Por Gustavo Queiroz
O desempenho do setor automotivo brasileiro no mês de agosto revelou um cenário de contrastes, com a performance robusta das exportações atuando como principal suporte para a produção industrial, enquanto o mercado interno demonstra sinais de estabilidade, porém com nuances preocupantes em segmentos específicos.
O parque industrial automotivo nacional registrou a fabricação de 247 mil unidades no período, representando uma ligeira expansão de 3% frente a julho, mas um recuo de 4,8% na comparação com agosto de 2024. No acumulado do ano (janeiro a agosto), a produção totalizou 1,743 milhão de autoveículos, mantendo um crescimento de 6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Este resultado foi sustentado principalmente pela capacidade industrial voltada para o mercado externo, que opera em ritmo distinto do observado para o abastecimento do mercado doméstico. O segmento de exportações foi o grande protagonista de agosto. As vendas externas totalizaram 57,1 mil unidades, alcançando o melhor patamar mensal desde junho de 2018. Este volume representa um crescimento significativo de 19,3% sobre o mês anterior e uma expansão robusta de 49,3% na comparação anual.
O desempenho acumulado no ano segue igualmente forte, com 378,2 mil unidades exportadas, uma alta de 55,9% ante 2024. A Argentina consolidou-se como o destino principal, respondendo por 59% de todos os embarques no ano, um reflexo direto da retomada econômica e das políticas comerciais favoráveis entre os países. Outros mercados também contribuíram positivamente: Colômbia (+43,6%) e Chile (+47,9%). Em contrapartida, destinos como México (-17,1%) e Uruguai (-10%) apresentaram retração.
Comerciais Leves
O segmento de comerciais leves, que inclui furgões, vans e picapes de até 3,5 toneladas, apresentou um quadro de relativa estabilidade. A produção do mês foi de 40,1 mil unidades, registrando uma pequena contração de 1,3% frente a julho e uma queda mais acentuada de 21,2% na comparação com agosto de 2024. No acumulado do ano, contudo, a produção permanece em território positivo, com 322,4 mil unidades fabricadas, um crescimento de 5% em relação a 2024.
As vendas domésticas deste segmento totalizaram 42,4 mil unidades em agosto, com retração de 12,4% mensal e de 19,1% anual. O acumulado de janeiro a agosto soma 344,6 mil emplacamentos, alta de 4,1%.
Caminhões
O segmento de caminhões emerge como o ponto de maior atenção e preocupação. Pela primeira vez em 2025, a produção acumulada apresentou queda, recuando 1% na comparação com o mesmo período do ano anterior, fechando os oito primeiros meses com 88,5 mil unidades fabricadas.
O mercado interno já sinalizava perda de fôlego. As vendas de caminhões em agosto somaram 8,9 mil unidades, o que representa uma expressiva contração de 15,9% em relação a julho e de 22,6% na comparação com agosto do ano passado. O acumulado anual também entrou em terreno negativo, com 74,3 mil unidades licenciadas, uma queda de 6,7% frente a 2024. Este desempenho reflete diretamente os desafios macroeconômicos, como os elevados juros e o aumento da inadimplência, que impactam investimentos em frota.
Ônibus
Em contraste, o segmento de ônibus apresentou desempenho positivo, embora volátil. A produção em agosto foi de 2,6 mil chassis, com queda de 16,3% sobre julho, mas com forte alta de 20,9% sobre agosto de 2024. No acumulado do ano, a produção totaliza 21,2 mil unidades, um crescimento sólido de 11,7%.
As vendas domésticas seguiram a mesma tendência de alta anual. Foram 1,7 mil unidades emplacadas em agosto, um crescimento de 19,3% em relação ao mês anterior e de 49,3% na comparação anual. O acumulado de janeiro a agosto soma 15,7 mil unidades, uma expansão de 14,4%.
Cenário
O panorama de agosto de 2025 delineia um setor em transição. As exportações, impulsionadas principalmente pela demanda argentina, atuam como um pilar essencial para a manutenção dos níveis de atividade industrial.
Internamente, o cenário é mais desafiador. A performance dos comerciais leves mostra resiliência, mas o segmento de caminhões dá sinais claros de desaceleração, sensível aos ventos contrários da economia. O segmento de ônibus, por sua vez, vive uma trajetória de crescimento, beneficiado por encomendas públicas e renovação de frotas.
A evolução desses segmentos no último quadrimestre do ano dependerá crucialmente da trajetória dos indicadores macroeconômicos, do custo do crédito e da confiança dos investidores em ampliar suas frotas.
Fonte: Frota&Cia