Na 1ª parte das histórias da FNM, vamos conhecer os novos caminhões elétricos e as soluções logísticas da marca que está voltando ao mercado (Por Paulo Braga*)
Vamos contar, em três capítulos, as histórias relacionadas à FNM (FeNeMe), que incluem sucessivamente a fabricação de motores para aviões, a montagem de caminhões diesel e, recentemente, a constituição da FNM – Fábrica Nacional de Mobilidades S.A., que iniciará a produção de veículos elétricos. A empresa possui carteira de pré-pedidos expressiva para a montagem de veículos elétricos de alta tecnologia, com fábrica na Agrale, em Caxias do Sul (RS). Começamos este artigo com os fatos atuais, falando sobre a FNM Elétricos. Voltaremos depois no tempo para tratar da FeNeMe, com base em seus caminhões a diesel. E, num terceiro capítulo, falaremos da produção de aviões no Brasil com motores feitos na fábrica da FNM, em Duque de Caxias (RJ).
A FNM – Fábrica Nacional de Mobilidades S.A. é uma startup de veículos elétricos e conectados e seus investidores estão à frente da produção inicial de caminhões de PBT (peso bruto total) de 18 toneladas e de outros veículos. O modelo de negócios da empresa alterou o tradicional esquema de operação das montadoras de veículos com motor diesel, conforme ela mesma explica: “Não vendemos caminhões, mas sim soluções logísticas com performance operacional e TCO (custo total operacional) positivo”.
As pré-vendas já estão acontecendo e, segundo a FNM, o interesse pelo produto é surpreendente. Os sócios explicam que a nova empresa pensa diferente do mercado e entrega uma logística segura, silenciosa e conectada, e que traz economia para os seus clientes. Assim, a FNM renasce oitenta anos depois – completamente silenciosa, limpa e com o propósito de fazer acontecer o novo ecossistema da mobilidade elétrica.
A FNM opera com sete fabricantes de baterias – além da Octillion – e cinco fabricantes de motores – além da Danfoss – de forma que a empresa define com os clientes, em parceria, as melhores tecnologias e performances, em uma operação na qual todos os custos são apresentados de forma transparente, sem intermediários e garantindo o melhor custo para a perfeita operação logística.
Para isso acontecer, é realizado um anteprojeto para cada cliente, no qual são definidas as necessidades de cada empreendimento. Os caminhões FNM podem ter autonomia de até 700 km. “Nosso modelo de negócio é baseado em contratos de pré-venda, com pré-pagamento e planilha aberta, explicam Marco Aurélio Rozo, Celso Santos e Ricardo Machado, diretores e fundadores da FNM.
“Quem pensa que a meta é ousada, precisa conhecer as tecnologias aplicadas nos caminhões FNM e entender que as políticas de zero poluição do ar são a meta de governos e de empresas internacionais, pois a inovação no setor de transportes, na busca por um mundo livre de carbono, não é mais uma opção, é uma exigência das empresas ESG (em inglês, sigla para a jornada do meio ambiente, social e governança), nas quais esta nova abordagem, sustentável e colaborativa entre startups e empresas de tecnologias de ponta, já trouxe o futuro para o presente”, dizem seus diretores.
“Estamos mudando as regras, evoluindo de imediato para reduzir o uso do diesel em transportes no Brasil. Isso começou no estado do Rio Grande do Sul, que vai virar a ‘Califórnia brasileira’. Não é mais conversa de futuro, é a nossa realidade de agora!”, assegura Ricardo Machado.
Para os três sócios, os novos modelos de negócios estão provocando transformações na mobilidade em escala global e as empresas brasileiras decidiram utilizar os veículos elétricos da FNM, que estão sendo homologados no momento. A produção dos veículos elétricos da marca é desenvolvida em parceria com a Agrale desde o final de 2019. Uma boa parte dos componentes dos veículos, incluindo motores, baterias e componentes eletrônicos é importada dos Estados Unidos e vários fornecedores já se alinharam para produzir seus produtos no Brasil, tendo em vista a expressiva demanda ocorrida.
Existe um paralelo interessante entre os estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul e as cidades de Duque de Caxias (onde nasceu a FNM) e de Caxias do Sul (onde fica a Agrale), que passou a fazer parte do ecossistema de veículos elétricos em 2019, quando a Agrale decidiu unir a sua experiência na produção de caminhões com as tecnologias de mobilidade elétrica da FNM.
