Por Karin Fuchs
As oportunidades para o aftermarket automotivo são latentes, com o envelhecimento da frota, postergação da troca do veículo e aumento de demanda nas oficinas. Por outro lado, as incertezas políticas e econômicas do País apontam para um cenário de consumo retraído, neste primeiro momento, e de postergação de investimentos por parte dos empresários, ao mesmo tempo em que os que desejam ampliar seus negócios, esbarram na falta de mão de obra qualificada, o que não é uma novidade no setor.
Nesta matéria, em continuidade à nossa reportagem de capa de dezembro, executivos das principais entidades do Brasil, varejistas e proprietários de oficinas mecânicas comentam como foi o ano de 2022 e as perspectivas para este ano.

LOGÍSTICA DIFERENCIADA
No ano passado, o maior investimento do Grupo Pelegrini, de Uberlândia (MG), especificamente no varejo, foi em logística, conforme conta o empresário João Pelegrini. “As maiores empresas do mundo são as que têm uma logística eficiente. Após dois anos de pandemia, em que tivemos que nos adaptar no online, ficou muito claro para nós que era preciso intensificar o foco nas nossas entregas; melhorar a qualidade de entrega e de todos os processos para que isso ocorra de maneira eficiente. Nós colocamos isso em prática e tivemos sucesso”.
O resultado foi um crescimento dentro do planejado, de cerca de 20%. “Fruto de uma gestão de estoque muito apurada com a equipe e a implementação da logística com mais assertividade, acompanhando a realidade de entrega ágil e rápida”, diz João, acrescentando que treinamento também faz toda a diferença.
“Desde 2021, em um dia da semana, nós temos um treinamento online para levar conhecimento, de maneira geral, para a nossa equipe”.
Assim como tantos outros empresários, não só do nosso setor, João também fala sobre a falta de mão de obra. “É preciso atualizar e qualificar os nossos profissionais. O nosso grande desafio no País é com mão de obra, manter o profissional está muito difícil, pois com a tecnologia, produtos e pessoas estão numa vitrine, com seus currículos atraindo novas oportunidades”.
Especificamente no setor de autopeças, ele vê como oportunidade o envelhecimento da frota. “Para nós que vendemos peças é uma oportunidade de negócios, porque houve a falta de veículos novos para comprar, o carro valorizou mais e compensa investir no seu veículo. Houve melhora nos negócios, na demanda, e quem tem uma boa gestão se sobressaiu e cresceu”
Para este ano, o empresário comenta que continuarão faltando peças no mercado, “as indústrias estão com muita carência de peças, reflexo da pandemia com a redução de produção. Até elas colocarem isso em dia, aliado ao envelhecimento da frota (demanda), levará um tempo”. Do ponto de vista político, diz ele, “a gente torce para que não tenham medidas eleitoreiras, medidas que tragam um incômodo para a população. É preciso estimular as pessoas a trabalharem, que é o que gira a economia. Os mais estudados, com um nível intelectual mais alto, têm um poder de ganho maior”.

FROTA ANTIGA RODANDO
Na visão de Roberto Rocha, da Rocha Auto Peças, com lojas em Campinas (SP) e região, neste ano o preço do carro novo continuará alto e a população manterá a frota antiga rodando. “A falta de veículos novos vem se arrastando desde 2021 e o aumento de preço criou uma oportunidade para nós, pois as pessoas deixaram de trocar de carro e passaram a fazer a manutenção. Em 2022, o nosso crescimento foi de 15% acima de 2021. Algumas marcas tiveram um aumento de preço de 40% ou 50% e na média, estamos com um faturamento positivo”.
O empresário também tem percebido uma demanda de peças para veículos mais novos. “Muita gente saiu da concessionária ao vencer a garantia e veio para o nosso mercado, o que favoreceu a gente. Só que muitos procuram por peças de carros novos, antes era a partir de três anos, agora, com um ano e meio de uso, e temos que correr atrás para ter essa peça. A própria fabricante não tem todas para repor no mercado de reposição, muitos continuam com atrasos na produção para nos atender, nem o fabricante sabe quando entregarão as peças e nem garantem a data de importação delas”.
Além de ter que investir em peças novas para não perder o cliente, o que mais lhe preocupa é o número de novas lojas abertas. “Muita gente está abrindo mais lojas e faltarão ainda mais peças que estão indo para elas e que nem sempre são vendidas, é um estoque morto. O custo de abrir uma loja é alto e eu estou desconfiado de que daqui a pouco eles vão descobrir que isso é prejuízo, pois esse dinheiro parado não é remunerado. Na linha branca fizeram o contrário, só tem o showroom para mostrar as peças e a entrega é feita a partir do CD, onde está o melhor custo/benefício fiscal”, compara.
De antemão, Roberto diz que está reticente em fazer grandes investimentos além do que, falta mão de obra. Sobre as previsões para este ano, ele diz que elas ainda são uma incógnita. “Ninguém pode prever o que irá acontecer. Se tudo continuar correndo normalmente, com dinheiro no caixa dos menos favorecidos, eles vão arrumar seus carros, se o dinheiro for só para comer, o nosso mercado não vai melhorar tanto. Até as multinacionais já estão segurando investimentos devido às incertezas e se isso aumentará os impostos”.

