O resultado do PIB no terceiro trimestre do ano aponta para uma “perda de fôlego” da atividade econômica, já antecipada pelos resultados recentes do varejo e da indústria.
Essa desaceleração pode ser explicada principalmente pela mistura de aumentos de custos de produção, que provocam retração da oferta, e aceleração da inflação, que ao gerar perda de poder aquisitivo e elevação dos juros básicos, derruba o gasto privado.
Esta combinação “perversa” é conhecida como estagflação.
Em todo caso, a projeção para o ano de 2021, segundo o modelo econométrico desenvolvido pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo (IEGV/ACSP), e divulgado na última Reunião do Comitê de Avaliação da Conjuntura da ACSP, continua mostrando crescimento do PIB (4,6%), embora menos intenso do que o projetado anteriormente, e explicado, em sua maior parte, pela menor base de comparação do ano passado.
O mesmo modelo ainda aponta para 2022 arrefecimento ainda mais forte devido à persistência inflacionária, aos fortes aumentos da Selic e à incerteza em relação aos quadros político e fiscal, fechando o ano com expansão de apenas 0,6%.
DESEMPENHO DA ECONOMIA
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,1% durante o terceiro trimestre do ano, em relação aos três meses anteriores, livre de efeitos sazonais. Trata-se da segunda queda consecutiva, uma vez que o PIB sofreu contração de 0,4% entre abril e junho, configurando o que se costuma chamar de “recessão técnica”.
Por outro lado, na comparação com o mesmo período de 2020, apesar de ter havido crescimento de 4,0%, este foi bastante menos intenso que o registrado para o segundo trimestre (12,3%), refletindo tanto a “perda de fôlego” da atividade econômica, como também o efeito de uma base de comparação relativamente menos fraca.
Na comparação com os primeiros três meses do ano passado, o consumo das famílias, principal componente da atividade econômica pelo lado do gasto, desacelerou em relação ao segundo trimestre, ao apresentar crescimento de 4,2%, em decorrência da diminuição da renda, do aumento dos juros e da baixa confiança do consumidor.
O investimento produtivo (formação bruta de capital fixo) continuou a apresentar aumento expressivo (18,4%), na mesma base de comparação, embora também exibindo desaceleração, devido principalmente aos avanços da construção civil e da produção e importação de máquinas e equipamentos.
Por sua vez, o consumo do governo se elevou em 3,5%, devido às maiores despesas com saúde pública e vacinação contra o coronavírus.
As exportações desaceleraram fortemente, crescendo 4,0%, ante expansão de 14,1% registrada, na mesma base de comparação, no segundo trimestre, refletindo principalmente os efeitos negativos do fim da safra da soja e da crise hídrica.
O expressivo aumento das importações, que alcançou 20,6% devido às compras no exterior de máquinas e equipamentos e plataformas de petróleo, redundou em contribuição negativa do setor externo como um todo para o PIB.
Pelo lado da oferta, houve forte arrefecimento da produção industrial, que apresentou alta de apenas 1,3%, explicada pelos aumentos das tarifas elétricas, provocados pela estiagem, além dos maiores custos das matérias primas importadas, e da escassez de insumos.
O setor serviços, principal segmento produtivo da economia, igualmente mostrou intensa desaceleração, ao expandir-se em 5,8%, com destaque para os serviços prestados às famílias (bares e restaurantes, salões de beleza, academias de ginástica, entre outros), devido ao avanço da vacinação, à redução das restrições de mobilidade urbana e à fraqueza da base de comparação de 2020.
O destaque negativo ficou por conta da agropecuária, que sofreu forte queda, que alcançou a 9,0%, causada fundamentalmente pelos problemas climáticos gerados pela crise hídrica.
Fonte: Diário do Comércio – Imagem: Pixabay