Desde o início da série histórica da Anfavea, que começou em 1957, o ápice de produção de veículos no País foi no ano de 2013, com um total de 3.713.813 unidades, considerando todas as categorias, sendo deste total, 2.955.356 automóveis. No ano anterior, o recorde foi para o volume de licenciamentos, totalizando 3.802.071 unidades e automóveis participaram com 3.114.223 unidades. No ano de 2014, a produção também se manteve acima de 3 milhões de unidades (3.151.831, automóveis, 2.507.759) e as vendas também, somando 3.498.012 de unidades, com 2.794.687 automóveis licenciados.
De lá para cá, a marca de 3 milhões de unidades de produção e vendas não foi mais atingida. E com a pandemia, o setor amargou uma queda considerável em 2020 (veja abaixo). Neste ano, conforme a última coletiva da Anfavea, no início deste mês, a produção de veículos cresceu 4,7% até agosto, em relação ao mesmo período de 2021, com 1,549 milhão de unidades.
Ainda que no mesmo período a retração no volume de licenciamentos tenha sido de 7,04%, chegando a 1.047.512 unidades, com 973.759 automóveis licenciados, considerando apenas o mês de agosto, os sinais são de recuperação.
“Em agosto, a produção de 238 mil unidades foi um novo recorde para o ano e as vendas, em torno de 209 mil unidades, superaram os últimos 19 meses, com uma média diária expressiva de 9,1 mil unidades, reforçando uma tendência de alta”, afirmou o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite.
Envelhecimento da frota
Pelo relatório do Sindipeças, em 2021, a frota circulante no País era de aproximadamente 46,6 milhões de unidades, a grande maioria, 38,2 milhões, automóveis, e a participação dos importados foi de 14,2% do total. Incluindo motos, a frota circulante supera a marca de 59,4 milhões de unidades.
Da frota total, 18,3% têm idade média acima de 16 anos (8,5 milhões de unidades), 57,4% ou 26,8 milhões, entre 6 e 15 anos, e 24,2%, até 5 anos ou cerca de 11,3 milhões de veículos. A constatação do estudo é que a idade média, de 10 anos e 3 meses, vem aumentando desde 2014. Em quase uma década, de 2013 a 2021, o envelhecimento elevou-se em 1 ano e 10 meses.
Como tem dito o presidente do SindirepaSP e Sindirepa Nacional, Antonio Fiola, “este é um grande momento para o setor de reposição automotiva. A nossa frota está próxima a uma idade média de 17 anos e vai haver aumento de demanda para todos”.
Percepção do varejo
Na visão do empresário João Pelegrini, do Grupo Pelegrini, de Uberlândia (MG), com a queda nas vendas de veículos novos e a valorização dos usados, a tendência é que a manutenção deles seja feita. “Essa é a realidade do momento e isso vai mudar quando o mercado for abastecido por veículos novos. Existe uma frota circulante razoável, com essa valorização do usado, compensa reparar o veículo, pois esse investimento será compensado. O importante é ter a percepção do mercado, a gestão do seu negócio”.
Ele acrescenta que a partir do momento que se tem o controle do seu negócio, com indicadores que mostram como está a demanda por determinado produto é que vale a pena investir, motivo pelo qual, ele vê o cenário atual com muita tranquilidade. “Tem que ter toda a sensibilidade do mercado com os seus controles automatizados, conhecer a frota da sua região, e conforme a demanda, aumentar gradativamente o estoque adquirindo itens de maior giro e não exponencialmente, pois o investimento em peças é muito grande”, diz.
Carlos Gomes, da Carbwel Auto Peças, em São Paulo (SP), prevê que aumentará o número de carros usados no mercado, principalmente com a renovação nas locadoras e para quem tem um usado hoje, vale a pena investir em manutenção. Movimento que tem feito com que ele já esteja ampliando o estoque. “Principalmente de itens de giro, pois o mercado é muito dinâmico no lançamento de novos veículos”, explica.
