As famílias paulistanas encerraram 2023 menos inadimplentes do que entraram. Segundo a pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores (PEIC), elaborada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), houve redução de 2,9 pontos percentuais no número de lares com contas em atraso no último ano – embora o número permaneça alto: em 22,7% em dezembro.
Da mesma forma, o fato de 10,1% das casas em São Paulo não terem condições de pagar as dívidas é preocupante.
Na avaliação da Federação, os números mais favoráveis se explicam pela inflação, que está voltando a uma trajetória mais comportada desde o início de 2023, e do consequente início do ciclo de corte da taxa básica de juros, a Selic, que deve acabar o ano de 2024 de volta à casa de um dígito (9%).
Caiu também o endividamento das famílias: de 74% para perto de 69% em um ano. O resultado se explica, para a Entidade, pelo elevado custo do crédito.
Ao mesmo tempo, as taxas de juros ainda elevadas dificultaram o acerto de muitas contas antes de o ano acabar, além do fato de muitas famílias estarem priorizando gastos essenciais e deixando a reorganização financeira para o futuro. Os mutirões de renegociação das instituições financeiras e os programas de descontos, como o Desenrola Brasil, também não tiveram efeitos significativos, o que corrobora para um cenário ainda de dificuldades financeiras das famílias.
Considerando as diferenças por faixa de renda, o percentual de famílias que ganham até 10 salários mínimos e que têm contas em atraso saiu de 25,5% para 22,7% em um ano – redução de mais de 3 p.p. Já a proporção daquelas com renda superior a 10 salários mínimos e inadimplentes passou de 11,1% para 11,8%.
O cartão de crédito seguiu mais uma vez como o principal fator de endividamento das famílias: foi a dívida apontada por 84,9% dos endividados em dezembro. Houve aumento significativo também das famílias que estão utilizando o cheque especial (de 5,2% para 6,1% em um ano), o crédito pessoal (de 10,6% para 14,1%) e o financiamento imobiliário (de 9,0% para 13,1%).
Outro dado preocupante é que permanece alta a parcela da renda comprometida com dívidas. Em dezembro, as despesas representavam 31,8% dos rendimentos das famílias paulistanas. Quase um terço delas (27,3%) revelaram ter mais de 50% da renda comprometida com o cumprimento das obrigações parceladas, apontando para uma necessidade maior dos consumidores complementarem a renda via crédito, por mais caro que os juros estejam.
Famílias mais otimistas
Apesar dos desafios enfrentados em 2023, a melhora das condições econômicas fica evidente ao observar como as famílias chegaram ao final do ano passado. A pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias paulistanas (ICF), da FecomercioSP, passou de 94,7 pontos em dezembro de 2022 para 113,3 pontos em dezembro de 2023, apontando para uma alta de 19,6% no período.
O número foi puxado, sobretudo, pela melhora da percepção sobre as condições atuais de renda e emprego. É por isso que a perspectiva para o futuro é boa: houve um aumento na confiança em relação à perspectiva profissional, que passou de 116,8 para 125,4 pontos em um ano. Aconteceu a mesma coisa com o indicador que mede a perspectiva de consumo, saindo de 86,4 para 115,5 pontos.
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), também elaborado pela Entidade, confirma a percepção positiva, saindo da casa dos 122,8 pontos para 133,5 pontos em um ano. Da mesma forma que o endividamento, a melhora do indicador está relacionada à pressão menor da inflação, da queda dos juros e da evolução da renda.
Foi esse otimismo, aliás, que possibilitou o avanço nas vendas do comércio paulistano durante o ano (2023), que atingiram seu melhor nível desde 2008, sem contar o faturamento recorde das lojas durante as semanas que antecederam o Natal.
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