Parte de investimento de US$ 1 bilhão planejado para a Índia será realocado para lançar a marca chinesa no mercado brasileiro, diz Reuters
A montadora chinesa Great Wall Motors (GWM) deve investir cerca de US$ 300 milhões para iniciar sua operação no mercado brasileiro. Esse valor virá de um aporte de US$ 1 bilhão inicialmente destinado à Índia, mas que agora será parcialmente realocado para o Brasil em função de uma disputa diplomática entre os dois países asiáticos, segundo informou a agência Reuters.
De acordo com a agência, a montadora chinesa já estaria muito perto de acertar a compra da fábrica desativada da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), parada desde dezembro passado, para começar sua produção de SUVs e picapes no Brasil. Em julho, uma reportagem do jornal O Globo havia confirmado que o negócio estava fechado.
Anunciado oficialmente em fevereiro de 2020, o investimento de US$ 1 bilhão seria usado para montar uma fábrica de veículos no mercado indiano, porém o governo local tem deixado os chineses em estado de espera, que aguardam sem sucesso a aprovação para iniciar a produção.
Com essa indefinição no ar, quem se beneficiou foi o Brasil, que vai receber parte desses recursos. “O negócio no Brasil está praticamente fechado e não fazia sentido manter os fundos bloqueados na Índia”, disse uma das fontes à reportagem da Reuters.
BRIGA NA FRONTEIRA, DESAVENÇA NOS NEGÓCIOS
A razão desse impasse entre os países asiáticos é mais uma questão política do que uma estratégia de negócios. Índia e China disputam há anos uma região na fronteira perto dos Himalaias. Com o agravamento da tensão entre as duas nações, a Índia partiu para o ataque e desde abril de 2020 passou a atrasar a liberação de qualquer investimento chinês feito no país.
A Great Wall acabou sendo atingida no meio desse fogo cruzado diplomático: dois meses antes, a empresa havia decidido que compraria uma velha fábrica de veículos da GM e ainda produziria baterias e autopeças. A aprovação dessa empreitada, porém, está parada nas mãos do governo indiano, assim como dezenas de outros negócios. Estima-se que 150 projetos chineses de investimento que somam mais de US$ 2 bilhões estão enfrentando o mesmo problema. A Índia diz que as regras comerciais com empresas chinesas só voltarão ao normal depois que a China reduzir sua mobilização militar na fronteira.
Enquanto a questão entre as duas nações não se resolve, a Great Wall pensa em alternativas, como destinar parte do investimento para fazer sua estreia no Brasil e começar a atuar na Índia inicialmente apenas com a importação de veículos. Esses são dois países importantes para o projeto de expansão global da montadora chinesa. A Índia é um mercado estratégico para seu crescimento na Ásia e com enorme potencial de crescimento, por isso a montadora planejava que sua planta local poderia ser sua maior fábrica no mundo fora da China.
BRASIL: ANTIGO SONHO CHINÊS
Já o Brasil é um antigo sonho da Great Wall, que pretende firmar uma base nesse que é o maior mercado da América do Sul. Na região, a fabricante mantém hoje uma pequena linha de montagem no Equador e vende seus carros em diversos países, como Uruguai, Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Chile – este último onde atualmente faz seu maior volume regional, com 2,4 mil veículos vendidos. No mundo, a Great Wall vendeu 1,1 milhão de veículos no ano passado, a maior parte no mercado chinês.
A reportagem também confirma que a Great Wall deve iniciar sua operação no Brasil com a marca Haval, especializada em SUVs – a montadora já registrou a patente brasileira de dois modelos: o SUV médio Haval H6 e a picape média Série P. A empresa é ainda proprietária de outras duas marcas, a Wey (produz SUVs mais luxuosos) e a ORA (divisão de carros elétricos).
Procurados pela reportagem da Reuters, o Great Wall e o governo indiano não comentaram a notícia.
Fonte: Automotive Business