Naquele ano, os irmãos e empresários gaúchos Zeca Martins e Alberto Martins e seu pai José Antonio Fernandes Martins (sócios da holding proprietária da FNM) atraíram a unidade industrial da empresa para Caxias do Sul, firmando um contrato de parceria e desenvolvimento com a Agrale S.A., fundada em 1962 por Francisco Stédile e atualmente presidida por Hugo Domingos Zattera. Hoje ela possui três plantas fabris, uma delas com capacidade para produzir mais de 200 caminhões/dia.
ACORDO COM A AMBEV
A FNM já fechou acordo com a AmBev para fornecer 1 mil caminhões, cujas pré-séries entraram em fase final de homologação em junho no Centro Tecnológico Randon (CTR) na Serra Gaúcha, em Farroupilha.
Em 2008 a empresa Obvio!, carioca e do ramo de mobilidade, adquiriu junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) os direitos para reviver a marca original FNM e criou a Fábrica Nacional de Mobilidades S.A., empresa voltada para soluções em mobilidade de alta tecnologia, com projetos de caminhões de 10, 14, 18 e 23 toneladas, todos 100% elétricos e com zero emissão. A Obvio! já havia realizado projetos de engenharia e de tecnologias com a Lotus Engineering, da Inglaterra, que fabricou os primeiros veículos elétricos da Tesla.
A empresa já conta com um pipeline de 21 mil pedidos de caminhões. O início da operação de desenvolvimento começou em agosto de 2020, com a preparação e montagem dos dois primeiros veículos, que já trazem o logotipo Budweiser em destaque.
A FNM explica que desenvolve também o sistema RePower, para transformar veículos com motores diesel para elétricos, oferecendo a oportunidade da logística sem poluentes, silenciosa, segura, sustentável e sem emissão de carbono.
A fábrica da FNM para a produção dos caminhões elétricos está localizada dentro de área exclusiva nas instalações da Fábrica 2 da Agrale. A Agrale informa que está focada na modernidade da logística e do transporte limpo e já desenvolveu seus caminhões e ônibus movidos a gás metano, GNV e GNL. E agora, com a parceria da FNM, pretende produzir caminhões, ônibus e tratores elétricos com tecnologias internacionais de ponta.
Os novos FNM ostentam uma cabine de aspecto vintage, em uma releitura contemporânea dos antigos FeNeMê fabricados nos anos 60. A FNM determina a necessidade específica de cada logística e de seu baú de cargas, que já vem junto com os caminhões.
Sem concessionárias, a assistência técnica da marca também será diferente. Como os caminhões da FNM estarão todos online com a fábrica, quando for necessário a assistência técnica da fabricante irá até o caminhão para resolver os problemas, direto nas garagens dos frotistas e utilizando a infraestrutura das revendas da Agrale.
A operação da FNM prevê a exportação em breve de seus caminhões em regime de SKD – parcialmente desmontado – ou CKD – completamente desmontado – e já está finalizando negociações para abertura com sócios locais de microfábricas no Mexico, Estados Unidos, Portugal, Inglaterra e Alemanha.
A FNM se espelha com o mesmo processo realizado pela Marcopolo nos anos 70, quando passou a abrir fábricas em diversos países e alavancou o Estado do Rio Grande do Sul, transformando a cidade de Caxias do Sul em um inovador polo metalmecânico, em um movimento diferenciado e único, que foi idealizado e capitaneado por José Antonio Fernandes Martins, que saiu do conselho da Marcopolo e agora é conselheiro e investidor da FNM. Aos 88 anos, ele é completamente focado e apaixonado pelos produtos inovadores que estão sendo fabricados, juntamente com as operações da Agrale e da Randon.
SMART TRUCKS
A FNM define seus produtos como smart-trucks, pois utilizam tecnologias internacionais de ponta, com monitores internos na cabine ligados com a tecnologia da informação operacional e com os sistemas de logística das empresas, incluindo monitoramento, soluções inovadoras de vídeo-telemática de câmeras anticolisão com inteligência artificial.
Além disso os caminhões possuem sistema de aviso de mudança de pista, alerta de partida de veículos à frente, alerta de motorista fumando e distraído, acelerômetro, avanço de sinal de trânsito vermelho, aviso de distância mínima dos veículos no trânsito, aviso de riscos de colisão, para-choques virtuais, um telão de alta resolução na traseira, que pode transmitir imagem da câmera da frente ou anúncios, com reconhecimento de sinais de tráfego, aviso de perigo de colisão com motocicletas e bicicletas e quatro câmeras – duas laterais, na dianteira e na traseira. Todas as informações geradas são transmitidas em tempo real para o centro de gestão dos frotistas e para a “nuvem FNM”.
*Paulo Braga é jornalista, sócio fundador de Automotive Business
Fonte: Automotive Business