Diversificação
Roberto Rocha, da Rocha Auto Peças, de Campinas (SP) e região, comenta que a diversidade no estoque será ainda maior com uma frota mais antiga e por causa dos novos veículos. “Antigamente, a gente ‘sucateava’ uma peça, tirava do estoque e a colocava em outro lugar. Hoje, tem que deixá-la no estoque e comprar a nova. Isso requer mais espaço para estocar peças e um investimento maior, pois o capital não veio da venda da peça antiga”.
Rocha vê que algumas autopeças estão ficando para trás, por não conseguirem investir. “Tem autopeça em Campinas que tem coisas mais velhas, ele é especializado nessas coisas que os outros não têm mais. Não compensa ficar dois ou três meses vendendo um item de baixo valor e ocupando espaço na prateleira, você começa a eliminá-los para dar lugar ao que tem maior valor de venda”.
Hoje com 6 lojas e um CD, ele conta que o investimento em estoque é constante e que a intenção é abrir novas lojas, porém, o que falta é mão de obra. “É uma dificuldade generalizada no mercado, não somente na minha região, o que estamos fazendo é treinar funcionários, nós temos cursos internos”.
Sobre o envelhecimento da frota, ele analisa que isso mudará quando a economia melhorar. “A frota está envelhecendo por um momento econômico ruim e o carro usado está valorizado. Assim que a economia melhorar, aos poucos a frota começa a ser renovada, a idade média diminuirá, virá a oportunidade de peças novas para serem colocadas no mercado e o carro velho vai perdendo o valor”.
Atentos às oportunidades
Bruno Reginatto, da BL AutoPeças, de Novo Hamburgo (RS) e região, tem motivos para comemorar. “A demanda do último trimestre do ano já é a maior da nossa história. Já nos preparamos com uma reposição mais forte no estoque, para conseguir bater as metas traçadas desde o início do ano. O envelhecimento da frota é um fator que nos ajuda, pois as manutenções fora das concessionárias acabam movimentando mais as oficinas que são parceiras das nossas lojas”.
Na sua região, ele diz que muitos comentam que com os valores altos dos carros 0 km, o mercado deve manter por um bom tempo a venda de usados mais aquecida do que os novos. “Acredito que isso se mantenha por um bom período ainda, já que os preços dos veículos não baixaram nesse último ano, e não deram sinais ainda de que irão baixar tão cedo. É uma grande oportunidade para o nosso setor, a movimentação do mercado de veículos seminovos e usados, e isso sempre é benéfico para nossas vendas, e para as manutenções preventivas e corretivas que são realizadas em nossos clientes”.
Hoje com 7 lojas, 5 próprias e 2 franquias, ele conta que os planos são de expansão. “Como a abertura de novas lojas nos próximos anos. O nosso estoque na loja matriz, em Novo Hamburgo, segue sendo ampliado para conseguirmos nos abastecer com cada vez mais itens e linhas novas que nossos clientes buscam”.
Na filial da Koga-Koga, em Campinas (SP), o gerente Claudionor Pereira Júnior comenta que ao analisarmos o mercado de reposição de autopeças, o envelhecimento da frota traz benefícios em curto prazo. “Pois, estes veículos precisam de mais cuidados e aumentam a necessidade de manutenção. Desta forma, estamos qualificando nossos profissionais para entenderem essas necessidades e sempre termos em estoque um portfólio de produtos de qualidade os quais atendem essa demanda. Por sermos uma empresa com mais 60 anos, temos a experiência de sempre estarmos atentos para novas possibilidades de mercado”.
Ele acrescenta que carros com idade elevada tendem a apresentar defeitos com maior frequência, isso se agrava caso o proprietário não esteja com as revisões e manutenções em dia. “A manutenção preventiva dos automóveis se torna necessária e, consequentemente, aquece as vendas do setor de reposição”. Em sua opinião, isso se sustenta para as frotas com até 15 anos. “Tendo em vista que a renovação sempre se faz necessária e cada vez mais é preciso atender as exigências dos órgãos regulamentadores, para meio ambiente e segurança, isso só se faz com a renovação da frota”.