FAZER O QUE É PRECISO
Diretor Executivo da Jocar, Moisés Sirvente, comenta que todos os anos trazem novos aprendizados para melhorar cada vez mais. “Há sempre as oportunidades e os desafios, e temos que estar atentos a isso. 2022 foi um ano bom e estamos sempre tentando melhorar, mas tem coisas que não temos controle, como o fornecimento de peças”.
Nesse quesito, ele diz que foca em aumentar o estoque, prevendo uma falta de entrega de peças. “Quando é preciso, procuramos fornecedores alternativos, mas às vezes não tem jeito e falta a peça. Dependendo da situação, a gente vê o que fará. Como sempre estamos colocando outras linhas, quando sai uma, entra outra, pois se não fizermos isso, o estoque vai diminuindo”.
No ano passado, eles abriram uma unidade em Santo Amaro, na zona Sul de São Paulo, hoje são 4 no total, e fizeram mudanças pontuais no e-commerce. A atualização do portfólio é constante e, no balanço de 2022, Moisés diz que o resultado foi melhor do que em 2021. Para este ano, ele diz que o negócio é tocar em frente.
“Independentemente do governo, a gente faz o que precisa ser feito. Não espero nada de ninguém. É tocar o negócio mesmo com os concorrentes e ver o eles estão fazendo para fazermos diferente. Tem que se reinventar, ver o que os clientes precisam e atendê-los da melhor forma possível”, afirma, citando o que os romanos diziam: “não é possível controlar a direção dos ventos, mas é possível reorientar as velas”.

CRESCIMENTO DE DOIS DÍGITOS
Em São Paulo (SP), o CEO da ArsenalCar, Thiago Arantes, diz que 2022 foi relativamente bom. “Com o “pós-pandemia”, os carros voltaram a circular de forma 100% normalizada, a economia voltando aos poucos, e para nós em especial tivemos a oportunidade de retomar a importação com a normalização do frete marítimo”, garante.
Segundo ele, o principal desafio do ano para eles foi conseguir manter uma crescente de faturamento em um ano de eleição onde o cenário político impactou diretamente na economia e retração do mercado. “Mas, como isso já era previsto, diferentemente da pandemia, nós criamos estratégias comerciais para conseguirmos fechar o ano com a satisfação de ter alcançado nossa meta de crescimento. Fechamos com um crescimento de 20% em relação a 2021”.
Para este ano, Thiago comenta que a expectativa é das melhores, já que a pandemia os impactou muito no quesito importação. “O faturamento do e-commerce como um todo em 2022 já é 785% maior que antes da pandemia. Então, quando olhamos para um ano onde a importação estará normalizada e possivelmente uma estabilização do dólar junto a um exponencial aumento de e-consumidores, temos grandes expectativas para que seja um excelente ano”.
Ele aproveita para contar uma novidade. “Neste ano, nós lançamos uma nova plataforma de venda online para que todo o mercado de autoparts possa anunciar seus produtos nos marketplaces como o Mercado Livre, por exemplo, com uma alta exposição. Criamos uma máquina de vendas utilizando da grande relevância que a marca ArsenalCar tem no mercado. A nossa ideia é revolucionar o formato de vendas online do setor de autoparts. Para quem quiser acessar e conhecer a plataforma, ela está hospedada em https:// www.digigrow.com.br”, especifica.

