Por Eugênio Brito
O consumidor brasileiro mudou a forma de comprar um carro. Essa é uma das conclusões de um estudo apresentado pela Ipsos Brasil durante o Automotive Business Experience – #ABX25.
O levantamento “Vias da Mudança: Navegando o Panorama do Mercado Automotivo” foi apresentado por Marcelo Pereira, diretor da Ipsos Brasil para o setor automotivo e de mobilidade, e Rodrigo Soares, gerente de pesquisa da Ipsos Brasil.
O estudo entrevistou 484 pessoas de quatro faixas etárias (abrangendo perfis de 18 a 99 anos), com 46% de homens e 54% de mulheres.
O diferencial do levantamento é ter uma representatividade perfeitamente balanceada entre pessoas proprietárias de veículos: 50% com carros zero-quilômetro e os demais com seminovos.
Público jovem se distancia da compra de carro zero
Logo de cara, o levantamento da Ipsos Brasil derruba a imagem de jovens recém-habilitados que enxergam o carro zero-quilômetro como um marco da entrada na vida adulta.
Segundo Rodrigo Soares, este perfil já não condiz mais com a realidade do mercado brasileiro, uma vez que preços mais elevados também aumentaram a faixa etária de quem pode comprar um carro novo como primeiro veículo.
Atualmente, esse perfil de compra está concentrado na faixa entre 30 e 35 anos.
“A faixa etária de quem compra carro zero (quilômetro) veio aumentando, a cada ano, nos últimos 30 ou 40 anos. Antigamente, tínhamos uma variação dentro da faixa até 29 anos, mas hoje fomos entender onde estava esse público, e ele está ali até os 32, 35 anos”, afirmou Soares.
Compra de carro ainda passa por quatro grandes marcas
Se o público que compra o primeiro carro envelheceu, como fica a procura pelas marcas? Neste sentido, ainda há um domínio das quatro grandes marcas: as pioneiras Chevrolet (General Motors), Fiat (Stellantis), Volkswagen e Ford.
Porém, longe de olhar o resto do mercado pelo retrovisor, as quatro grandes agora dividem atenção com fabricantes que ganharam espaço ao longo das últimas duas décadas. O estudo lista pelo menos 20 marcas na preferência do público.
Entre os entrevistados, a Chevrolet é a marca que se mantém mais representativa, além de liderar em duas das faixas etárias (incluindo a de consumidores mais jovens) na preferência pela compra do primeiro veículo.
Para a faixa mais jovem de compradores do primeiro carro, de 18 a 29 anos, a Chevrolet segue tendo a preferência (24,5%), com Fiat, Ford e VW na sequência.
Chevrolet tem bons resultados, mas Fiat e VW também
A marca norte-americana também está no topo (28,7%) para clientes de 40 a 49 anos em busca do primeiro veículo, seguida por Fiat, com VW e Ford empatadas.
Dos 30 aos 39 anos, quem toma à frente é a italiana Fiat (24,8%), seguida por Chevrolet, Ford e VW.
A alemã Volkswagen lidera (32,4%) como primeira escolha de um público mais maduro, com mais de 50 anos, seguida por Chevrolet, Fiat e Ford.
Brasileiro está aberto à novidades
Os especialistas da Ipsos também queriam descobrir se o cliente estava ávido por novidades ou tinha um perfil mais acomodado.
“O que vemos é que, claramente, o brasileiro é aberto a novas experiências. Isso vem acontecendo cada vez com mais força, já que novas marcas ganharam o mercado. Ao mesmo tempo, as marcas antigas acabaram perdendo representatividade, ainda que a General Motors tenha se mantido como uma das mais estáveis”, disse Marcelo.
Considerando o veículo mais recente dos entrevistados, ou seja, um carro comprado recentemente, a Chevrolet mantém sua relevância, sendo a fabricante mais citada por todas as principais faixas etárias do levantamento.
É líder absoluta para o público mais maduro (24,45%) de quem tem mais de 50 anos; 22,2% para faixa entre 40 e 49; quase 21% entre 30 e 39; e 18,8% para quem tem entre 18 e 29 anos.
Fiat e VW (com maior público entre 30 e 39 anos), e depois Ford (que tem seu melhor resultado com pessoas entre 40 e 49 anos) surgem na sequência.
Hyundai e Honda avançaram na preferência do consumidor
Apesar de ainda estarem na cabeça do brasileiro quando o assunto é o primeiro carro, as quatro grandes têm perdido espaço gradativamente.
Primeiro ocorreu com as chamadas newcomers, nos anos 1990 e virada do século (francesas, japonesas e sobretudo coreanas). Mais recentemente foi a vez das marcas chinesas em duas levas: JAC e Chery vieram na segunda década deste século, enquanto a mais recente com amplo domínio de modelos mais tecnológicos e motorização híbrida ou elétrica (capitaneadas por BYD e GWM, entre outras).
Maior debandada, aponta a Ipsos, está justamente entre o público mais jovem (até os 29 anos), sobretudo para um segundo veículo, para o qual 51,6% trocou de marca.
Na primeira compra, as quatro grandes ainda dominam as garagens com 62,6% do público. Entretanto, este também é o menor público dentre todas as faixas.
Se as tradicionais perderam espaço, a Honda é disparada a que mais assumiu a vaga na preferência do público mais jovem (15,6%), bem como na faixa de 40 a 49 anos (7,4%). A Hyundai assume entre 30 e 39 (6,9%) e acima de 50 anos (5,9%).
“O que a gente observa sobre a Honda é exatamente uma busca por alternativa, já que não existe mais carro novo barato. Não há carro zero-quilômetro por R$ 50 mil, o modelo mais em conta custa R$ 80 mil. Mas eu posso comprar um (Honda) Civic seminovo por R$ 50 mil e, com isso, o público jovem escolhe pelo status, pela beleza e ainda ter esse custo/benefício”, aponta Soares.
Chinesas no começo da trajetória
Os diretores da Ipsos apontam ainda que, apesar do hype atual, as marcas chinesas continuam num começo de trajetória. Tanto é que, dentro do levantamento, elas ainda não surgem de forma representativa.
Em outras palavras, o público que compra carros chineses neste momento não o faz como primeira compra, mas como aposta para complementar a garagem. Seria uma compra alternativa como forma de ter “outra experiência”, representando o segundo ou terceiro carro da garagem.
Pereira ressalta, porém, que o consumidor brasileiro, de modo geral, ainda tem um perfil de oportunidade, que toma riscos, conforme a conveniência para o bolso. Desta forma, não será algo inusitado se próximas edições do estudo mostrarem avanços grandes das marcas chinesas.
Comprador precisa de incentivos
Há uma barreira no mercado brasileiro que reduz as vendas tanto de zero-quilômetro, quanto de seminovos, detalham os executivos da Ipsos. O mercado de usados nunca esteve tão aquecido, mas poderia ser ainda mais lucrativo com mais opções de auxílio na hora de fechar negócio.
A leitura é que incentivos seguem sendo necessários, independentemente do objeto de negociação, bem como taxas mais atraentes e negociação facilitada.
“O que ainda impede (o comprador do primeiro carro) de comprar um zero-quilômetro, mas também os seminovos, são as taxas mais altas. O carro zero ainda costuma ter taxas mais baixas, por condições das próprias fabricantes, ainda que não muito menores. Há ainda o financiamento, que traz um pouco mais de facilidade para o veículo zero, mas seria bom ter mais facilidade e atrativos para ambos os casos de negociação, seria algo excelente para o mercado de seminovos, sobretudo com suas opções de custo-benefício”, disse Soares.
Fonte: Automotive Business