Inadimplência das famílias e juros seguem tendência de alta

Indicador de Registro de Inadimplentes da Boa Vista subiu 1,4% entre dezembro de 2020 e 2021. Alta da inflação pesa no bolso e, com menos renda, algumas contas tendem a ficar para trás (Da equipe de jornalistas do Diário do Comércio)
Inadimplência das famílias e juros seguem tendência de alta

A taxa de inadimplência das famílias com recursos livres subiu de 0,08 ponto percentual para 4,71%, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2022. Com atraso devido à greve dos servidores do Banco Central (BC), os dados foram divulgados pela instituição nesta quinta-feira (28/04). 

No ano, a taxa já subiu 0,34 ponto percentual – muito mais do que fora verificado no ano passado, quando a taxa subiu 0,20 ponto percentual entre os meses de dezembro de 2020 e 2021.

O aumento na taxa de inadimplência já era esperado pelos economistas da Boa Vista, pois o indicador de Registros de Inadimplentes havia apontado alta de 1,4% na comparação mensal dos dados dessazonalizados em igual período. 

Vale ressaltar que o indicador vinha de queda entre os meses de dezembro de 2021 e janeiro de 2022, mas essa variação fora considerada pontual, e não interveio na tendência de longo prazo do indicador, que aponta elevação de 4,7% no resultado acumulado em 12 meses. Diante de um cenário nada amistoso, esse movimento na taxa de inadimplência não surpreende, e os números esperados para março também seguem a mesma trajetória.

A inflação pesa cada vez mais sobre o bolso dos consumidores e tende a perdurar por um pouco mais de tempo, sobretudo, em função da grande incerteza que cerca a precificação de itens básicos, como alimentos e combustíveis. Com cada vez menos renda disponível, algumas contas tendem a ficar para trás.

Além da inflação, os juros mais elevados também pressionam as famílias. A taxa cobrada em relação à concessão de recursos livres subiu de 46,29% em janeiro para 48,14% em fevereiro. Ambos os componentes subiram no período, o custo de captação passou de 10,92% para 11,24%, e o spread bancário de 35,37 para 36,90 pontos percentuais.

O custo de captação está alinhado ao aumento na taxa básica de juros, Selic, que só em 2022 subiu 2,5 pontos percentuais, de 9,25% para 11,75% ao ano. O BC já afirmou e reafirmou, que na próxima reunião do Copom, prevista para 3 e 4 de maio, deve acontecer o último aumento na taxa, mas o mercado não aposta tanto nisso. 

Há quem acredite que a taxa deve subir também em junho, ou que o aperto monetário se estenderá até agosto.

Naturalmente, também há divergências em relação à magnitude da taxa ao final do ciclo de alta, que varia, hoje, num intervalo de 12,75% a 14,00%. A incerteza é grande e não poderia ser diferente, dado que o cenário global não alivia a situação. O mês de março, em particular, foi bem difícil, primeiro com a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia, e depois com os novos surtos de covid-19 na China, eventos que balançaram preços das commodities.

Isso passa para as expectativas de inflação e, consequentemente, para as expectativas de juros. Já o spread guarda uma relação direta com a inadimplência, se ela sobe, ele tende a subir também em condições normais.

Apesar do aumento nos juros, o crédito continua crescendo num ritmo forte. A concessão de crédito livre às famílias subiu 5,2% em fevereiro na comparação mensal dos dados dessazonalizados. Na comparação interanual, a concessão subiu 21,9%, menos do que foi previsto pelo indicador da Boa Vista de Demanda por Crédito do Consumidor, que subiu 29,4% em igual base de comparação. Em 12 meses acumulados, o crescimento acelerou de 23,4% para 25,2%, algo que fora antecipado pelo indicador da Boa Vista, que marcava alta de 24,2% até fevereiro.

Quem poderia suavizar o impacto da inflação e dos juros sobre a capacidade de pagamento das famílias seria o mercado de trabalho, mas a taxa de desemprego subiu, ainda que levemente, de 11,1% para 11,2% entre dez de 2021 e fev de 2022, e uma melhora significativa deve ser postergada pelas incertezas trazidas pelo cenário.

Por fim, algumas medidas podem ajudar, mesmo minimamente, o mercado de crédito. Isso passa pela liberação do saque de R$ 1 mil do FGTS, e pela concessão de empréstimos a pessoas com alguma restrição de crédito.

A contribuição disso, no entanto, no caso do FGTS, deve ser baixa, dado que num cenário de inflação e juros elevados as pessoas tendem a priorizar o consumo – sobretudo quando a inflação de itens básicos é significativa, como é o quadro atual. No caso dos empréstimos, a contribuição tende a ser temporária, uma vez que o cenário como um todo não irá melhorar só por conta disso.

Fonte: Diário do Comércio – Foto: Thinkstock

Programa EMPRESA AMIGO DO VAREJO