Como a Wings está salvando as montadoras brasileiras na crise dos chips

Como a Wings está salvando as montadoras brasileiras na crise dos chips
Central multimídia da Wings: Volkswagen, Toyota e mais dois contratos para serem fechados com montadoras

Após Toyota e VW, fornecedora fechou com mais duas marcas. Ela criou central multimídia que usa gama mais ampla de semicondutores (Bruno de Oliveira, AB)

Uma das alternativas encontradas por parte das montadoras de veículos para mitigar a crise dos chips em suas linhas de produção foi a de oferecer veículos ao mercado sem a central multimídia, um plano que em linhas gerais transfere para fornecedores o papel de provedor de componentes que, antes, eram de série. Dentro deste contexto ganhou força a Wings, a empresa que está ajudando fabricantes brasileiras a pouparem seus semicondutores.

A empresa, sediada em Jaboatão dos Guararapes (PE), de certa forma conseguiu há alguns anos antever o que acabou acontecendo no mercado, no caso, a escassez global de semicondutores. Entre 2017 e 2018, em meio a uma crise envolvendo fornecimento de telas de LCD, a empresa se viu obrigada a executar uma série de modificações em seus produtos de forma a simplificar suas arquiteturas eletrônicas.


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“Como estava faltando tela, resolvemos criar uma central multimídia que pudesse ter em seu hardware a tela que estivesse disponível. Com essa simplificação também tornamos o produto flexível a ponto de ele também ser compatível com qualquer tipo de semicondutor. A crise hoje ocorre porque os componentes dos veículos dependem de modelos específicos de chips para serem produzidos”, disse João Marcelo Barros, fundador da Wings.

Dessa forma, explicou o executivo, a empresa consegue manter seu estoque abastecido ao longo do ano. Isso chamou a atenção das concessionárias, principalmente as associações que representam os distribuidores de veículos. Foi a Abradit, a Associação Brasileira dos Distribuidores Toyota, por exemplo, que intermediou as negociações para que a Wings passasse a fornecer central multimídia para o Corolla.

João Marcelo Barros: “A crise hoje ocorre porque os componentes dos veículos dependem de modelos específicos de chips”

O modelo passou a ser vendido na rede a partir de 1º de setembro com uma nova central multimídia. A escassez de chips levou a montadora a retirar a tela original de 8 polegadas das unidades produzidas em Indaiatuba (SP) para colocar no lugar uma maior, a de 10 polegadas da Wings, que por outro lado não tem os sistemas Apple CarPlay e Google Auto nem os botões físicos como no modelo de fábrica.

A VW, por sua vez, retirou do Fox e das versões de entrada do Polo, do Virtus e do Nivus a central multimídia que os equipavam desde seus lançamentos, uma medida que também foi adotada por outras fabricantes no Exterior.

A Wings também está homologada para ser fornecedora de central multimídia da versão PcD do T-Cross, que não tem o item de série e é oferecido nas concessionárias como acessório.

Segundo João Marcelo Barros, estão para ser fechados mais dois contratos nos mesmos moldes da Toyota, um deles com assinatura prevista para ocorrer até o final do ano. A dinâmica é a seguinte: a associação dos concessionários compartilha a programação de entrega de veículos da montadora, e com base nela a fabricante passa a montar as centrais multimídia em linha operada por cerca de trinta funcionários em esquema CKD – a Wings compra kits desmontados de fornecedores asiáticos de componentes eletrônicos. Há capacidade de montagem de 24 mil centrais multimídia por mês na fábrica, considerando todo o mercado. A Toyota, segundo Barros, representa maior fatia dos pedidos.

Esta simplificação da arquitetura eletrônica dos veículos, aliás, é tema recorrente em discussões envolvendo fabricantes e seus sistemistas. Os chassis no futuro deverão ser mais simples do ponto de vista eletrônico, ou seja, mais funcionalidades sendo controladas por menos unidades de processamento, o que redunda em uma oportunidade de tornar mais flexível a composição de um computador veicular no sentido de absorver um maior número de tipos de semicondutores. A Bosch é uma das empresas que estão debruçadas sobre este tipo de desenvolvimento atualmente (confira aqui).

No âmbito das montadoras, a Stellantis anunciou em julho investimento de € 30 bilhões até 2025 em diversas áreas, principalmente a de software, que também trabalha hoje em dia na simplificação eletrônica de suas plataformas e veículos.

Fonte: Automotive Business

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