Comprar online como alternativa a um cenário de lojas fechadas, circulação restrita e alto risco de contaminação pela covid-19. Foi este comportamento do consumidor que levou a representatividade do e-commerce no varejo brasileiro a mais que dobrar durante a pandemia do novo coronavírus (saiu de 5,7%, em 2019, para os atuais 12,4%).
Tamanho crescimento em um período tão específico, no entanto, tem lançado dúvidas sobre a capacidade de perpetuação do chamado boom digital vivido nos últimos dois anos. Isso porque, embora não estejamos totalmente livres da ameaça pandêmica, especialistas e governantes já começaram um movimento para a retomada do ‘velho normal’. Ou seja, o retorno a uma sociedade em que a obrigatoriedade do distanciamento social e do uso de máscaras seja só uma memória.
Movimentos recentes não faltam para ilustrar o novo momento. No último dia 9 de março, por exemplo, o governo do Estado de São Paulo decretou o fim do uso obrigatório de máscaras em ambientes abertos. Três dias depois, o governo de Rondônia deu um passo além e anunciou a retirada da obrigatoriedade da máscara também nos ambientes fechados.
Antes disso tudo, em 7 de março o uso obrigatório da máscara já havia caído no Rio de Janeiro. Para os varejistas, a pergunta que fica neste contexto é: será que o retorno ao velho normal sob o ponto de vista social significa também o retorno a um varejo em que o e-commerce atuava quase como complemento residual? De acordo com especialistas como a vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e coordenadora do Conselho do Varejo (CDV), Roseli Garcia, a resposta é não.
A dirigente aponta que, embora a acelerada digitalização dos últimos anos possa dar a entender que o crescimento do e-commerce atingiu um teto atípico, isso não se mostra como tendência em uma análise mais aprofundada. Roseli, aliás, pensa o contrário. Para ela, uma abordagem detalhada deste cenário indica que ainda há muita margem de crescimento – mesmo que este crescimento reduza a velocidade com que chega aos resultados práticos das empresas.
“Não haverá um decréscimo a patamares anteriores. Não por acaso as grandes empresas estão colocando suas forças para desenvolver e aprimorar seus canais digitais e marketplaces”, afirmou a vice-presidente da ACSP, antes de complementar com o uso de dados: “Para exemplificar, conforme dados da consultoria Neotrust, em parceria com o Comitê de Métricas da Câmara Brasileira da Economia Digital, em 2018 o e-commerce representava 4,7%. Em novembro de 2021, representou 17,9% do varejo total, recorde absoluto. Ou seja, ainda há muito espaço para crescimento”. O cenário observado e projetado para o mercado doméstico é corroborado ainda por números que chegam de países que, de alguma forma, se desvencilharam das amarras da pandemia meses antes do Brasil.
Pesquisa compartilhada pelo Boston Consulting Group com nossa reportagem, por exemplo, indicou que 94% das empresas dos Estados Unidos e do Reino Unido com atuação exclusiva no e-commerce esperam aumentar seus resultados no ano de 2022 em relação em relação ao acréscimo de 35% nas vendas experimentado entre os anos de 2020 e 2021.
Fonte: Novo Varejo