Em Natal, 96% das famílias estavam endividadas em junho deste ano; em Manaus, 45% da renda familiar foram direcionados para pagar dívidas
Estados do Norte e do Nordeste estão entre os que têm as taxas mais elevadas de famílias endividadas hoje, no Brasil, segundo a Radiografia do Endividamento realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Em ambas as regiões também foram registrados grandes porcentuais de famílias com contas em atraso e de rendimento mensal comprometido para pagar dívidas. Os dados mostram que os Estados do Rio Grande do Norte (95,6%), Amazonas (79,8%), Amapá (74,7%) e Maranhão (85,5%) estão entre os mais endividados. A média nacional foi de 67,4% no fim do primeiro semestre de 2020.
Considerando a proporção de famílias com o pagamento de alguma dívida atrasada, o Rio Grande do Norte aparece na primeira posição, com 48% dos lares, seguido por Ceará (45,5%) e Amapá (38,9%). Levando em conta a parcela da renda mensal das famílias comprometida para pagar dívidas, Norte e Nordeste dominam o topo da lista: os lares amazonenses foram os mais impactados, com 45%% dos rendimentos do mês direcionados a esse tipo de conta. Acre (39,2%), Piauí (39%), Bahia (38,1%) e Amapá (33,7%) vêm em seguida.
Para a Federação, os dados do endividamento no Norte e do Nordeste se explicam principalmente pela menor oferta de crédito formal nessas regiões, em comparação com outras – decorrente da aversão do sistema financeiro do País a se expor a riscos, além de certa seletividade das instituições bancárias na hora de emprestar dinheiro.
No fim do primeiro semestre de 2020, o saldo do volume de crédito formal destinado às duas regiões foi de 20,8% em relação ao total do País, enquanto a população residente nas duas regiões representou 35,9% do Brasil, evidenciando a desproporção da destinação de empréstimos pelo sistema financeiro. Sendo assim, há uma abertura maior para o crescimento do crédito informal e, por consequência, para taxas maiores de endividamento.
Capitais e o caso de Natal (RN)
Em Natal, no Rio Grande do Norte, quase todas as famílias (96%) tinham alguma dívida até junho de 2020, segundo a Radiografia do Endividamento – um crescimento de 22 pontos porcentuais em relação ao mesmo mês de 2019, quando 74% das famílias estavam endividadas.
Este aumento só não foi maior do que em São Luís (MA): de 57% das famílias com dívidas em junho de 2019, para 86% no mesmo mês deste ano – um aumento de 29 pontos porcentuais. A capital potiguar, no entanto, também registrou o maior aumento de lares com contas em atraso na comparação dos dois períodos: de 29% para 48% agora.
Para a FecomercioSP, ainda que Natal tenha reduzido o comprometimento da renda mensal das famílias com dívidas, a situação da cidade preocupa, pois os rendimentos médios são 13% mais baixos em comparação a outras capitais do país.
É no Norte e no Nordeste que estão localizadas, também, as capitais com maior crescimento no número de famílias endividadas entre junho de 2019 e o mesmo mês deste ano: São Luís, no Maranhão, ocupa o topo da lista, com uma expansão de 50,9% de lares com dívidas entre os dois períodos. Logo atrás, aparecem Salvador (BA), com 45%; Rio Branco (AC), com 37,85%; Teresina (PI), com 36,5%; e Porto Velho (RO), com 31,7%.
A mesma situação se repete na lista das capitais brasileiras com maior comprometimento mensal da renda para pagar dívidas: em Manaus, no Amazonas, quase metade (45%) do montante do mês de cada lar vai para compensar débitos. Em Rio Branco (AC) e Teresina (PI), este número é de 39%. Salvador (BA), com 38%, e Macapá (AP), com 34%, completam a lista.
Para a FecomercioSP, estes dados também se explicam pela variável renda: como ela está abaixo da média nacional nessas regiões, a tendência é que pessoas com rendimentos mais baixos recorram a algum tipo de crédito para chegar ao fim do mês – ainda mais em época de crise econômica aguda, como a atual.
Cresce mais dívidas que famílias no Brasil
Em meio à pandemia de covid-19, o número de famílias endividadas nas capitais brasileiras subiu no primeiro semestre do ano a uma velocidade seis vezes maior do que o crescimento do próprio volume de novas famílias: de 10,6 milhões para 11,2 milhões de núcleos familiares com alguma dívida.
Enquanto o número de famílias subiu 0,8% (pouco mais de 126 mil novas famílias) em junho de 2020, em comparação a junho de 2019, o endividamento familiar teve alta de 6% (quase 638 mil a mais de lares) no mesmo intervalo de tempo. Dessa forma, não é exagero afirmar que uma família pode obter dívidas antes mesmo de se formar.
Segundo os dados, 67,4% das famílias brasileiras vivendo em capitais estavam endividadas no fim do primeiro semestre – número que era de 64,1% em 2019.
Nota metodológica
O estudo avalia as dimensões e efeitos sobre as famílias da política de crédito no Brasil entre as primeiras metades dos anos de 2019 e 2020. Para as análises relativas às capitais brasileiras, foram usadas as seguintes bases de dados primários: IPCA, Contagem da População, PNAD Contínua e Pesquisa de Orçamento Familiar, todas do IBGE, e as taxas mensais de endividamento, comprometimento da renda e taxa de famílias com contas em atraso constantes da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores (PEIC), da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
A PEIC, realizada pela CNC em todas as capitais brasileiras, entrevista mensalmente mais de 17 mil pessoas nestas cidades, produzindo, de forma direta, mais de 100 mil questionários em cada semestre analisado, com dados informados de maneira direta pelos consumidores sobre a sua realidade de endividamento, a capacidade de pagamento e o perfil e a situação de suas dívidas. Por meio dos valores totais das 27 capitais, tem-se uma margem de erro de apenas 0,73 ponto porcentual (p.p.). Todos os valores foram atualizados para julho de 2020, a fim de viabilizar a comparação entre eles.
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