A profissão de mecânico não interessa e nem atrai mais os jovens de hoje. Quantas vezes não ouvimos afirmações semelhantes a essa nos eventos ou encontros do Aftermarket Automotivo? O conceito de trabalho como um todo vem passando por profundas transformações não apenas em nosso país, mas no mundo inteiro. No Brasil, temos assistido à precarização dos vínculos empregatícios e a uma nova postura especialmente dos profissionais da geração Z, que não criam raízes, querem ter liberdade de atender a diferentes jobs simultaneamente e, muitas vezes, valorizam mais a qualidade de vida do que o dinheiro.
Os desafios de formação e contratação de mão de obra são crescentes e podem ser confirmados por pesquisas, como os dados que mostraremos a seguir. A escassez de talentos se tornou um problema global no mercado de trabalho. Em um cenário marcado pela digitalização acelerada e diferentes transformações estruturais, muitos profissionais ainda enfrentam dificuldades para atender às crescentes e cada vez mais rígidas exigências de qualificação. Esse foi o foco do novo estudo divulgado pelo ManPowerGroup, que revela que 74% das empresas no mundo têm dificuldades para encontrar funcionários qualificados. No Brasil, esse índice é ainda mais alto: 81% das companhias relatam o mesmo problema. A pesquisa também analisou os setores mais impactados e os fatores que contribuem para essa realidade, indicando que a solução está longe de ser imediata.
Segundo os responsáveis pelo levantamento, transformações digitais e mudanças demográficas estão tornando os cargos mais complexos. Isso dificulta a adaptação dos candidatos, que muitas vezes não conseguem acompanhar o ritmo das novas exigências do mercado.
Embora o Brasil esteja entre os países mais afetados, nações como Alemanha, Israel e Portugal apresentam índices ainda mais elevados, com escassez próxima de 90%. O avanço do problema em território brasileiro é notável: em 2018, apenas 34% das empresas relatavam essa dificuldade. A Pesquisa de Escassez de Talentos 2025 foi realizada com mais de 40 mil empregadores em 42 países e territórios, incluindo 1.050 entrevistas no Brasil. Entre os setores mais prejudicados, automotivo, transporte e logística lideram, com 91% das empresas enfrentando falta de mão de obra qualificada. Finanças, mercado imobiliário, energia e tecnologia da informação (TI) também estão entre os mais afetados.
Geograficamente, São Paulo concentra o maior índice, com 84% das empresas relatando escassez de talentos, seguido por Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além disso, a área de TI e Dados é considerada a mais difícil para contratação, acompanhando a média global.
Apesar do cenário, o estudo apontou estratégias adotadas por algumas empresas para minimizar o problema. Cerca de 40% dos empregadores afirmam investir na capacitação dos próprios colaboradores, enquanto 26% buscam contratar em novos polos.
Em resposta à escassez de talentos e à instabilidade econômica, o modelo de trabalho temporário tem se consolidado no Brasil como uma alternativa. Esse modelo permite que empresas mantenham suas operações e que trabalhadores encontrem uma porta de entrada para o mercado formal Entre abril e junho de 2025, mais de 630 mil vagas temporárias foram abertas no país, crescimento de 5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Além disso, datas comemorativas e setores como indústria, agronegócio e e-commerce aumentam a demanda.
Regulamentado pela Lei 6.019/74, o trabalho temporário garante direitos como salário proporcional, férias e 13º salário, além de oferecer segurança jurídica e redução de custos operacionais para as empresas contratantes. O modelo também contribui para a inclusão no mercado de trabalho, sobretudo entre jovens e pessoas com pouca experiência. Hoje, metade das vagas temporárias é ocupada por mulheres, demonstrando avanços em termos de equidade de gênero.
Com boas perspectivas para o segundo semestre, o trabalho temporário tende a se consolidar como um motor da economia nacional. No cenário atual, essa modalidade pode oferecer às empresas maior flexibilidade e agilidade nos processos de contratação.






Fonte: Mais Automotive