OFICINAS: Termômetro do mercado
Fundador do Grupo Guia Norte, em São Paulo (SP), Alexandre Dias conta que no ano passado eles registraram um crescimento em torno de 13%. “Este resultado é por trabalharmos muito em cima da conveniência, em oferecer comodidade para os nossos clientes, por melhorias que fizemos e não por fatores externos”, explica, acrescentando que o que ele viu acontecer foram locadoras reformando os carros de sua frota, pela falta de veículos novos, e consumidores postergando a troca pelo novo por causa da alta taxa de juros. “Mas, de maneira geral, o envelhecimento da frota não impactou nos nossos negócios”, acrescenta.
Falta de peças não foi um problema para ele e quanto à questão de mão de obra, a sua opção foi formá-la. “Ao invés de contratar profissionais do mercado, eu estou formando garotos e garotas que não são da área. É praticamente impossível contratar pessoas prontas e quando isso acontece, elas não falam sua língua e vêm com vícios e manias. É muito difícil de remoldá-las e isso dá mais trabalho do que resultado. Mão de obra é o meu grande problema”.
Representante do Estado de São Paulo no Comitê Nacional da Bosch e representante da Continental, Alexandre mostra um termômetro animador. “Por eu ter informações internas de ambas, nada foi alterado no planejamento de 2022, elas continuaram falando em crescimento, e eu acho que o ano passado cumpriu até mais do que imaginávamos. Eu sou um porta voz de 182 oficinas perante a Bosch, e as informações que temos tanto da Bosch como da Continental é que os investimentos continuam no mesmo ritmo”.
Para este ano, ele analisa que se a taxa Selic subir em médio prazo, o consumidor continuará a postergar a troca do seu veículo. “O preço do carro subiu muito e dificilmente se compra um carro à vista. Para nós que trabalhamos com reparação isso é bom, pois o consumidor acaba consertando o seu usado”.
Como empreendedor nato, a dica dele é ficar atento às oportunidades. “O que não pode é ficar parado no tempo. Tem que ter o lado técnico ou ao seu lado um profissional técnico, que é o que eu tenho. Ele está sempre antenado em tudo o que acontece e vai vir uma onda do carro híbrido. Não acredito na onda do carro 100% elétrico, pois não temos infraestrutura para isso”, conclui.

CASA CHEIA
José Natal da Silva, da Mega Car Centro Técnico Automotivo, conta que no ano passado o que não faltou foi serviço e que o volume só não foi maior por falta de mão de obra. “2022 foi melhor do que o ano anterior, mas a nossa grande dificuldade continua sendo com mão de
obra. Isso nos trouxe um certo desconforto em relação à produtividade da oficina, mas a clientela estava presente. Porém, ainda não atingimos o ticket médio do período pré-pandemia”
Segundo Natal, a concorrência por mão de obra também se dá com as oficinas premium. “Elas estão captando a mão de obra das oficinas de bairro, que não conseguem acompanhá-las em termos de padrão, pois elas não conseguem colocar este valor agregado aos seus clientes e, às vezes, nem as concessionárias conseguem manter o padrão delas. Se você não acompanhar a evolução e pôr valor no seu negócio, você ficará para trás em todos os sentidos. É isso que está acontecendo com as oficinas de bairro”, lamenta.
Sobre falta de peças, ele diz que no ano passado o problema foi pontual, “alguns itens faltaram pontualmente, mas isso não chegou a ser um ponto de desiquilíbrio. Posso dizer que foi bem mais tranquilo do que no ano anterior”. Com a postergação da troca do veículo, a falta de veículos novos no mercado, o consumidor preferiu cuidar do seu carro.
“O momento econômico de pandemia fez com que as pessoas pensassem melhor em como gastar o seu dinheiro e deixá-lo mais reservado para emergências. Acho que este ano será na mesma pegada do que foi no ano passado”, prevê. Como termômetro, ele diz que na sua distribuidora, que tem o mesmo nome da oficina, somente no início deste ano, as vendas cresceram 35%. “Foi um crescimento orgânico e a nossa média diária de vendas foi a maior dos últimos anos, o que mostra que o mercado está aquecido”.

