A transição para a eletrificação na América do Sul entrou em uma fase mais madura ao longo de 2024. Com a ampliação dos portfólios, a chegada de modelos mais acessíveis e o avanço consistente de marcas chinesas, o debate no setor deixou de ser apenas tecnológico e passou a girar em torno de intenção real de compra, valor percebido e limites práticos da infraestrutura.
Nesse contexto, a Ipsos conduz o EV Navigator 2025 (Electrification Trends Report), estudo que busca compreender como esse novo cenário vem se traduzindo em comportamento do consumidor no Brasil, Argentina, Colômbia e Chile. O relatório completo será publicado no início de 2026, mas já aponta a direção dos principais temas que estão moldando o mercado.
Mercado mais competitivo, consumidor mais racional
A chegada agressiva de marcas chinesas em 2024 redesenhou a dinâmica competitiva na região. A combinação de preços mais competitivos e pacotes tecnológicos mais completos pressionou fabricantes tradicionais a rever posicionamentos e acelerou a curva de aprendizado do consumidor. A pergunta deixou de ser “vale a pena ter um eletrificado?” e passou a ser “qual modelo funciona melhor para o meu uso diário?”.
No Brasil, esse movimento ficou evidente com o avanço de 88,7% nas vendas de veículos eletrificados em 2024. Na Colômbia, os eletrificados já representam cerca de um quarto do mercado, com predominância dos híbridos. Na Argentina, o ritmo segue mais gradual, com expectativa de aceleração a partir da entrada da BYD e seu modelo de expansão combinado a investimentos em infraestrutura de recarga.
“Entramos em uma fase de normalização competitiva”, afirma Paulo Gabriel, Diretor de Automotive & Mobility da Ipsos. “Com mais oferta e consumidores mais informados, o que definirá a próxima onda não será apenas o preço, mas a combinação entre conveniência de recarga, custo total e confiança na tecnologia.”

O que está no centro da decisão de compra
O EV Navigator 2025 aprofunda temas que hoje estão no radar de toda a cadeia automotiva, ao investigar como as expectativas em torno de autonomia, recarga e custo total de propriedade vêm evoluindo entre diferentes perfis de consumidores.
Entre os pontos avaliados pelo estudo estão:
- o peso da disponibilidade de recarga residencial e no trabalho;
- a percepção sobre autonomia real;
- o papel do tempo de recarga na experiência de uso;
- a importância atribuída à sustentabilidade no processo de decisão.
No Brasil, a discussão vem se tornando mais pragmática. Em vez de apenas aspirar à eletrificação, o consumidor passa a comparar arquiteturas e cenários de uso.
Híbridos convencionais (HEVs) combinam motor a combustão e elétrico, sem necessidade de recarga externa. Já os híbridos plug-in (PHEVs) permitem rodar em modo 100% elétrico em trechos curtos e podem ser recarregados na tomada. Os elétricos a bateria (BEVs) dependem exclusivamente de infraestrutura de recarga. A compreensão dessas diferenças tende a influenciar cada vez mais a intenção de compra.
“Estamos mapeando onde os PHEVs funcionam como tecnologia de transição, onde os BEVs já fazem sentido e quais mensagens mais conectam com cada perfil de consumidor”, diz Marcelo Pereira, Head de Automotive & Mobility da Ipsos. “Isso se traduz, na prática, em decisões mais precisas sobre versões, preços, investimentos em infraestrutura e estratégia de comunicação.”
Infraestrutura e políticas públicas como vetores de escala
Países como Chile e Colômbia vêm utilizando a eletrificação do transporte coletivo como uma alavanca não apenas ambiental, mas também de visibilidade e confiança na tecnologia. Esse movimento tende a acelerar a familiaridade do consumidor e reduzir barreiras perceptivas.
No Brasil, apesar do forte ritmo de crescimento, a infraestrutura ainda é um fator limitante fora dos grandes centros. Já a Argentina começa a estruturar um ambiente mais favorável a partir da combinação entre novas marcas e expansão gradual dos pontos de recarga, com impacto mais visível esperado a partir de 2026.
Um estudo pensado para orientar decisões estratégicas
Com 1.750 entrevistas previstas na edição sul-americana — sendo 1.000 no Brasil — o EV Navigator 2025 foi concebido para apoiar decisões mais informadas em toda a cadeia.
Montadoras, importadores, operadores de recarga e gestores públicos passam a ter acesso a uma leitura mais precisa sobre barreiras, expectativas e gatilhos reais de conversão do consumidor.
À medida que a eletrificação deixa a fase de promessa e entra na fase de maturação, dados consistentes se tornam um diferencial competitivo. E é exatamente isso que o EV Navigator 2025 se propõe a entregar: uma base concreta para navegar o próximo ciclo de transformação do mercado.
Fonte: Automotive Business
































