxtil, com 68 toneladas.

Para este ano a perspectiva é positiva, disse Jaroski: “Há diversas novas homologações em andamento para aplicações automotivas com reciclados, o que deve impulsionar a demanda”:
“Ainda que o mercado de reciclagem como um todo esteja reportando um ritmo mais lento neste início de ano, o setor automotivo tende a absorver mais material reciclado, consolidando-se como um dos segmentos de maior valor agregado dentro da cadeia”.
Fonte: AutoData






















