Por Gustavo Queiroz
Em um cenário macroeconômico marcado por juros elevados e custo de crédito asfixiante, o setor automotivo brasileiro registrou recuos generalizados em seus principais indicadores no mês de novembro de 2025. A produção, as vendas domésticas e as exportações apresentaram desempenho negativo, com destaque para uma crise profunda e persistente nos segmentos de veículos pesados. A análise foi detalhada por Igor Calvet, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), durante a coletiva de balanço mensal da entidade.
O mercado de caminhões vive seu momento mais agudo de retração, configurando-se como a principal preocupação do setor. Pelo quarto mês consecutivo, a produção de caminhões registrou queda, com uma média de 26% de recuo mês a mês nesse período. No acumulado de janeiro a novembro, a produção acumula uma retração de 9,3%, resultado muito pior do que a projeção inicial de queda de 3,1% feita pela Anfavea. “Temos reflexos muito severos“, alertou Igor Calvet, ao comentar os dados.
Os emplacamentos acompanham essa tendência devastadora, com queda acumulada de 8,7% no ano. Dentro deste quadro, os pesados – que representam aproximadamente 45% do mercado total de caminhões – foram os mais impactados, com uma queda acumulada de 20% nos licenciamentos. Os caminhões semileves, embora tenham registrado queda ainda mais acentuada (24,5%), têm peso menor no volume total do setor.
Calvet foi enfático ao diagnosticar as causas e apontar soluções: “Os juros asfixiam, os juros param o mercado, os juros impedem que o mercado de caminhões siga adiante“. Ele listou uma série de medidas consideradas urgentes para destravar o segmento: “Nós somos duplamente penalizados com o IOF, nós precisamos de um programa de renovação de frota, nós precisamos ter linhas de crédito atrativas para o consumidor final“. O presidente da Anfavea fez um apelo às autoridades: “Acho que é importante, nesse momento, que as autoridades competentes tenham uma visão muito estratégica para o setor de caminhões. Nós precisamos sim ter algum alento para o mercado, ainda esse ano, no começo do próximo ano, para que 2026 seja um ano melhor“.
O segmento de ônibus também não escapou da forte desaceleração. A produção em novembro foi de apenas 1.300 unidades, o resultado mais baixo desde dezembro de 2023 e, de acordo com Calvet, “o pior novembro desde 2015“, configurando o pior desempenho para o mês nos últimos dez anos. No acumulado do ano, o crescimento da produção de ônibus, que estava em 10,8% até outubro, desacelerou para 5,5%.
Igor Calvet atribuiu esse resultado a dois fatores principais, incluindo o ambiente macroeconômico “absolutamente desfavorável, com juros elevadíssimos” e a “demora no novo pregão do Caminho da Escola, que é um gerador de volume importante para o mercado de ônibus brasileiro“. Essa combinação forçou as montadoras a realizarem um “ajuste de produção para adequação desses estoques e o enquadramento dos volumes de acordo com a demanda atual“.
Apesar de não apresentarem uma crise da mesma magnitude dos pesados, os veículos leves (automóveis e comerciais leves) também sentiram o arrefecimento da atividade. A produção total de autos em novembro foi de 219,1 mil unidades, representando uma queda de 11,6% em relação a outubro – impacto parcialmente atribuído a quatro dias úteis a menos no mês – e um recuo de 8,2% na comparação com novembro de 2024. No acumulado do ano, a produção ainda mantém crescimento de 4,1%, mas este ritmo está bem abaixo da projeção inicial da Anfavea, que era de 7,8%.
As vendas domésticas (emplacamentos) totais somaram 238,6 mil unidades em novembro, com queda de 8,5% frente a outubro e de 5,9% na comparação anual. A média diária de 12,6 mil veículos foi a melhor do ano, mas ainda assim inferior à registrada em novembro de 2024. No acumulado de janeiro a novembro, o crescimento das vendas é de apenas 1,4%, muito aquém da projeção de 5% para o ano inteiro. “Os emplacamentos também arrefeceram. Nós continuamos com um número positivo, mas ele vem desacelerando“, observou Calvet.
Os veículos importados apresentaram um movimento contraditório, pois enquanto as importações cresceram, as vendas caíram 10% em novembro. Essa dinâmica resultou em um aumento expressivo dos estoques de importados, que saltaram de 130 para 153 dias, equivalente a cinco meses de consumo. No acumulado do ano, a China consolidou-se como a maior origem dos veículos importados, superando a Argentina a partir de julho, e hoje responde por cerca de 37% das importações.
As exportações de veículos montados também tiveram um mês negativo, com queda de 12% em novembro, totalizando 35,7 mil unidades. O principal motivo foi um “arrefecimento” de aproximadamente 20% nas vendas para a Argentina, que mesmo assim se mantém como o principal destino, responsável por 58% do total exportado no ano. Em contrapartida, as vendas para a Colômbia apresentaram um crescimento extraordinário de 334% após a retomada do acordo comercial entre os dois países. No acumulado, as exportações permanecem como um ponto positivo, com alta de 37,9%.
Fonte: Frota&Cia

