PROBLEMAS COM PEÇAS
Na Invest Auto, localizada em Balneário de Camboriú (SC), Roberto Turatti, o Billy, informa que no ano passado, o maior problema que tiveram foi com a qualidade das peças. “Nós sofremos muito com a falta de peças, principalmente de veículos importados. O que encontrávamos no mercado era de segunda linha, o que ocasionou um retrabalho. A nossa média de retrabalho é de 3% e, em 2022, esse percentual aumentou pela má qualidade das peças”.
Por ter sido um ano eleitoral e com Copa do Mundo, Billy conta que esses eventos também atrapalharam. “Esses dois fatores mais a falta de peças impactaram os nossos negócios. O próprio cliente fica mais retraído, por não saber o que irá acontecer e isso gera um efeito cascata”, comenta.
Assim como nos anos anteriores de troca de governo ou reeleição, pela experiência de quase três décadas adquirida com a Invest Auto, Billy diz que o cenário é sempre o mesmo. “Há sempre uma retração nos três ou quatro primeiros meses do ano, e este será um ano de incertezas. Os empresários vão investir menos e onde puderem cortar despesas, cortarão, e isso acaba movimentando o comércio de forma negativa. Eu vou reduzir despesas e há um bom tempo eu não trabalho com estoque, pela facilidade de logística que temos, em um ponto bom de trabalhar com vários fornecedores”.

METAS ATINGIDAS
Em Brusque (SC), Alessandro de Souza, o Kiko, da Tecnocar, conta que no ano passado, mês a mês eles atingiram as metas, exceto no mês de eleições. “Foi um ano bem melhor do que 2021. Pelo carro novo estar caro, isso ajudou bastante. O que notamos em conversas com clientes é que alguns tinham condições de trocar de carro, mas pela incerteza política no País, ninguém sabia o que iria acontecer optaram por não trocar e acabaram fazendo as revisões, as manutenções”.
Falta de peças também foi um problema para ele. “Principalmente as distribuidoras estão focadas nas curvas A, B e C, abaixo disso, já fica ruim de achar a peça. O que há hoje no mercado são muitas peças de má qualidade e às vezes é preciso deixar o carro na oficina um ou dois dias até encontrar uma de boa qualidade e isso vai desde filtros e pastilhas até outros itens”.
Para este ano, Kiko diz que o momento é de resguardo. “O ano começou muito bom para nós, sempre janeiro é um mês bom de movimento na oficina. Eu tenho vontade de ampliar a oficina ou ir para um lugar maior e contratar mais gente, mas devido à incerteza política que está instalada no País, eu vou ficar como estou. Aguardar o que irá acontecer daqui em diante”, afirma.

ENTIDADES Exportar mão de obra
Presidente do SSA-Ce e Sincopeças Brasil, Ranieri Leitão, informa que apesar de ter sido desafiador, o ano de 2022 foi de crescimento para o setor. “No início de 2022, não sabíamos como iriam se comportar os negócios, mas graças a Deus, o setor cresceu muito e superou a casa dos dois dígitos. Claro que a inflação e a falta de peças nos prejudicaram um pouco, mas o balanço do ano foi ótimo, principalmente para os empresários da reparação automotiva”.
Para este ano, Ranieri diz que é preciso ter os pés no chão pelo momento em que o Brasil está passando. “Temos que esperar como irá se comportar a taxa de juros. Eu acredito que teremos um ano bem promissor, porém, com mais desafios do que tivemos em 2022. Tudo dependerá de como a política irá se comportar, o que é muito importante para os nossos negócios. E com o envelhecimento da frota e as pessoas cuidando mais dos seus carros, tudo isso contribui para a gente ter mais sucesso nos nossos negócios”.
Com o objetivo de formar mão de obra para o setor foi criado o Instituto Autop, sediado em Fortaleza (CE) com cursos presenciais e a distância. “Ele tem um único objetivo, que é formar pessoas para o nosso mercado. Ele será um divisor de águas e, se Deus quiser, um dia “exportaremos” trabalhadores para todo o nosso País. Nós temos que contribuir com o nosso setor em nível nacional, esse é um desejo muito grande que eu tenho, não só como Sincopeças Brasil, mas também pela Câmara Automotiva Nacional”.
Outra iniciativa que Ranieri espera que seja colocada em prática é a Inspeção Técnica Veicular no Brasil. “Este é o grande legado que nós queremos deixar para o Brasil, com a união do setor que aconteceu na Autop, com a Carta de Fortaleza. Mas, para isso, é preciso formar mão de obra para atender a demanda”, conclui.

