Por Marcelo Gabriel – head do After.Lab jornalismo@novomeio.com.br
Estou voltando de Curitiba, onde participei da AUTOPAR, e como era de se esperar o mercado de reposição é realmente resiliente a crises. Os dados de visitação, o movimento nos estandes, os encontros e reencontros com os amigos e parceiros de negócios são provas cabais de que somos movidos e energizados por pessoas, e o resultado é um ambiente de alegria e ideias para o futuro, que pode ser uma visita na semana seguinte. Que bom fazer parte de um segmento tão dinâmico e aguerrido.
E neste mesmo diapasão do dinamismo vamos apresentar nesta edição do VIES as comparações entre os meses de abril de 2021 e abril de 2022. Como a série histórica completa das pesquisas MAPA e ONDA, que são a base para a construção dos painéis que apresentamos mensalmente, começa em maio de 2020, na próxima edição pretendemos apresentar finalmente a análise comparativa de três anos, com suas idiossincrasias e particularidades.
Gostaria também de destacar que durante a AUTOPAR tive a oportunidade de conversar com um executivo de uma fabricante de autopeças que comentou ter utilizado os dados do VIES em sua Convenção de Vendas, uma prova de que estamos no caminho certo, de que é pela inteligência de mercado que transformaremos os negócios no aftermarket. A construção do VIES é baseada nos dados coletados semanalmente junto a 100 empresários do varejo de autopeças, em todo o Brasil, em uma amostra estratificada em função da distribuição da Frota Circulante em cada região. Os empresários são solicitados a avaliar de forma comparativa, as variações (ou ruptura) no abastecimento, no preço, nas vendas e nas compras, sempre de uma semana em relação à outra, compondo assim a mais completa série histórica de dados sobre a movimentação dos negócios no varejo, o ponto de encontro entre a oferta (fabricantes e distribuidores) e a demanda (oficinas e donos de carro), um estimador fidedigno dos humores do mercado.
A seguir apresentamos as comparações entre cada uma das dimensões pesquisadas, relativas aos meses de abril de 2021 e abril de 2022. Cabe lembrar, como fizemos na edição anterior do Novo Varejo, que em abril de 2021 estávamos vivendo a segunda onda da pandemia. Como referência, a leitura e interpretação dos gráficos apresentados é bastante simples. O círculo vermelho que está nas linhas verticais indica a variação média mensal em cada uma das regiões brasileiras e o agregado Brasil (representado por BR). As linhas horizontais, superior e inferior da linha vertical vermelha, indicam a dispersão dos dados, expressa em desvios padrão. Já a linha horizontal tracejada em azul representa a média do agregado país, e serve como referência para comparação dos desempenhos regionais.
ABASTECIMENTO
A quebra ou ruptura no abastecimento tem sido a reclamação mais constante que escutamos em nossas conversas com os empresários e executivos do setor, e infelizmente a tendência global é que não vejamos uma melhora nos próximos meses em função de diversos fatores, como o aquecimento dos mercados no pós-pandemia, a guerra na Ucrânia, os movimentos da China, dentre outras variáveis que ainda vão influenciar muito a cadeia de suprimentos global. Por outro lado, esta situação pode favorecer os fabricantes locais tanto na venda para o mercado doméstico quanto para a exportação, mesmo com a escassez e o preço alto das matérias primas.
Quando observamos o gráfico comparativo ao abastecimento nos chama a atenção que a média Brasil em abril de 2021 foi de -9,98% em relação às semanas anteriores, e em abril de 2022 foi de -11,86%, uma diferença de 1,87 pontos percentuais, mas que não é estatisticamente significante. A situação é bem diferente em relação à região CentroOeste, cuja diferença entre as médias mensais foi de 7,39 pontos percentuais, e é estatisticamente significante.
Na região Norte a diferença entre as médias mensais foi de 6,05 pontos percentuais, na região Nordeste 2,35 pontos percentuais, na região Sul tivemos uma variação negativa de -1,35 pontos percentuais e na região Sudeste de 1,50 pontos percentuais, mas nenhuma delas estatisticamente significantes. Cabe saber agora como virá o mês de maio e os desdobramentos para o segundo semestre que já se avizinha.