Modelo de varejo
Para o empresário Roberto Rocha, que tem no seu modelo de negócio foco no undercar, atendendo todas as montadoras, já há uma segmentação natural. “Percebemos que somos bem representativos para algumas montadoras e para outras, nós temos dificuldades por não achar peças”. De maneira geral, olhando para o mercado, ele diz que as redes de lojas tendem a ter mais variedade e que as pequenas, caminham para a segmentação.
“As redes acabam tendo mais peças em estoque, mais variedade, e conseguem atender um pouco mais, por terem uma estrutura por trás que permite acompanhar e olhar as demandas de mercado e conseguir colocar isso em estoque. Para a loja pequena, vai ficando difícil, pois ele não consegue ter essa percepção, que teria que ver, e acaba investindo no que tem respaldo do fornecedor. O que ele tem que correr atrás, ele desiste. E vai se restringindo ao grupo de peças que ele tem”.
Bruno Reginatto acredita que a segmentação é o caminho. “Acredito que sim, optem por segmentar e focar mais itens em poucas linhas. Nós mesmos já substituímos algumas linhas que não tinham tanto giro no estoque, para ampliarmos outras que giram mais, mas ao mesmo tempo são mais extensas e precisam de mais espaço físico em nossos estoques”.
Carlos Gomes diz que a segmentação já estava prevista há anos. “No meu caso, hoje eu não trabalho com acessórios. Cada um terá que escolher um caminho. São muitas montadoras, para dar um exemplo, eu estou fazendo um levantamento de correia, um pedido que tem 150 itens de modelos diferentes de carros. Na autopeça, para fazer o cadastramento de peças e estocá-las, é muito complicado, requer espaço físico. A segmentação já estava prevista faz tempo, ninguém consegue ser bom em tudo”.
Claudionor Pereira Júnior também acredita na segmentação. “Levando em consideração que o mercado automotivo está em constante evolução, tanto tecnológica quanto na diversidade de modelos, acreditamos que a tendência é a segmentação para se atender com qualidade tanto as frotas novas, quanto as mais antigas e as necessidades específicas que elas abrangem”.
Segmentação pura
No caso de João Pelegrini, que iniciou o seu negócio de forma segmentada, com a Casa do Chevrolet, aqui ele conta quais são as vantagens. “Você detém o conhecimento da marca e do segmento como um todo, uma fatia onde representa bem aquele negócio. Quando há uma diversificação tão grande da frota como hoje, às vezes a empresa tem 30 mil itens e na verdade está perdendo 30% ou 40% do seu negócio”.
Segundo ele, “segmentação pura igual a minha é muito mais saudável para o varejo. O capital investido em estoque é mais assertivo nas suas análises e controles, e o mercado e seus concorrentes, de maneira geral, te identifica como especialista e uma referência. A gente percebe mais rapidamente as mudanças que ocorrem e estamos mais alinhados com elas, desde que mantenha a sua gestão apurada, com profissionais adequados para isso”.
Pelegrini comenta que até os distribuidores são mais segmentados. “Como em linha leve ou pesada, e em componentes em que ele é mais forte, já existe uma maneira invisível de segmentação, às vezes o empresário nem percebe isso.
É comum dizer que ele é forte nisso ou naquilo, e a palavra forte segmentou. A prática é que a empresa já tem o rótulo do que ela é boa”, finaliza.
Produção e vendas
Em média, os veículos saem de fábrica com 5 anos de garantia, posteriormente, a reparação desses veículos é feita no mercado de reposição automotiva, que atende cerca de 80% da frota nacional. Abaixo, confira o volume de produção e vendas nos últimos cinco anos.
Fonte: Balcão Automotivo