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Ancorado em conjuntura favorável, varejo começa 2024 com o pé direito

05/04/2024

Depois de um 2023 marcado por crises de grandes empresas e um crescimento modesto de 1,7%, o setor de varejo brasileiro começou o calendário atual surpreendendo positivamente. Com um avanço de 2,5% em janeiro na comparação com o mês anterior, não apenas superou largamente a expectativa de expansão de apenas 0,2% projetada pelo mercado para o enquadramento, como o fez em um período que é, em geral, desfavorável, já que os números de dezembro são historicamente inflados por ocasiões como o Natal e os eventos de ‘amigo secreto’. Como resultado, o setor varejista opera hoje em 5,7% acima do patamar pré-pandemia e em apenas 0,8% abaixo de seu nível recorde, registrado em outubro de 2020. De acordo com os analistas econômicos, o momento de alta – embora surpreenda pela intensidade – encontra razões consistentes na conjuntura econômica nacional.

 Atualmente com taxa de desocupação média de 7,4%, o país tem sua menor marca para o quesito desde 2014, fator que, somado ao curso da diminuição da taxa básica de juros, atualmente em 10,75%, traz um ciclo favorável ao consumo somando o maior poder de compra das famílias a melhores condições de aquisição de crédito e parcelamento. Junto desses dois fatores, analistas de casas como a Genial Investimentos afirmam que a forte recuperação do varejo ainda está intimamente atrelada aos impactos do ‘Desenrola Brasil’, programa do Governo Federal que negociou mais de R$ 35 bilhões em dívidas dos cidadãos. Para além do cruzamento dos números gerais com os indicadores promissores da economia do país, o desempenho do mercado de consumo brasileiro anima por uma espécie de homogeneidade em que se apresenta. Se considerarmos o varejo ampliado como uma categoria por ela mesma, o último levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) registrou que seis dos nove segmentos varejistas mapeados avançaram no primeiro mês de 2024.

Quando isolamos apenas os números do varejo amplia do, categoria que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, a alta no volume de vendas foi de 2,4%, número praticamente idêntico ao registrado pela soma dos nichos do varejo restrito.

Outro ponto importante de se notar é que, depois de ser, segundo o gerente da Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE, Cristiano Santos, o principal motor do varejo ampliado em 2023, o segmento de veículos, motos, partes e peças seguiu sendo o carro-chefe do enquadramento da pesquisa em janeiro apresentando uma alta de 2,8%. Para apreender uma perspectiva dos resultados mais res trita ao varejo de autopeças, convidamos os presidentes dos Sincopeças de São Paulo e Rio Grande do Sul, respectivamente Heber Carvalho e Marco Antônio Vieira Machado, para a comentar os números com exclusividade. Além de analisar os índices em si, os dirigentes apontaram ainda ações do aftermarket que podem impulsionar o setor para além da dinâmica conjuntural, bem como desafios regionais e nacionais que merecem atenção tanto das entidades quanto dos gestores e empreendedores do comércio de autopeças. Confira a análise a seguir.

O varejo, como um todo, tem mostrado boa recuperação neste 1º trimestre do ano. Vocês também têm observado essa melhora quando falamos do varejo de autopeças?

Heber Carvalho – O varejo de autopeças também acompanha a evolução dos outros setores, com uma evolução progressiva abaixo da expectativa. No entanto, de maneira geral, com o investimento de grandes grupos econômicos no setor, nosso mercado está fortalecido.

Marco Machado – O setor de autopeças tem uma característica diferenciada. Entre 2011 e 2014, houve um pico de vendas de veículos novos. A frota que está rodando vem envelhecendo sistematicamente. Por outro lado, a reposição independente de autopeças e motopeças é resiliente.

Aquele empreendimento que é competente, adaptativo, que vem se modernizando, tanto em estoque e oferta de produtos, quanto em ferramentas de gestão, marketing e comunicação, consegue sustentar suas vendas. Mas ainda há um espaço gigantesco de melhora. Existem obstáculos em nosso setor, entre eles: tributação complexa e arcaica, que não incentiva a exportação para fora do estado e complicadores tributários, que geram custos adicionais. Temos a questão da mão de obra, não só em termos de qualidade, mas também de quantidade. A mão de obra está envelhecendo e há muita dificuldade de captação de jovens com a qualificação exigida para o mercado, por conta da tecnologia que anda a passos largos. O Sincopeças-RS atua nestas duas frentes, na luta por melhores condições tributárias, acompanhando e apoiando as ações da Fecomércio-RS; e na questão da mão de obra, exemplo disso, a promoção do curso “Vendedor de Autopeças”, em duas regiões do Estado.

A redução dos juros e o consequente barateamento do crédito tende a contribuir para o aftermarket como um todo, como o tem feito para o varejo de modo geral?

Heber Carvalho – Claro que sim. A diminuição de juros sempre ajuda o setor varejista de autopeças, haja vista que o segmento tem algumas características diferenciadas do varejo em geral. Por exemplo, o giro das peças nem sempre acontece dentro do tempo esperado. Justamente por isso, as empresas do comércio de autopeças, com apoio do Sincopeças, têm procurado se adequar às novas modalidades de vendas, principalmente pela internet. Nesse aspecto, temos buscado sempre estar ao lado dos empresários e de seus colaboradores, oferecendo cursos, treinamentos e orientação para o sucesso empresarial, como aconteceu recentemente com o Programa Loja Legal de capacitação, realizado em parceria com o Sebrae, bem como com a criação da Norma ABNT para Qualificação do Profissional Vendedor de Autopeças, e a Certificação Profissional que é realizada pelo IQA, todas ações que visam a promover o desenvolvimento do setor em seus aspectos gerenciais e profissionais.

Marco Machado – Embora possa existir uma redução em juros e barateamento de crédito, o consumidor gaúcho, no geral, está mais cuidadoso na hora de efetivar novas aquisições, por conta do endividamento e consequente inadimplência. O percentual de famílias gaúchas endividadas é de 89,1%. Ainda conforme o PEIC-RS, destas, 27,3% afirmaram estar muito endividadas, percentual que estava em 22,6% no mesmo mês do ano passado. Este dado resulta em mais cautela na hora de fazer nova dívida. A Fecomércio-RS divulgou os resultados da edição de fevereiro de 2024 da Pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias Gaúchas (ICF-RS), da CNC. Embora a perspectiva de consumo tenha aumentado em 3,7% (quarta alta consecutiva), o acesso ao crédito teve baixa de -5,4%, renovando os índices de queda.

Fonte: Novo Varejo

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