PREÇO
Se tivéssemos que priorizar as dores de cabeça de quem atua no mercado de reposição o páreo entre ruptura no abastecimento e aumento de preços seria duríssimo. Além da escassez de produtos, o mercado sofre ainda com variações contínuas de preços, forçando os agentes comerciais a continuamente reajustarem seus preços para compensar os reajustes dos custos diretos e indiretos.
Analisando o gráfico comparativo das variações de preço entre abril de 2021 e abril de 2022, chama a atenção a variação no agregado Brasil que foi de 2,12 pontos percentuais, assim como a região Norte que apresentou variação de 3,74 pontos percentuais e a região Nordeste com 3,28 pontos percentuais, todos estatisticamente significativos. As regiões Sul e Sudeste também apresentaram variações acima de 2 pontos percentuais (2,97 e 2,25 respectivamente) e foram marginalmente significantes (α = 10%), enquanto a região Centro-Oeste apresentou a menor variação comparativa, com 1,43 pontos percentuais.
Do mesmo modo que o abastecimento ainda vai levar um tempo para se normalizar, não se espera um arrefecimento em relação à variação nos preços pelos mesmos motivos relacionados ao abastecimento. Voltando às conversas com os executivos das indústrias de autopeças com matrizes no exterior, foi unânime o comentário de que seus chefes fora do Brasil estão buscando conhecimento aqui sobre como se comportar em ambientes inflacionários. Sabemos bem como navegar nesses mares bravios.
VENDAS
Pelo menos nesta dimensão temos uma boa notícia vinda do front dos varejos de autopeças. Em todas as regiões se observa um crescimento nas vendas, com algumas regiões como Centro-Oeste, Norte e Sudeste com variações positivas, sendo que no comparativo das médias do agregado país e nas regiões Norte e Sudeste as diferenças são estatisticamente significantes, e marginalmente significante na região Nordeste.
Resta saber se este movimento é duradouro e representa, mais uma vez, a resiliência do setor frente às crises econômicas. A decisão entre a troca do veículo e a manutenção do bem atual tem pendido mais para a manutenção, o que pode explicar o fenômeno, visto que as vendas de novos estão caindo, tanto por falta de veículos quanto pelos preços estratosféricos dos modelos novos.
COMPRA
Em nossas modelagens estatísticas consideramos as Compras como resultante das outras 3 dimensões (abastecimento, preço e vendas), e temos encontrados correlações interessantes quando testamos estas variáveis, tanto no agregado país quanto regionalmente. Caso tenha interesse em conhecer este modelo, estamos à disposição.
De um modo geral, ao analisarmos o gráfico comparativo, encontramos uma melhora nas médias de compra de abril de 2022 em relação a abril de 2021, mas ainda sem significância estatística. Entretanto, chama a atenção a variação na região Norte, fenômeno que merece especial atenção e será objeto de nossas análises futuras.
CONCLUSÃO
A análise dos dados relativos aos meses de abril de 2021 e abril de 2022 e as impressões que obtive durante a feira em Curitiba reforçam a percepção de que o mercado de reposição é resistente a impactos, mas não invencível como os heróis da Marvel ou da DC Comics. Nossos superpoderes estão ligados à capacidade de operar em ambientes complexos e hostis (que o diga a Substituição Tributária), inovar continuamente, não desistir diante das adversidades e, acima de tudo, manter o bom humor e a vontade de vencer, diariamente. Os próximos meses serão importantes balizadores dos próximos anos, principalmente quando pensamos que estamos próximos a uma eleição geral e que a estabilidade global é desafiada diariamente na guerra travada no Leste Europeu, proscênio de um palco mais amplo que a Europa e que pode mudar as relações de poder entre Ocidente e Oriente.
Tenho forte esperança na capacidade de diálogo e entendimento dos líderes globais, para que possamos voltar a nos encontrar como fizemos em Curitiba, com alegria, espírito empreendedor e vontade de vencer os desafios. O calendário futuro de feiras é bastante recheado: Autop (Fortaleza – CE) em agosto, Automechanika (Frankfurt) em setembro, Automechanika (Buenos Aires) em outubro e AAPEX/SEMA Show (Las Vegas) em novembro. Se forem iguais ao que vi na semana passada, teremos razões de sobra para esperar um novo e diferente futuro.
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Fonte: Novo Varejo