INICIATIVAS
No setor de reparação automotiva, Antonio Fiola, presidente do Sindirepa-SP e Sindirepa Brasil, informa que 2022 foi um ano de recuperação pós-pandemia, em média, com um aumento de 20% das passagens nas oficinas. “Isso é uma média, sem considerar 2020 e 2021, que foram bem atípicos por causa da pandemia. Existe o fator de envelhecimento da frota que gera mais manutenção. Veículos com mais idade geram manutenção por causa do desgaste natural das peças”.
Ele acrescenta que “a evolução do envelhecimento da frota oferece oportunidades para a reposição, como sempre aconteceu ao longo do tempo. Com idade média da frota acima de 10 anos, as perspectivas são positivas para este ano, assim como foi em 2022. O mercado segue em crescimento sustentável e gera negócio para todos os canais da cadeia produtiva”.
De acordo com ele, “o setor de reparação de veículos está preparado para atender a demanda. Os fabricantes, por exemplo, buscam atualizar o portfólio com novos itens para garantir o suprimento do mercado diante de tanta diversificação de modelos e versões de veículos. O mercado de reposição sempre avançou nesse sentido”.
a demanda. Os fabricantes, por exemplo, buscam atualizar o portfólio com novos itens para garantir o suprimento do mercado diante de tanta diversificação de modelos e versões de veículos. O mercado de reposição sempre avançou nesse sentido”.
Em relação às peças, Fiola comenta que no começo da pandemia, houve falta de peças de forma mais consistente, principalmente as que são relacionadas à área externa do veículo, como lataria, faróis, lanternas, retrovisores, entre outras. “No caso das peças mecânicas, como a reposição é eficiente e a distribuição tem capilaridade boa é possível estar com os estoques supridos.
Agora, como as montadoras já voltaram com a produção as peças externas também já voltaram à normalidade”, acrescenta.
Entre os desafios do setor, ele pontua os relacionados às áreas de gestão, capacitação profissional e informações técnicas para diagnóstico de veículos. “O Sindirepa-SP tem atuado para levar soluções voltadas a estas questões, visando o desenvolvimento do setor ante as mudanças geradas pelo avanço de novas tecnologias nos veículos que tornam a reparação cada vez mais técnica. Há várias ações e parcerias em andamento com o Sebrae para treinamentos, assim como com o Sicoob para oferecer aos associados uma política comercial diferenciada”.
Junto com outras entidades do setor, Fiola conta que o Sindirepa Brasil continuará à frente da mobilização para que o movimento Right to Repair e Right to Conect seja uma realidade no Brasil, como já acontece em outros países para que o consumidor tenha o direito aos dados e informações de seu veículo. “Ele não pode ser obrigado a realizar a manutenção ou reparação exclusivamente na rede de concessionárias das montadoras”, ressalta. O lançamento oficial dessa ação no Brasil ocorreu durante a Autop, em agosto de 2022, quando foi lançada a Carta de Fortaleza.
Além do Sindirepa Brasil, Andap, Sincopeças Brasil e Conarem estão unidos nesse propósito. Foram estabelecidos os pilares que envolvem representação institucional, desenvolvimento técnico e tecnológico, da sustentabilidade (econômica, social e ambiental), das pessoas, e o fomento dos negócios; a criação da Universidade do Aftermarket (UniAfter).
“A ideia é que seja uma associação educacional sem fins lucrativos para o desenvolvimento de ações de formação e capacitação de mão de obra para o mercado de reposição automotiva de forma ampla, em consonância com o pilar fundamental da associação que são as pessoas; como ponto de irradiação dos conceitos, das premissas e das pautas conjuntas e integradas”, finaliza.

COMÉRCIO VAREJISTA
Heber Carvalho, presidente do Sincopeças-SP, diz que o mercado varejista manteve em 2022 um crescimento nas vendas de peças automotivas, muito por conta da falta de veículos novos. “O comércio varejista, apesar da falta de alguns componentes, manteve evolução acentuada nos seus resultados. Em termos percentuais, em média, no ano 2022, girou em torno de 10%”.
Segundo ele, “o comércio varejista de autopeças é sempre encantador, pois mesmo com a falta peças, produtos e veículos, nosso mercado se mantém aquecido. Aí estão as oportunidades. E os desafios serão sempre tentar entender o nosso mercado e, agora com o e-commerce, as tendências estão cada vez maiores. É sempre um novo aprendizado”.
E com o envelhecimento da frota, ele só tende a crescer. “A manutenção e a procura de peças está cada vez mais forte, principalmente no e-commerce. Ou seja, as empresas estão conectadas com possíveis clientes que, fisicamente, jamais estariam presentes em suas lojas”, explica.
Para finalizar, Heber diz que o Sincopeças-SP procura estar próximo aos varejistas, levando aos empresários informações, cursos, treinamentos, além de entender o mercado para mantê-los sempre bem informados. “Nossa entidade sempre procurou se antecipar aos desafios do nosso mercado, passando segurança para aquelas empresas que estão adequadas à evolução dos tempos. As empresas precisam saber que, quanto mais organizadas estiverem, mais preparadas em todos os sentidos, financeiro, fiscal, internet, programas de computador, e-commerce, enfim, adquirem novos aprendizados que são benéficos para si e para todo o mercado”.

APURAÇÃO DO NOVO IVA
Presidente do Sicap, Alcides Acerbi Neto, conta que “2022 foi o ano de recuperação do faturamento com base no período anterior ao da pandemia, em 2019. E com relação a 2021, o crescimento do canal distribuidor foi de 18%. Os desafios ainda foram em relação ao abastecimento de peças para a reposição e as incertezas políticas. Já as oportunidades continuaram as mesmas, sem nenhum fato relevante”.
Ainda que o envelhecimento da frota seja um impulsionador para o setor, ele pondera que isso dependerá da economia do País. “A consequência do envelhecimento da frota é o aumento da demanda por manutenção e troca de peças. Porém, dependemos de que a economia do País esteja em sua normalidade, com o dinheiro circulando pela sociedade como um todo”.
Alcides enfatiza que o setor está preparado para atender a demanda. “Praticamente com a normalização do abastecimento dos estoques dos distribuidores, o fornecimento de peças para a manutenção da frota está garantido” e acrescenta que o impacto imediato da falta de componentes para as montadoras é a diminuição da produção de veículos.
“A redução nas vendas dos veículos novos contribui para o envelhecimento da frota e, consequentemente, o aumento da demanda por manutenção. Isso, como já mencionado anteriormente, acaba por favorecer o mercado de reposição de autopeças. Os componentes eletrônicos são os maiores responsáveis pela redução da produção de veículos, mas eles afetam muito pouco o aftermarket e as oficinas independentes. O que não podemos esquecer é que a normalização da produção e venda de veículos novos é primordial para o crescimento da nossa frota”, afirma.
Entre as ações do Sicap, ele conta que já começaram este ano tentando frear a sede do governo por arrecadação, aumento de impostos e por “desreforma” trabalhista e que estão articulando para que o Estado de São Paulo saia do regime de Substituição Tributária (ICMS-ST). “Enquanto isso, já estamos trabalhando na apuração do novo IVA para que diminua ou tenha o menor aumento possível”.
Ele acrescenta que neste ano, por conta do novo governo, eles terão um trabalho mais difícil pela frente representando e negociando as Convenções Coletivas de Trabalho (CCT). E que em prol do setor, estão apoiando e contribuindo de forma mais intensa ao Aliança Aftermarket Automotivo Brasil, “que também defende o movimento Right to Repair em nível mundial, luta pela segurança das pessoas através da Inspeção Técnica Veicular, além de outras pautas importantes para o nosso setor. Estas são algumas das ações que fazemos em prol do setor”, conclui.
Fonte: Balcão Automotivo